Você distingue o corrupto do corruptor? Qual a diferença entre um e outro?

Corromper é um verbo maligno. Quem o coloca em prática não faz boas ações. “Não é isso? Estou mentindo?”, diria alguém.

O ato de corromper resulta na corrupção. O verbo significa perverter, tornar imoral, depravar, subverter, degenerar, degradar, aviltar, entre outros significados. O substantivo vem a ser, entre outros sinônimos, perversão, degeneração, depravação, imoralidade, desonestidade, fraude, suborno, negociata.

Como se vê, nenhum significado expressa boa ação; apenas, a má. Por inteiro.

Na boca do povo, o corrupto é o ladrão do cofre público, não importando a esfera. E corruptor é o quê?Oportuno lembrar que cofre público corresponde a ‘erário’, o dinheiro público, os bens oficiais, e nenhum erário é privado, motivo pelo qual não se deve dizer ‘erário público’ (grave redundância). Erário municipal, estadual, federal. Expressão similar não-recomendável: ‘vítima fatal’ (que vitima a si mesma?). O acidente é que é fatal.

O corruptor é aquele que oferta o bem público; o corrupto, quem o aceita. Ambos são ladrões, e muitos são grã-finos.

É preciso discriminar cada vocábulo com sua respectiva abrangência.

O corrupto é o receptor, que pratica corrupção passiva; aquele que aceita, de má-fé, a oferta de um subordinador; este, o desonesto que se impõe àquele. O corruptor é o ofertante do bem. Se for funcionário público, pratica a concussão.

O sufixo nominal or (formador de substantivos) indica um agente: feitor, que faz; trabalhador, que trabalha; construtor, que constrói; destruidor, que destrói; prevaricador, que prevarica; ancorador, que ancora (este diferente de ancoradouro, o lugar em que se ancora). Corruptor, portanto, é aquele que corrompe alguém, que suborna alguém. Sua variante, pouco usual no meio comum, é corrutor. Qualquer que seja o palavrão, o vocábulo significa o verdadeiro usurpador do bem público. A profissão dele é a falcatrua nos setores públicos.

A grande semelhança entre ambos é que tanto o corrupto como o corruptor são desonestos, inescrupulosos, fraudulentos, fraudadores. Numa linguagem metafórica ou eufemística, são os ‘sem moral, sem honra, antiéticos, imorais, indecorosos’. Usamos, agora, uma linguagem suave. Para não ferir o outro, evite chamá-lo de velhaco ou mau pagador; vá de boa índole: diga, apenas, inadimplente. Modernamente, alguém não deve ser chamado de ‘gordo’ ou ‘obeso’, mas de ‘aquele que tem tecido adiposo em excesso ou abundância’. A partir do uso de termo tão cordial, ninguém briga ou irá se sentir ofendido. A linguagem evolui a passos largos. Fique atento.

As atitudes do corrupto como as do corruptor são corruptivas, isto é, suscetíveis de corrupção; de um lado, a corrupção ativa, que se impõe – que oferece o produto; de outro, a corrupção passiva, que aceita o produto. Ambas são malignas; causam danos ao erário municipal, estadual ou federal.

Interessante é observar, neste momento, que o verbo corromper é abundante (tão rico é sua semântica!), isto é, tem duplo particípio: corrompido, usado com os verbos haver, ter e ser: A ferrugem havia corrompido a ferragem. A ferragem foi corrompida pela ferrugem. Uai, professor, a ferrugem também ‘corrompe’? É que nesse sentido corromper é ‘estragar, danificar’. Que aliteração engraçada: a ferrugem enferrujou a ferragem. Quase um trocadilho… E corrupto, comumente, usado como adjetivo: Não vote em político corrupto (por praticar corrupção ativa ou passiva). O eleitor só descobre depois, por isso, é difícil escolher o bom gestor ou o bom legislador.

Para dar mais abrangência ao significado desses maléficos vocábulos, podem ser mostrados os seguintes enunciados: O povo quer uma sociedade livre de corrupção. Todo funcionário corrupto deve ser expulso do serviço público. O corruptor, seguido o critério da maior monta, deve receber pena maior que a dada ao corrupto, pois este é passivo (caiu na lábia do ativo) e aquele é ativo, o verdadeiro condutor do processo de fraudar, o que induz alguém ao erro, embora ambos sejam ‘malfeitores’ do dinheiro destinado ao bem-estar de todos os munícipes.

As definições e as comparações serviram para esclarecer? Concorda que um político corruptor, o mandão, é diferente de outro, o corrupto, que aceita o jogo da falcatrua?

Pausa: um artigo jornalístico diz que um fato ocorreu na ‘Av. Suburbana’ (fictício). Necessariamente, o substantivo ‘avenida’ não precisa vir em letra maiúscula por não ser nome próprio. Próprio é o nome dado à avenida, Suburbana, aposto na frase. Dessa forma, o uso de ‘Avenida Paulista’, como costuma ser divulgado para a avenida mais famosa da cidade de São Paulo, deve seguir o trâmite gramatical: avenida Paulista, assim como se deve dizer av. Getúlio Vargas (em muitas cidades por todo o Brasil). Não estando, portanto, no início da frase, não sendo título de obra literária ou logomarca, nem data cívica, os nomes ‘rua, avenida, alameda, beco’ etc. devem vir em letra minúscula até a prova semântica em contrário. Moro na rua Bernardo Caboclo. Ele reside na av. Beira-Mar. Ela estuda no educandário Ruy Barbosa, que fica na alameda Sinfrônio Boaventura.

Este colunista aplaude quem quer discutir as nuanças da Flor do Lácio, epíteto da Língua Portuguesa, nome poético dado pelo querido Poeta das Estrelas, Olavo Bilac.

Abraços.