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Como deve ser a linguagem de um panfleto ou fôlder?

Por extensão, da linguagem de panfletos e fôlderes chega-se à de outdoors.

Os papéis, maioria divulgadora de propagandas comerciais e político-partidárias, devem ter linguagem simples e escorreita, acessível ao público a que se destinam, sem redundância ou ambiguidade.

A dubiedade causa dúvida extrema e não ajuda a atrair o cliente ou alguém a seguir uma doutrina e, como consequência, não o faz aderir ao que o texto enfoca.

Linguagem correta e fácil, sem meandros duvidosos. Um texto diz ‘Compre pelo nosso crediário próprio’. Se é próprio de uma empresa, sem intermediário ou terceirização, isso basta. Por que dizer ‘nosso’ se já diz ‘próprio’? Fica estrambótico ou pleonástico, embora não se perceba facilmente. “Compre pelo nosso crediário”. “Compre pelo crediário próprio desta Empresa”. (A compra é a prazo.)

‘Nosso’ (pronome possessivo) e ‘próprio’ (adjetivo), no mesmo momento, tornam a mensagem duvidosa. ‘Freia’ a vontade ou a decisão do cliente, causando-lhe incerteza.

Lendo ou ouvindo mensagens assim, para quem tem ouvido atento e conhece a regra gramatical, talvez, não haja influência negativa, mas não conquista facilmente. A maioria delas comete deslizes linguísticos fortes.

Uma empresa com boa fachada, divulga um rol de vantagens que seus serviços oferecem ao público. Ao apresentar a listagem, notam-se vários descuidos linguísticos.

Se o marqueteiro quer escolher verbo, como termo inicial da frase, pode, mas todas as sequentes devem ter verbos no mesmo início.

Se a escolha recai num substantivo, as seguintes também devem ter substantivos.

Se o termo escolhido é adjetivo, assim continua.

O grande problema é que usam, ao mesmo tempo, verbo no infinitivo, flexionado na terceira pessoa do singular ou do plural, e substantivo. A partir desse momento, o texto descumpre a coesão e compromete os dizeres, não os deixando bem claros.

Objetivos: Melhora da Incontinência Urinária; Restaurar o Alinhamento Postural; Oferece Alívio das Dores nas Costas; Trabalha com a Respiração durante o Exercício dos Movimentos; Melhora a Coordenação Motora; Alívio do Stress nas Articulações; Aumenta a Flexibilidade; Fortalecimento da Musculatura do Abdômen.

O primeiro item traz um substantivo (melhora, melhoria); o segundo, verbo não-conjugado (restaurar); o terceiro, verbo conjugado (oferece); o quarto, verbo conjugado (trabalha); o quinto, verbo conjugado (melhora); o sexto, substantivo (alívio); o sétimo, verbo flexionado (aumenta), e o último, substantivo (fortalecimento).

Essa desigualdade gramatical é inconveniente, similar à mistura de tratamento ou à flexão de um termo, numa frase, e à não-flexão de outro, em outra. Falta uniformidade.

Somente, verbos flexionados: melhora, restaura, oferece etc. Somente, verbos não-flexionados: melhorar, restaurar, oferecer etc. Somente, substantivos: melhoria, restauração, oferecimento etc.

Qual a forma mais atrativa? Qual a mais informativa? A empresa tem que decidir; não deve misturar classes gramaticais no mesmo panfleto ou fôlder.

Melhora a incontinência urinária; restaura o alinhamento postural; oferece alívio às dores nas costas (alivia as dores nas costas); trabalha (desenvolve) a respiração no exercício de movimentos; melhora (facilita) a coordenação motora; alivia (atenua) o estresse nas articulações (stress, grafia em Inglês, não é aconselhável, já que usamos estressar, estressado, estressante etc.; por isso, estresse, pronúncia audível e cotidiana, assim como usamos futebol, voleibol, esporte (grafias aportuguesadas); aumenta a flexibilidade corporal (sanguínea, articulatória?); fortalece a musculatura abdominal.

O início de cada frase com o verbo flexionado dá aspecto popular à mensagem e facilita entendê-la.

Opção pelo substantivo em cada início: melhora da incontinência (…); restauração do alinhamento (…); alívio das dores (…); facilitação (desenvolvimento) da respiração (…); melhoria da coordenação motora; alívio do estresse (…); aumento da flexibilidade corporal; fortalecimento da musculatura abdominal.

O início de cada frase com um substantivo, nível culto mais sofisticado, pode dificultar a interpretação do leitor mediano ou popular.

Que tipo de palavra seria ideal para o início do enunciado: verbo ou substantivo? A escolha recai no estilo de linguagem mais fácil, sob a visão de um consultor linguístico, ou que caracterize a linguagem costumeira da região em que a empresa está situada.

‘Melhora a postura corporal, melhorar a postura corporal, melhoria da postura corporal’? Qual o modelo ideal? Escolhido um, todos os enunciados seguintes devem ter uniformidade. A mistura é daninha, e nem todo empresário, mesmo com bom domínio linguístico, consegue distinguir. Não é comum, nem em mensagens de escolas de nível superior, essa uniformidade. Basta que o leitor fique atento.

O uso do adjetivo não seria tão fácil. ‘Melhorada a incontinência urinária’. ‘Restaurado o alinhamento postural’. A afirmação ‘antecipada’ poderia insinuar autossugestão ou autoestima. Seria uma ‘fórmula’ incompatível com a humildade ou a simplicidade da empresa. Não gera empatia.

A empresa deve ser, claramente, modesta. Na dúvida, deve solicitar a ajuda para a construção de um texto claro, seguidor das boas regras gramaticais. Nem todo marqueteiro domina a linguagem propagandística como deve ser.

Alguém se lembra de uma propaganda do Governo alegando que ‘o bráulio’ deveria ser protegido por preventivo anticoncepcional? Essa derivação imprópria seria o pênis, mas no Vocabulário Onomástico é nome próprio, de grafia correta e pronúncia sem nenhuma dificuldade, não podendo ser usado para fins (escusos?) que não sejam a denominação de pessoas do sexo masculino. Se não é abundante entre os meninos hodiernos, é nome muito usado em tempos idos. O certo é que um cidadão com esse belo nome, Bráulio (como Gustavo, Abdias, Etelvino), impetrou recurso na Justiça e derrubou a propaganda do Governo, por ser capciosa e discriminatória.

Fica dito.

Pausa: Se o assunto é mensagem de panfleto, outdoor ou fôlder, veja esta: “Resultados tão incríveis, que já virou obrigatório (…)”. O que se tornou obrigatório? Os resultados, se o segundo termo está no singular? Há erro de Português? O texto poderia ser ‘Resultado tão incrível, que virou obrigatório (…)’ ou ‘Resultados tão incríveis, que viraram (que se tornaram) obrigatórios (…)’. Mas não precisa. A frase é corretíssima: Os resultados são tão incríveis, que (o produto) virou obrigatório nos melhores salões internacionais’. Os autores devem ser parabenizados. A empresa, é certo, consultou um especialista antes de divulgá-la.

Abraços de seu professor João Carlos de Oliveira.

João Carlos de Oliveira

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