Quantos nomes são dados ‘à perseguida’? Quais você conhece? Quais usa?

São muitos; alguns estranhos ou impublicáveis.

Objeto de desejo, a bichinha sofre muito, tantos os nomes que lhe dão. Uns não têm étimo; outros carregam carga semântica forte.

Em Latim, a perseguida é vagina, de pronúncia proparoxítona – vá-gi-na –, grafia que herdamos. Sua família etimológica é extensa: vaginal, vagínico, vaginoide, vaginiforme, vaginalite, vaginícola, vaginite, vaginocele, vaginolabial, entre outros verbetes, compulsados de um dicionário.

Não é preciso descrevê-la por ser tão conhecida e técnicos os termos da Ciência (canal, grandes e pequenos lábios, colo, vulva etc.), haja vista sua função e complexidade, e para não haver o ridículo de palavras chulas.

Chama-nos a atenção: o tecido vaginal é dúctil, e a pérola escondida no invólucro vale ‘ouro’.

Alguns idiomas nos ensinam suas palavras para indicar esse órgão feminino responsável pelo início da reprodução dos mamíferos (exceto o ornitorrinco, que fecunda pelo ânus, é ovíparo, mas amamenta).

O étimo latino perdura: em Inglês, vagina. Francês: vagin. Alemão: Vagina (maiúscula inicial obrigatória). Italiano: vagina. Espanhol: vagina.

Analise essa abrangência. Não houve termo melhor. Hoje, é que a coisa muda. Em outros, fica desnecessária a citação (também, não são conhecidos). Curioso é que o ‘bilau’, ‘o marido dela’, tem nomes curiosos. Em Árabe, ‘ayir’. No Catalão, ‘titola’. No Hindu, ‘lavda’. No Iraniano, ‘kir’. No Ucraniano, ‘khuy’. (Informação de revista especializada.)

Como esse vocabulário tão diversificado surge? Em virtude das ‘viagens’ do dia a dia. Chamá-la de ‘gostosa’ é recurso afetivo-poético, e de ‘cheirosa’ seria eufemismo? O cuidado é saber usá-los.

Externo minhas desculpas ao internauta. A intenção não é ferir nem pejorar. O artigo é analítico-interpretativo, por isso, os possíveis ‘sinônimos’. A chana. O pichel. A prexeca. A perereca. A vulva. A buça. A buçanha. A bu…

Conta um narrador (estória antiga de periódico mineiro) que um cidadão desconhecedor da leitura e da escrita desejaria colocar um nome bonito em sua filha. Na época, não se consultava um livrinho nem a Internet para se encontrar o nome ‘certo’. O que se aprendia era de boca, ou se colocava nome de santa – Magdala, Madalena, Teresinha, Joana, Cecília, Isabel. Ele não queria nenhum desses. E tinha ouvido um: ‘valgina’ (ou ‘vargina’, no sotaque regional). Foi o escolhido. Decidira colocar esse nome na filha: Valgina (…). Se o cartório se impusesse para não aceitar o nome escolhido, ele iria provar isso e aquilo. E o danado conseguiu registrar sua filha com o pomposo nome: Valgina!

O Vocabulário Onomástico tem variados nomes para a denominar o ser humano; entretanto, nem todos o conhecem. A literatura popular diz que o nome mais bonito é escolhido pela escrita e sonoridade diferentes. Danilo pode ganhar uma consoante nova, Janilo, parecido com o nome da prima Jamile (Jamille, Jamily etc.). Kely se torna Kelle, Kelli ou Kelly. O composto é charme: Kellyanna. Há registro para todos os gostos e sabores. Algo nos diz que as variantes são constantes: ‘Dakelly’, nome exótico para uma menina moderna. Soa ‘bem’, por isso, aceitável. Não importa que seja neologismo, onomatopeia ou corruptela. No fundo, a expressão ‘daquele jeito’ foi a fonte criadora, e o nome ganhou vida. Isso, hoje. Naqueles tempos, ‘Vargina’ mesmo.

Não se trata de pilhéria. Muitos acatam motivo midiático para o uso de certa palavra. Duvida? É antigo dizer ‘bicicleta’. Para indicar que está plugado na globalização, o neocidadão escolhe, sempre, ‘bike’ (baike). E repete insistentemente: Vou de baike, traga minha baike, quero comprar uma nova baike. Qual é a sua?

A ‘perseguida’, então, tem sua história, sua literatura e toda sua performance para ganhar suas diversas denominações, que a tornam uma figura exponencial e membro do mundo anedótico e folclórico.

Alguns vocábulos têm quantidade incontável de ‘sinônimos’: a cachaça, o diabo, o ânus, o senhor ‘pinto’ (pênis é incomodativo), e nossa ‘amiga’, em virtude do desejo do macho de querer possuí-la. Seriam mais de duzentos vocábulos? É exagero, mas chega perto.

Uma menina pobre não tinha roupa adequada para uma viagem à cidade. Mesmo assim, uma tia a levou como sua companheira. Num momento, a coitada tenta sentar-se e, numa postura desajeitada, a ‘parte’, como os ‘badalos’ do menino, fica à mostra. A tia, para não demonstrar culpa pela cena, sem saber o que dizer em meio a tanta gente ‘formada’, diz-lhe em voz alta: “Oh! minha filha, guarda aí seus ‘decumento’, que tem muita gente aqui”. Foi uma nobre saída.

Não temos como fugir ao cotidiano. Vamos ao final da lista, que o visitante pode completar do seu jeito. Quase uma palavra para cada letra alfabética: ‘a anaconda, a beiçuda (a banguela), a chavasca (a chana, a cabeluda, o ‘calculo’), a desdentada, a estrábica, a fogosa, a gulosa, a honra, a irada, a jeitosa, a lasca, a mimosa (a mina, o mau-caminho), a naja, a odalisca, a peluda (a periquita, a prexeca, a perereca), a quentinha, a raivosa, a assanhada, a tabaca, a úvula, a vulva, a xoxota (a xota, o xibiu, o xibio), a zezinha.

O que mais? Não ofenda a ‘perseguida’.