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Tudo em 5 parcelas – Tudo até 5 parcelas – Tudo em até 5 parcelas. Qual dessas acata a Gramática?

Os comerciais costumam inovar, mas, costumeiramente, desobedecem à norma gramatical.

A chamada para vender à vista ou a prazo é bastante apelativa. Usam-se todos os meios para chamar a atenção da clientela. Tantas as opções, que o freguês tem dúvida. A oferta pode ser boa, a linguagem nem tanto. O comerciante está ciente de que o tempo da barganha ou do escambo já passou, portanto, deve ter cuidado com os enunciados propagandísticos.

A venda parcelada pode facilitar a aquisição do produto e, supostamente, aumenta o volume de negociações. Uma parcela, duas, três… Qual a forma  mais interessante? Cada um vê de uma forma.

No momento em que a empresa escreve a sua mensagem ou a divulga no seu alto-falante, às vezes, inoportuno, surge a má linguagem. Se alguém está cometendo deslize gramatical, também não estaria praticando propaganda enganosa? O erro gramatical induziria o cliente a pensar de modo indevido?

Certo é que muitos erros de Português há.

Tudo em 5 parcelas – o valor do(s) produto(s) será parcelado em 5 vezes (talvez, sem nenhum acréscimo). O enunciado está correto.

Tudo até 5 parcelas – se o cliente não pagar à vista (parcela única), devendo receber um desconto ‘apetitoso’, pagará parcelado: duas, três… até 5 vezes, conforme sua escolha. A linguagem está correta e não há nebulosidade que venha a interferir no negócio.

Tudo em até 5 parcelas – linguagem duvidosa e desnecessária. O que ‘em até’? Certamente, não há oferta à vista; sabe-se que é a prazo e parcelado. Uma entrada e mais quatro? E essa não seria a mesma forma anterior? O certo é que o uso das duas preposições (em, até), ao mesmo tempo, gera uma linguagem obtusa – que não é clara, ou o vendedor tenha que ‘dobrar a língua’ e explicar, muito bem, ao cliente o que é vender ‘em até 5 (10, 12…) parcelas’. Perde-se muito tempo com detalhes supérfluos, e o comércio perde.

Tudo deve estar claro: uma parcela, duas, três, sem esse tal de ‘em até 12 vezes‘. O momento é oportuno para o colunista dizer que não existe a expressão ‘preço de à vista’: vende-se à vista ou a prazo. Se ‘preço de à vista‘ fosse correto, companheiro, você diria: preço de a prazo! Não é pergunta; é afirmação. Como não usa a segunda, não use a primeira. Existe ‘preço de fábrica’, como ‘preço a varejo’.

À vista – com crase por haver palavra feminina (vista); a prazo – sem crase por haver palavra masculina (prazo). Venda a varejo, venda à vista.

Outro erro muito comum na mensagem comercial é o fato de o anúncio estar ora no singular, ora no plural. As duas opções no mesmo anúncio não cabem.

“É isso aí, minha gente! Comprem barato!” Se o vocativo (minha gente) está no singular, o verbo ao qual se refere, conforme a coerência gramatical, deve estar no mesmo patamar de concordância; no entanto, aparece no plural (comprem). Isso constitui erro de concordância verbal. Singular: É isso aí, minha gente! Compre barato. Plural: É isso aí, senhores (senhoras)! Comprem barato!

‘Venham comemorar conosco e ganhe um brinde’. Em se tratando de mensagem apelativa, nesse caso, um chamado comercial, o cuidado é dirigir-se individualmente a cada consumidor, para dar ênfase ao que se diz: Venha (você) comemorar conosco a nossa inauguração e ganhe um brinde.

Não poderia a mensagem estar no plural? Poder pode, mas a mensagem diretamente no plural seria como se dirigir a todos ao mesmo tempo, e cada um admitir: ‘se falam para todos, e eu estou aqui, logo, se referem a mim também’. Isso parece complicado.

São muitas as mensagens enviesadas. Esta começa no plural e termina no singular: ‘Adquiram seu ingresso. Compareça’. Esta começa no singular e termina no plural: ‘Venha fazer a festa conosco e ganhem um brinde’.

Não somente o anúncio comercial comete esse lapso. Trecho de notícia policial sobre acidente no trânsito: “O casal seguia em uma moto quando colidiram com um veículo Strada”. Se o casal ‘seguia’, o casal ‘colidiu’; colidiram, no plural, desobedece à norma gramatical, havendo erro de concordância verbal chamado ‘solecismo’.

Evite que sua linguagem tenha redundância enjoativa. “Tipo assim. Aí, eu peguei… Falei com ele… tipo assim. Você não pode fazer isso comigo. Aí, eu peguei… e falei com ele… Seu idiota, você só bate em mulher”.

Evite usar ‘ele, ela, eles, elas’ logo após o sujeito de sua primeira frase. Esse tem sido hábito de orador empolgado: “O governo… ele… não tem respeito pelo povo”. “A professora de meu filho… ela… agrediu ele na sala de aula”. “As pessoas… elas… pensam que nós ‘somo idiota’.

Os pronomes retos são substitutos dos nomes de pessoas e coisas: “Vítor é bom aluno. Ele sempre está com seu dever em dia”.

Não use: “Vítor… ele… é bom aluno, está sempre com seu dever em dia”.

Teixeira de Freitas, 09 de fevereiro de 2017.

João Carlos de Oliveira

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