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‘De eu – de mim, para eu – para mim, entre eu – entre mim, contra eu – contra mim’. Atenção! Nenhuma é incorreta

O mundo linguístico explica que ‘de eu‘ é linguagem correta: o enunciado contém ‘eu’ precedido de preposição e em seguida um verbo: Esta é a hora de eu partir! Fica claro que o oblíquo ‘mim’ não pode ser usado.

Na coloquialidade, há quem use ‘Está na hora de mim ir’. E, de forma contrária, o mesmo linguajar prefere ‘eu’: Ele falou d’eu’. ‘Você está mangando d’eu’.

A regra esclarece: se há verbo, ‘eu’ é obrigatório por ser pronome-sujeito, mesmo precedido de preposição (Pediu para eu ir com ele). Se o enunciado não contém verbo e há preposição, o suposto ‘eu’ dá lugar ao oblíquo ‘mim’: Ele fala de mim (Fala ‘para mim, por mim, contra mim’ etc.).

Outros exemplos em que o uso de ‘eu’ se torna obrigatório: Este o momento de eu ir trabalhar. Pelo fato de eu ser maior de 70 anos, não sou obrigado a votar. (‘Eu’ tem a mesma função de ‘você, ele, nós’ em enunciados similares: Está na hora de você ir. Pelo fato de ele ser empresário, só viaja de avião. No momento de nós sairmos, chovia muito.)

De eu‘, portanto, conforme essa redação, está correto. Não havendo verbo em seguida, o pronome oblíquo da primeira pessoa do singular é obrigatório – Falou mal de mim, não gosta de mim, não presta atenção a mim.

A preposição ‘de‘ pode dar lugar a outras (respeitada a mesma regra): O professor pediu para eu ler o livro. ‘Pediu para mim ler’ não condiz com a regra, pois ‘mim’ não pratica ação. ‘Mim’ não faz nada.

‘Manuel, este livro é para você’. – ‘Para mim, professor?’ Manuel, cuidadoso com o idioma pátrio, jamais usaria ‘Para mim ler, professor?’

Continuemos.

Entre eu ir e ficar, prefiro dormir. Mas: Manuel está entre mim e você. Nunca use ‘Ele está entre eu e você’.

‘Ela é contra eu fazer novo curso superior’ (embora pareça construção inusitada e pouco atraente). Mas: ‘Ela é contra mim em tudo’.

‘Meu colega ficou espantado por eu ter feito acordo com o réu’. ‘Admiram-me por eu fazer vestibular aos 70 anos’. Mas: ‘Espere por mim‘.

A Gramática ensina-nos que ‘a preposição’ tem a função básica de ligar palavras – copo de leite, garrafa de plástico, carro de passeio, diferente da função da conjunção, a de ligar entre si as orações. Na frase ‘Ele pediu para mim’, para é preposição, e em ‘Pediu para eu ler o livro’, para é conjunção.

A preposição pode ter semântica curiosa: 1. Viver do lixo (tirar dele o sustento). 2. Viver no lixo (morar em meio ao lixo). 3. Viver para o lixo (ter filosofia de vida em prol do lixo). Cada uso tem seu fuso.

Pediu para eu ir com ele (‘eu’, pronome reto, é sujeito). Pediu isso para mim (‘mim’, pronome oblíquo, é objeto indireto).

Exemplos de boa linguagem:

Reclamou pelo fato de eu estar ocupado. Reclamou muito de mim.

Pediu para eu ir lá. Pediu isso para mim (pediu-me isso; pediu isso a mim).

Entre eu fazer e não fazer, prefiro ir embora. Entre mim e você há uma longa distância.

Ele fica contra eu andar de bermuda. Ele reclama sempre contra mim.

Ficou muito nervosa por eu chegar tarde do trabalho. Ficou orgulhosa por mim.

Pausa: apresentadora usa em abundância ‘Há um tempo atrás’. Contém pleonasmo como em ‘Desceu a escada para baixo’. ‘Há’, nesse contexto, indica tempo decorrido – o passado, e ‘atrás’ tem a mesma função (o que se passou). É similar a ‘Há muitos anos atrás’. Um dos termos deve ser eliminado: Há um tempo. Um tempo atrás. Há muitos anos. Muitos anos atrás.

Já pensou sobre os termos ‘triunfo‘ e ‘trunfo‘. São parecidos, mas requerem cuidado: triunfo, no popular, é vitória, êxito, sucesso. Na Roma antiga, indicava a entrada solene de um general que obteve grande vitória (na guerra). Daí, dizer-se ‘entrada triunfal’, com ovações ao homenageado. Trunfo, corruptela de triunfo, indica o que possibilita obter êxito ou ganho. O chantagista usa a mentira como trunfo; o estelionatário, o engodo, para obter vantagem para si ou para terceiro. O trunfo do sabido é enganar o tolo.

Teixeira de Freitas, BA, 28 de fevereiro de 2017.

João Carlos de Oliveira

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