Falar diferente é chique? O usuário se destacaria entre os demais?

A crítica ao iletrado, quando comete um deslize linguístico, é evidente. Chega-se ao ponto de classificar esse usuário, conhecedor de regionalismos e brasileirismos, como pessoa incompetente.

Mas o que incomoda é um cartório de registro de pessoas físicas fornecer um atestado de óbito registrando que a causa da morte do falecido foi ‘hipertenção’.

O que dói mesmo é um profissional liberal, como médico, escrever em um atestado que o paciente é professor do ‘encino’ médio; foi há anos, mas aconteceu.

O que nos chateia é um grupo de funcionários públicos, ao fazer suas reivindicações, expor uma faixa enorme, com letras garrafais, em que está escrito PARALIZAÇÃO geral.

Não se espante, então, se o indivíduo é registrado como GÉZUS.

O que nos surpreende é um locutor imponente, jovem de compleição física avantajada, modelo fitness, declarar em público: ‘Acaba‘ de chegar ‘na‘ cidade ‘muitos produtos‘. Sorridente (isso seria bom), o profissional ostenta indumentária diferente e braços com tatuagens bizarras.

E lá se vão muitos exemplos.

Lojas que divulgam seus objetos de venda com escrita estapafúrdia: TV’S, CD’S, DVD’S.

Aviso fúnebre que usa expressão latina, embora conhecida, com grafia inusitada: in memorian, ou, em memorian.

(Corrijamos esses modelitos: TVs, assim como devemos grafar PMs, PDFs, cujo plural é consumado com a desinência nominal de número (s) sem a presença de apóstrofo). Logo, CDs, DVDs.

Se o leitor não é tão jovem, deve lembrar-se de que os discos de vinil, na época áurea de cantores de verdade, expunham a abreviatura LP. L, de long, e P, de play, em Inglês. Plural: LPs. Forma aportuguesada: elepê (plural: elepês). Hoje, temos os anglicismos ‘jóquei, clube, esporte, futebol, Jérsei (raça bovina), Nova Iorque, estresse’ etc. A expressão latina ‘in memoriam’ nos dá ‘em memória’. Apenas, estas duas opções são corretas. Outras são pura invenção.

Há pouco, li artigo que falava em princípios para se ter boa saúde. Não se trata de inverdades, e o conteúdo é bom. Todavia, no decorrer da explanação, há grafias fora do padrão, e por que a observação? Por que o artigo é da lavra de um especialista em certa área da Medicina, um oncologista ou geriatra. Algo assim. E surge aquela escrita ‘desconhecida’: 3 E’s. Seria possível se entender esse amontoado de caracteres se não houver uma explicação a seguir? Diz o texto que se trata de ‘energia, entusiasmo, empatia’. Letras, como vogais e consoantes, têm plural? Sim. Escreve-se o nome da letra e se acrescenta ‘s’ para indicar o plural ou têm a grafia duplicada. A: dois As ou dois AA. B: vários Bs, BB ou bêsPs, os pês, os pp. Esse item não é fácil nem tão conhecido, mas sua escrita não pode ser diferente. Logo, deveriam ter usado 3 Es ou 3 EE: energia, entusiasmo, empatia.

Isso tudo serve de esteio para analisar o falar diferente é chique, afirmando ou questionando.

Uma senhora pergunta: “O lixo vai passar?” Se o lixo está na porta dela, como vai passar? Ela quis dizer ‘o caminhão do lixo’ ou ‘o lixeiro’? Tanto um como o outro serve de resposta. O lixo é que não passa. Mas, para salvar sua pele, encontramos no seu dizer uma metonímia, que pode, mas essa é estranha. A moça vai ao salão de beleza para cuidar de sua aparência e deseja ‘fazer uma escova’. A escova, de cerdas duras ou macias, grande ou pequena, está exposta, e ela escolhe uma. O que ela vai fazer é uma ‘escovação’, definida pelo dicionário desta forma: ato ou efeito de escovar (nesse caso, os cabelos), encarapinhados ou lisos, ou os que foram chamados de pixains, termo não mais usado por ser ligeiramente pejorativo. O sinônimo escovadela é aceito. Seria difícil usar um dos dois? Por que fazer ‘uma escova’?  Existe a derivação regressiva ‘escova’, de escovar, com outro significado. Por que o modismo ‘fazer uma escova’?

Falar diferente, de forma metafórica, sim; esse linguajar é bem-vindo. Tomar uma fria, mesmo que não a chame de loira ou cerveja. Cair numa fria, mesmo que não seja uma esparrela ou uma arapuca. Levar (pegar) uma fria, mesmo que não seja aquela ‘sem apetite sexual’, cuja libido tenha passado dos 90 anos. Viajar o mundo, mesmo que não seja de avião ou num cruzeiro, mas pela net que traz bons fluidos.

Um criptograma usa o termo ‘bochorno’, do Castelhano (com a mesma grafia), para dizer ‘o vento quente que incomoda’. O uso de bochorno, termo diferente, é bom ou ruim? Dê sua resposta. E elogie ou critique este comentário. A linguagem é fascinante e deve ser analisada. Natural, boa, ótima ou péssima.

A próxima análise pode-lhe trazer algo mais interessante. (?)