Bacharel ou bacharela? Qual soa melhor? Qual é sua escolha?

O Português do Brasil pode ter costumes arraigados: se foi ensinado que bacharel é substantivo comum-de-dois (o bacharel, a bacharel), qualquer mudança é rejeitada. Alguns mantêm essa versão. Mas… e hoje? Já existem o coronel e a coronela.

A formação do feminino é bastante variada.

Os biformes (que têm duas formas)

1. Substantivo que forma o feminino com radical diferente: cavalo, égua; homem, mulher. 2. O terminado em o troca a desinência o por a: garoto, garota; menino, menina. 3. O terminado em consoante forma o feminino com o acréscimo de a ao masculino: cantor, cantora; trabalhador, trabalhadora (trabalhadeira é a mulher ou a pessoa que gosta de trabalhar); juiz, juíza; finlandês, finlandesa; oficial, oficiala. Algumas exceções: ator, atriz; cantador, cantadeira ou cantatriz; cerzidor, cerzideira. Embaixador, embaixatriz (esposa do embaixador) e embaixadora (representante diplomática). Observe: em SP, o cantador popular é o modinheiro, e, como consequência, o feminino é modinheira.

A resposta para a pergunta introdutória está na flexão o oficial, a oficiala. Seria comum que a função de ‘oficial’ fosse sempre exercida por um homem, por isso, o oficial. Com a emancipação feminina, a mulher também veio a ocupar essa função. “E agora, José?” (Carlos Drummond), que termo usar: a oficial ou a oficiala? Mantiveram ‘a oficial’ por algum tempo, como se fosse comum-de-dois. Entretanto, a Gramática Normativa já teria a resposta: a oficiala. Ficou feio? Para alguns, sim. O difícil, de início, foi todos usarem a mesma forma, o que não aconteceu. Mais tarde, órgãos públicos (v. g., cartórios) resolvem estampar em seus documentos, OFICIALMENTE, o feminino ‘oficiala’ quando a mulher comanda o setor, como se vê nos dias atuais em certidão de nascimento ou atestado de óbito.

Uma flexão assimila a outra. Assim, de oficial a oficiala, de bacharel a bacharela, flexão correta, mesmo que alguns optem por outra formação. Alguns usuários é que, ainda, resistem, como se encontra em documentos da área jurídica. Agora, companheiro, abra o baú e jogue o cobertor antigo fora, e o substitua por um edredom novinho em folha. Use com segurança: o bacharel, a bacharela; o general, a generala; o marechal, a marechala. Não tenha receio, está correto.

Podemos terminar a análise, mas continuemos com mais exemplos: substantivos terminados em ão formam o feminino de três maneiras: leitão, leitoa; patrão, patroa; afegão, afegã; anão, anã; cidadão, cidadã; chorão, chorona; foliã, foliona. Observe: peão faz peã, peoa, peona. Exceção à regra: barão, baronesa; ladrão, ladra; lebrão, lebre; perdigão, perdiz. Facão não teria feminino, mas, no campo, veio a lume o termo ‘facoa’, que designa tipo de facão de lâmina curta e larga usado por plantadores de arroz, como no baixo São Francisco, palavra que chegou ao corte de cana.

Não precisamos explicar tudo. Vamos a algumas curiosidades: o papa, a papisa, mas nenhuma mulher exerceu a função de ‘papa’. O bom dominante da Língua Pátria usa ‘o elefante, a elefanta (a elefoa é desaconselhável), como se diz o gigante, a giganta, o parente, a parenta, o governante, a governanta. E mais: o ateu, a ateia; o réu, a ré; o mestre, a mestra; o maestro, a maestrina; o marajá, a marani.

Os uniformes (que têm uma única forma)

a. Epicenos: corvo macho, corvo fêmea; lince macho, lince fêmea. b) Comuns-de-dois: o acrobata, a acrobata (o acróbata); o mártir, a mártir; o herege, a herege. c) Sobrecomuns: a criança (menino, menina); o membro (homem, mulher); o carrasco (avô, avó; pai, mãe); o apóstolo; o cônjuge (marido, esposa); a pessoa (ele, ela); o indivíduo (fulano, fulana); a vítima (qualquer pessoa); o algoz (o carrasco); a testemunha. O testemunho é um fato; a testemunha, uma pessoa.

Podem-se citar Rafael e Rafaela, mesmo modelo de bacharel, bacharela; Gabriel, Gabriela; Manuel, Manuela. Não estranhe: existe Miguela (variante, Micaela), feminino de Miguel, assim como Michel e Michael.

Os costumes mudam, o idioma também, porque o falar é múltiplo, tão evolutivo quanto o modo de viver moderno.

Não use ‘a monstra’ nem ‘a membra’, ou ‘a carrasca’. Mas pode ser expresso o presidente, a presidenta (sem aquele rompante de quem manda: a presidenta da estatal).

Vovó é um monstro, Maria é um membro da Igreja Adventista, minha professora é um carrasco.

Por conseguinte, ‘o bacharel, a bacharela’. Isso agrada. O idioma fica mais versátil, mas dinâmico e acessível estampando um nível com maior domínio das regras gramaticais. O soldado Manuel, a soldado Manuela. O rapaz, a rapariga; o tigre, a tigresa.

Pausa: Um artigo registra a grafia ‘auto-celebração’, citando corajoso juiz em evidência nos dias atuais. O jornalista se enganou: assim como usamos ‘autoconfiança’, devemos registrar ‘autocelebração’.

Foi um bom resumo? Complete-o com outros exemplos. E me siga, companheiro, nos debates linguísticos.

Abraços.