‘Mal’ tempo, ‘mau’ entendido. Mal e mau têm-lhe causado dúvida, a ponto de não perceber essas ‘pérolas’?

Mal, como nos preceitua o léxico, é um substantivo, nascido do Latim ‘malum’, tudo o que se opõe ao bem, ao direito, à justiça, à moral.

Nome de semântica ligeiramente ‘cabalística’, mal é todo ser abominável que nos pode causar prejuízo, dano ou doença. É um fenômeno que deteriora, é um ‘astro’ que mata, é uma causa que gera malefício. Corte o mal pela raiz. O fumo faz mal à saúde. O homem sofre de um mal incurável.

Como advérbio, vem de ‘male’: comer mal, dormir mal. Lá se vão muitas expressões: falar mal, responder mal, dirigir mal. E podemos ironizar: ‘Este texto já nasce mal por não saber montar no cavalo’.

Se o contrário de mal é bem, até para o bom uso dos dois termos, pode ser dada a premissa – se couber mal, cabe bem; se bem vem a calhar, mal vem a cair na bancarrota linguística.

Nem todo homem público se veste bem; não é todo cidadão que não frequentou a escola que fala mal o idioma pátrio. Ele anda mal vestido. Ela anda bem vestida. Bem-dotado. Mal-dotado.

Mau, para não nos assustar, é mais leve: o mau motorista costuma abalroar em outro veículo. Já o bom motorista evita aproximar-se do veículo que vai à sua frente.

Onde couber bom, cabe mau, e vice-versa. Mau é adaptação em Português do Latim ‘malus’, tudo o que causa mal ou prejuízo. Para se discriminar ‘mal’ de ‘mau’, além dos respectivos contrários (bem e bom), o compêndio escolar nos confirma essa regra simples: cabendo mau, cabe bom, e vice-versa. O mau cidadão é um empecilho ao desenvolvimento social. O bom cidadão eleva o conceito de que pode ser seguido em prol de todos. O mau político não merece voto. O bom votante não é eleitor de cabresto.

O plural de mal é males. O mal causa danos à sociedade. O estresse e a correria são males que causam cânceres modernos incuráveis.

Se ‘mau’ tem o antônimo ‘bom’, por outro lado, dá-nos o feminino ‘má’, que nos acompanha no dia a dia: a má-fé, a má ideia, a má companhia. O plural fica bem auditivo: as más ideias levam o homem ao mau caminho, as más companhias matam como veneno letal, as más línguas dizem que o mexerico, como mente muito e é vaidoso, alega que ‘vai a Marte pedalando sua bicicleta como um fantasmagórico etê’.

Os maus-tratos, os maus momentos, os maus bocados, os maus olhados. Todos esses ‘maus’ indivíduos devem ser cortados de nossa convivência diária e dialetal. Para que nos servem? Para nada! Portanto, são ‘males’ que devem ser banidos de nosso cardápio cotidiano.

Vamos terminar!

Mal pode ser advérbio de modo (sempre o oposto de bem): O filho do homem mais rico do lugar nunca se comportou mal na sociedade. Pode ser ainda equivalente a uma conjunção subordinativa adverbial temporal (substituível por assim que): Mal chegamos, fomos avisados de que um acidente aconteceu no lugar. Como substantivo, deve ser precedido de artigo (definido ou indefinido) ou de outro determinante: O mal, segundo dizem, não tem remédio. A jovem foi acometida de um mal incurável. Seu mal, menino, é pensar que é o rei do universo. E ‘mau‘, nem sempre bondoso!, é um adjetivo, cujo contrário nos agrada: bom! Na vida, se escolhemos um mau momento, é que vamos de mal a pior. Que tal nunca ser um mau sujeito?

A teoria explicitada e os exemplos dados bastam para quem quer redigir melhor.

Mal‘ tempo, no título, contém lapso porque ‘tempo’ é substantivo, e seu qualificativo deve ser o adjetivo ‘mau’, e não o advérbio ‘mal’. Tome como exemplo ‘bom tempo, bom amigo, bom princípio’ como opostos a ‘mau tempo, mau amigo, mau princípio’.

Em ‘mau’ entendido, o engano fica mais claro ao analisarmos que ‘entendido’ é adjetivo, e nesse caso não pode haver mais um adjetivo (mau), que foi confundido com ‘mal’, substantivo. Logo, ‘mal-entendido’. Houve um mal-entendido entre ambos (um equívoco). Entende-se que o plural seja ‘males-entendidos’. Como adjetivo composto, mal-entendido equivale a mal-interpretado.

A segunda parte é a prática, a boa leitura, a consulta à gramática. Boa sorte.

Pausa: alguém quer usar acento agudo na palavra ‘praia’. Comparemos com ‘arraia, cambraia, maia, saia, sapucaia, vaia’ etc. ‘Ai-a’ constitui um ditongo descrente: ai (vogal e semivogal) seguido de uma vogal (a). Não se trata de hiato nem de tritongo. Separação em sílabas: prai-a, ar-rai-a, cam-brai-a, mai-a, sai-a, sa-pu-cai-a, vai-a. Compare a pronuncia de ‘praia’ com ‘baía, saía’. Temos, agora, hiato: ba-í-a, sa-í-a. Não precisaria comparar ‘praia’ com Indaiá, cujo aspecto nos diz: palavra oxítona terminada em ‘á’ tônico acentuado.

Que tal falarmos de ‘fôrma’ e ‘forma’ na próxima análise? Seria uma boa ideia?