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‘Coidado’ é pronúncia correta? Aceita, entendemos que existem várias fonologias

Cuidado se torna coidado; restaurante, restorante; acumulada, acomoloda (ou comolada).  A pronúncia de alguns vocábulos capenga. Você fala ‘estrupo‘?

Por que isso acontece? Com base na etimologia e filologia, e, talvez, sob o amparo da neurolinguística, analisa-se que três seriam os fatores básicos: 1. a má pronúncia do apedeuta, que, sem instrução e conhecimento gramatical, pronuncia palavras de forma bizarra – facon, iogute, arrecardar; 2. desleixo natural de alguns – pirigo, previlégio, restorante; 3. influência do brasileirismo ou regionalismo – coitado motivaria a pronúncia ‘coidado’, e outras: melencia, jinela, tramela (taramela), tataravô (tetravô) etc.

Deve-se respeitar a liberdade no falar, mas o descuido, associado ao sotaque de cada um, pode gerar uma fonologia não-registrada no dicionário. A ênfase transforma que em ‘qui’, chover passa a ser ‘chuver’. A variante fonética induz o incauto a admitir que existam as grafias ‘muqueca’ e ‘muchila’. Analisa-se, com cautela, a coloquialidade ‘Cuma é qui ocê diz isto?’

Todo vocábulo, como preceitua a Gramática, tem sua grafia, prosódia e semântica. Nem sempre, esses itens são seguidos na linguagem coloquial. Stress, do Inglês, dá-nos ‘estresse’, por isso as palavras cognatas aportuguesadas estressar, estressado, estressante, não cabendo mais que alguém pronuncie ‘stréz’ nem como sotaque regionalista; alguns a usam denotando exibicionismo, haja vista que falam ‘mácsimo’, no lugar de ‘mássimo’, que se escreve ‘máximo’. Nossa educação linguística é falha: há quem demonstre a honra de desobedecer à determinação gramatical. E tascam: A boca é minha, eu falo como eu ‘querer’.

A Fonologia, parte da Gramática que estuda os sons isolados (Fonética) ou combinados na pronúncia (prosódia, ortoepia) e na escrita (ortografia), cercada de tantas variedades fônicas, dispersa-se. Está associada à Semiótica ou Semiologia, parte da Etimologia que estuda os signos linguísticos.

Quedar-me-ei (mudo) se renomado especialista da Língua Portuguesa vier a dizer que este comentário tem sentido em parte, pois há ‘pronúncias’ permitidas para certos vocábulos em todo o Brasil. Mas respeitada a individualidade, há desatenção à Gramática Normativa.

Enxorrada, fécha (a porta), ióga (iôga), pôblema ou pôbrema, dois jôgo, renda éxtra, récorde, pertubar, previlégio ou prevelégio, o puder (f…der), Van Góhg. A relação é grande. Bem-vinda a coautoria do internauta.

Sob a ótica da metáfora, a Fonética está fragmentada, rachada. Existem as variantes ‘colmeia’ (vogal tônica fechada) e ‘colméia’ (v. t. aberta). Com a reforma ortográfica, colmeia perde o acento agudo, e passa a existir apenas uma grafia. Pode haver duas pronúncias? Amparado pela mudança na regra de acentuação gráfica, o aprendiz teria dúvida em pronunciar ‘assembleia’? Surgiria a pronúncia com a vogal tônica fechada? E ‘joia’? Correta a pronúncia de ‘estreia’, que não tem mais o acento agudo, o aprendiz ficaria em dúvida quanto à pronúncia de ‘baleia, Eritreia (país africano, cujo habitante é eritreu, feminino eritreia), alcateia, apneia, azaleia, diarreia, odisseia? Alguém iria entender que ‘filisteia’, de pronúncia aberta, é feminino de ‘filisteu’, membro do povo semita que habitou a antiga Palestina? Essas questões não constituem exagero deste colunista. Separem-se as fechadas (baleia, bateia) das abertas (Eritreia, alcateia).

E agora? As palavras de pronúncia fechada serão confundidas com as de pronúncia aberta? Aldeia, boleia; baleia, ideia. Comparem-se as formas verbais: aparteia, semeia, presenteia, grampeia, nomeia. Seria por isso que alguém usa “Grampie aí meu jogo” no lugar de ‘grampeie’? E a piada de o doente idoso dever alimentar-se de aveia e pensar outra coisa. O ‘véio’, que não é um veio (tendência), ficou de olho na ‘véia’ ao invés de seguir ‘a veia médica’.

‘Custo de colher’ e ‘Custo da colher’. A escrita é a mesma. Exatamente, por isso. O acento diacrítico deve ser usado – colhêr (verbo) e colher (talher). Pôr (verbo); por (preposição). Vou pôr o livro aqui. Vou por aqui (vou passar por este lugar). Isso é para você. Ele não pára no lugar certo.

A reforma aboliu o sinal gráfico, mas criou a dúvida. Vale o contexto, mas o menos informado não busca esse viés.

A palavra ‘Guiana’, escrita antes com trema – Güiana -, tem dígrafo – gui, similar à pronuncia de gui-a, gui-a-do, gui-ar. A pronúncia ‘gu-ia-na’ é adequada? O saudoso professor mineiro Aires da Mata Machado Filho, em sua obra Dicionário Ilustrado Urupês (1968), (grandioso na época, insuficiente para a hodiernidade?), registra no volume II, p. 594, a grafia com trema. Professor, como você pronunciou: Rorãima ou Roráima? A grafia câimbra (cãibra) não imitaria a pronúncia ‘Coimbra’, cidade portuguesa?

Texto jurídico argumenta que o preso deve ser arguído. O verbo ar-güir (üi, ditongo crescente) dá o particípio argüido (três sílabas), não quatro, por não existir ‘ar-gu-í-do’. Mesmo com a grafia arguido (sem trema), há quem mantenha ar-gu-í-do, que nunca existiu. O verbo adquirir (dígrafo qui), com a mesma pronúncia de ‘aqui’, nunca teve trema, mas muitos mantêm adqüirir e adqürido.

Valha-me, Deus!

Teixeira de Freitas, BA, 05 de fevereiro de 2017.

João Carlos de Oliveira

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