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AERODINÂMICA: palavra composta ou derivada prefixal e sufixal ao mesmo tempo?

Analisando-a e comparando-a à outra, como aristocracia (radicais ‘aristo’ e ‘cracia’), aerodinâmica é palavra composta? Parece um derivado prefixal e sufixal ao mesmo tempo? Teria a mesma formação como em ‘televisão’ (radicais tele, visão), palavra híbrida? Considerado que ‘aero’ vem do Latim ‘aere’, variando para ‘aeri’ (dicionário Melhoramentos), e dínamo, do Grego ‘dýnamis’ (do qual vem dinamikós, dinâmico, que gera dinâmica), seria hibridismo?

Em alguns momentos, o estudante teria dúvida como classificar certos vocábulos quanto à sua formação. E tem razão: palavras há que nos queimam os neurônios quando não se percebem facilmente todos os seus elementos (prefixo, radical, infixo, sufixo etc.).

‘Aero’, elemento ou radical grego, que significa ‘ar’, é muito usado em termos técnicos. Aerobata (que anda no ar); aeróbica (ginástica com coreografia para melhoria do desempenho físico). O Larousse Escolar diz que ‘aero’ vem do étimo grego ‘aerios’ (aéreo), podendo alterar-se para ‘aeri’. A lista de extensa família capitula termos bem conhecidos e outros nem tanto: aeroclube, aeroplano, aerofólio, aerovia, aerofotografia, aeroespacial, aeroduto, aeródromo, aerograma, aeromoça, aeromodelo, aeronavegador, aeroviário, aeronave, aeronauta; e ‘aerícola’, que ou aquele que vive no ar.

Ao buscarmos termos, não os vislumbramos em ordem alfabética; a mistura implicaria, pois, melhor processo didático, salvo melhor juízo.

Sendo ‘aero’ um radical, aerodinâmica não pode ser uma palavra derivada prefixal. Teríamos, portanto, já que existem dois radicais, um substantivo composto? Considerando o radical de ‘dínamo’, que forma dinâmico (derivado sufixal), aerodinâmica teria, pela ordem, o primeiro radical (aero), o segundo (dínamo) e o sufixo ‘ico’, portanto, um termo composto, descartando-se a derivação prefixal. ‘Dinâmica’, somente, é derivado sufixal. E agora, que classificação seria a correta? Não se trata da mesma classificação de ‘infelizmente’: in (prefixo); feliz (radical); mente (sufixo adverbial). Infeliz, derivado prefixal. Felizmente, derivado sufixal. Infelizmente, derivado prefixal e sufixal ao mesmo tempo.

A classificação de ‘AERODINÂMICA’ não seria fácil à primeira vista em se tratando de análise simples.

Por conclusão, considerando-se que ‘aero’ é adjetivo (‘aéreo’), temos a noção de que aerodinâmica (mesmo não havendo hífen para separar os dois elementos), como em fluviomarinho, infantojuvenil, é palavra composta. Quanto ao hífen, encontramos as grafias afro-brasileiro e afrobrasileiro (cuja regra determina a segunda grafia), mesmo critério de infantojuvenil, como ainda em psicossocial, socioambiental, socioeconômico, autorretrato, etnicorracial (‘étnico-racial’ costuma aparecer em veículos de grande circulação).

Vem a parada brusca.

Fica o caso para os doutos da Língua Pátria. Em Houaiss, que nos dá seguros embasamentos, não foi encontrada uma análise para ‘aerodinâmica’, que eliminasse as dúvidas questionadas. Magnífico estudioso de nosso idioma, diz que ‘hidromassagem’ (primeiro elemento ou radical, hidro; segundo, massagem), é substantivo composto (Gramática Houaiss, p. 157, assim como gasoduto). Adiante, cita hidrovia, motosserra, aguardente.

“E agora, José?”. Eis o poeta Drummond em mais uma evidência.

O comentário de hoje tem outras partes, diversas da primeira.

Expressões que merecem atenção: opinião polêmica. Fica claro que o primeiro termo é substantivo (opinião) e polêmica (adjetivo). Mas em ‘polêmica tradicional’, não por ser de ordem diversa, o primeiro termo é substantivo (polêmica) e tradicional (adjetivo). Merece destaque ainda o plural de ambas as expressões: opiniões polêmicas e polêmicas tradicionais. ‘Polêmica presença’ a de um chefe político em boate de periferia: polêmica é adjetivo; presença, substantivo.

Da mesma forma, observamos como são curiosas: características pessoais (substantivo e adjetivo, respectivamente), mas em ‘as características formações do corpo humano’ temos, na ordem, adjetivo e substantivo. ‘Características’ tem habilidade política: ora é uma coisa, ora é outra: substantivo e adjetivo.

Em se falando de termos pejorativos, felizmente, a Lei mandou recolher o enunciado em que grupo musical qualifica usuários de banheiro: ‘ordinárias’, elas; ‘inocentes’, eles. Se juntarmos os termos (ordinárias inocentes), a dúvida vai surgir: qual é substantivo, qual é adjetivo? Fica a depender do contexto: em ‘as ordinárias inocentes’ (ordinárias, substantivo; inocentes, adjetivo); em ‘as inocentes ordinárias’ (inocentes, substantivo; ordinárias, adjetivo).

Todo cuidado é pouco.

Pausa: a quantidade de neologismos, no mundo moderno, é maior hoje que no passado, área dominada por poetas, escritores e jornalistas, na maioria das vezes. De uma esquina à outra, encontram-se termos novos. O radical mais usado é ‘mega’, que indicaria um milhão de vezes mais. O termo é tomado como algo grandioso. O estranho é se dizer ‘megapromoção’ (mas escrevem separado) referindo-se a ‘um copo de caldo de cana e um pastel por R$ 0,49’ (quarenta e nove centavos), expressão escrita em lanchonete. E ‘mega’ vai, ‘mega’ vem, surgem mega-aula, mega-show, megapolêmica, megadiscussão, mega-apresentação, megapalestrante.

Encontram-se ‘implantodontia’ e ‘implantodontista’, a especialidade e o especialista em implantes dentários. Em outro momento, ortodontia e ortodontista; mais adiante, ‘ortodontia pediátrica’, gerando ‘pediatria ortodôntica’. Cada expressão tem seu valor profissional, que passa a uma nova linguagem.

Registro correto: extraoficial, UTIs, PMs, EPIs.

João Carlos de Oliveira

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