Qual é o plural de ‘caráter’? E de ‘álcool’? ‘Menos’ flexiona?

Para efetuarmos o plural de uma palavra, devemos observar sua terminação. A regra de pluralização de substantivo simples, objeto do comentário de hoje, terminado por vogal, ditongo ou hiato (acentuado ou não), não assusta. Basta o acréscimo da desinência nominal de número – ‘s’ – ao final do vocábulo: vida, vidas; maré, marés; croqui, croquis; cipó, cipós; urubu, urubus. Ditongos: chapéu, chapéus; mágoa, mágoas; relógio, relógios; boi, bois; samurai, samurais; troféu, troféus (não existem ‘trofel’ e ‘troféis’). A coloquialidade usa ‘mágua’, mas se trata de pronúncia; existindo a escrita, o plural é ‘máguas’. Hiatos: baú, baús; jataí, jataís; voo, voos.

Analisada a terminação específica, não basta memorizar; é preciso se seguirem critérios gramaticais. Com a prática, a aprendizagem se consolida.

Substantivo terminado por R

Recebe o acréscimo de es: açúcar, açúcares; contêiner, contêineres; éter, éteres; hangar, hangares; hambúrguer, hambúrgueres; revólver, revólveres; zíper, zíperes. Atenção: cifer segue a regra, mas a posição da sílaba tônica muda: lucíferes. Os vocábulos júnior e sênior (que podem ser substantivados) fazem juniores e seniores (perdem o acento gráfico, e a sílaba tônica é deslocada).

Exceção: caráter faz caracteres.

Terminado por Z

Também, recebe es: cicatriz, cicatrizes; cruz, cruzes; juiz, juízes; matiz, matizes; raiz, raízes. Mesmo o cidadão de pouco conhecimento linguístico, sabe usar ‘o rapaz, os rapazes’. Não há dúvida.

Terminado por N

Pluraliza-se com o acréscimo da desinência ‘s’: abdômen, abdomens; hífen, hifens (o plural não mantém o acento agudo), existe a variante com ‘es’: abdômenes, hífenes. Cânon só faz cânones.

Terminado por M

Troca-se M por NS: homem, homens; armazém, armazéns; refém, reféns; harém, haréns; jejum, jejuns; jerimum, jerimuns. (É fácil.)

Terminado por AL, EL, OL, UL

Elimina-se l e acrescenta-se is: leal, leais; animal, animais; amável, amáveis; bordel, bordéis; papel, papéis; anzol, anzóis; paul (brejo), pauis. Obs.: No caso do nome próprio Raul, o plural deve respeitar a regra: um Raul, dois Rauis. Obs: mal, males; mel, meles (embora haja méis); real (moeda antiga), réis; real (de hoje), reais. Cônsul não segue o critério de azul, azuis; faz cônsules. Não é pacífico, mas gol, usado no plural gols, deveria flexionar ‘gois’ (pronúncia fechada). Na melhor adaptação aportuguesada, gol passaria a golo (plural: golos, como usam os portugueses). Álcool, portanto, segue a regra normal: álcoois. A dúvida que leva ao uso de ‘álocols’ é um tropeço sem justificativa.

Terminado por IL

Deve ser observada a prosódia. Se oxítona, elimina-se ‘l’ e acrescenta-se ‘s’: barril, barris; funil, funis; fuzil, fuzis. (Palavras substantivadas: senil, senis; viril, viris). Reptil (embora haja réptil) faz reptis, assim como projetil faz projetis. Se paroxítona, a regra muda: perde ‘il’ e recebe ‘eis’: fácil, fáceis; difícil, difíceis. Mais: fóssil, fósseis; míssil, mísseis; projétil, projéteis; réptil, répteis.

Terminado por S

Se paroxítona, fica invariável: o lápis, os lápis; o pires, os pires. Se monossílabo ou oxítona, recebe ‘es’, além da perda do acento agudo ou circunflexo: cós, coses (embora haja os cós); mês, meses; viés, vieses; montês, monteses; pedrês, pedreses; português, portugueses. São invariáveis: o cais, os cais; o xis, os xis.

Terminado por X (som de ks)

É invariável: o tórax, os tórax; a xérox, as xérox; o ônix, os ônix.

Substantivo diminutivo terminado por zinho ou zito

Deve ser flexionado com extremo cuidado: coraçãozinho, coraçõezinhos; papelzinho, papeizinhos; cãozito, cãezitos, cãozinho, cãezinhos; pãozinho, pãezinhos. Qual é a regra? Flexiona-se primeiro o grau normal no plural – cão, cães; corta-se S e acrescenta-se o sufixo desejado (inho, zito) seguido da desinência ‘s’. Se terminado em R, mais atenção: bar, bares; barezinhos; flor, flores, florezinhas. Não se trata de regra fácil, por isso, não caiu na simpatia popular, e muitos continuam a usar da forma mais simplória: barzinhos, cãozinhos, pomarzinhos, florzinhas etc.

Terminado por ÃO

Faz o plural de três formas: 1. ões (populares): limão, limões; lição, lições; lixão, lixões; edição, edições; peão, peões; (aumentativos) bonitão, bonitões; garrafão, garrafões. Lembremos o adjetivo ‘são’, que pode ser substantivado: o são, os sãos.  Saguão faz saguões (tritongo). O homem comum pensaria: mão, mãos; pão, pães; limão, limões. Por que não seriam todos em ‘ões’ ou ‘ães’? Mão(s) não pode ser confundido com mãe(s), nem pães com ‘pões’ (forma verbal de pôr; tu). A eufonia e a semântica não permitem flexões idênticas. 2. ães: cão, cães; capitão, capitães; guardião, guardiães. (“O senhor tem pães?”, pergunta a moça considerada inculta. O atendente, debochado, considera que ela se esnoba e diz-lhe: “Nães, nêga besta, tem bolachães”. (Anedota antiga do mundo pejorativo e mambembe.) 3. ãos: mão, mãos; órgão, órgãos; órfão, órfãos; sótão, sótãos; cristão, cristãos; irmão, irmãos.

Plurais duplos: anões, anãos; vilões, vilãos; corrimões, corrimãos; triplos: aldeões, aldeães, aldeãos; ermitões, ermitães, ermitãos. Há de se perdoar o cidadão comum que diz: “Lá em casa, ‘samos‘ em quatro irmões.”

Menos, advérbio ou substantivo, é invariável em  número e gênero:  menos pessoas, menos gente, menos comida, menos bois, menos vacas; o menos importante, a menos importante.

Agradecimentos pela visita.