Claramente, percebem-se quatro plurais. Todos são encontrados no dia a dia. A lógica é a de que, apenas, uma forma seja a correta perante a norma gramatical.
Os nomes dos dias da semana, exceto, o sábado e o domingo, são palavras compostas. Usemos ‘(a)os sábados, (a)os domingos’ se quisermos optar pelo plural.
E o plural dos cinco dias restantes como ocorre?
A pluralização dos substantivos compostos abrange cerca de 12 regras. Podem ser citados: a) ‘grão-vizir’ (primeiro-ministro do antigo Império Otomano): ‘grão’, forma apocopada de ‘grande’, é invariável, por isso, seu plural é ‘grão-vizires’; b) teco-teco (pequeno avião particular): palavras repetidas ou onomatopaicas, em que o primeiro elemento se torna invariável: teco-tecos; c) efeito-estufa: o segundo elemento qualifica o primeiro, podendo ser invariável: efeitos-estufa, embora haja quem flexione ambos os termos, como ‘navios-escolas’, mas preferível ‘bolsas-família, homens-bomba, efeitos-dominó, pombos-correio, canetas-tinteiro’. E estes: chove-não-molha, querer-sem-querer (expressão de valor substantivo): invariável: os chove-não-molha, os querer-sem-querer. Costumam chamar um indeciso de ‘maria-vai-com-as-outras’. E o plural? As marias-vai-com-as-outras não têm opinião própria.
O composto ‘segunda-feira’, como terça-feira etc., é formado por um adjetivo (segunda) seguido de um substantivo (feira, o dia de trabalho): a regra diz que os substantivos compostos formados por substantivo e adjetivo e vice-versa flexionam ambos os termos: cara-pálida (indígena), caras-pálidas; amor-perfeito (flor), amores-perfeitos; homem-gentil (cavalheiro), homens-gentis. Se temos ‘primeiro-ministro’ (adjetivo e substantivo), devemos flexionar no plural ‘primeiros-ministros’, que serve de modelo para ‘segundas-feiras, terças-feiras, quartas-feiras, quintas-feiras e sextas-feiras’. Seria uma flexão fácil, mas nem sempre encontrada correta nos panfletos, avisos, anúncios, fôlderes etc.
Um restaurante (abandone a pronúncia ‘restorante’) anuncia: “Às terça-feira teremos feijoada’. Nesse contexto, podemos encontrar três deslizes linguísticos: 1. Por se tratar de um termo deslocado (na ordem direta, seria colocado no final da frase), ‘terça-feira’ deveria estar separado por uma vírgula; 2. o plural, como mostrado, consiste na flexão do adjetivo (terça) e do substantivo (feira) a um só tempo: terças-feiras (com hífen); 3. a forma verbal ‘teremos’, no futuro do presente do indicativo, pode caracterizar dúvida, porque não afirma ‘temos’. Se o empresário pretende dar ‘certeza’ ao cliente (‘Compareça, sempre, às terças-feiras, que temos feijoada’), deveria anunciar “Às terças-feiras, temos feijoada”, assim como usamos ‘Todo domingo é dia de almoço na casa da vovó’. Comparecendo em dia que que não seja terça-feira, o atendente poderá avisar ‘Só na terça-feira, teremos feijoada’, e chegando numa terça-feira, o atendente poderá de novo dizer ‘na terça-feira teremos’ (como se quisesse dizer ‘na outra, nesta não’), já que o atendimento é sempre no ‘futuro’. O enunciado, para manter a semântica contextual, deve estar no presente do indicativo: toda terça temos feijoada, e lá aparece o cliente numa terça-feira (todas as terças-feiras) com a certeza de que vai encontrar o tão-esperado prato típico.
Esses plurais são necessários por serem pouco divulgados: pode-se afirmar que não é toda obra didática, como muitas das que já usei, que traz a explicação para a flexão correta do plural dos compostos dos dias da semana: ambos os termos flexionam – segundas-feiras, terças-feiras, quartas-feiras, quintas-feiras, sextas-feiras. Fale com entonação: Todas as terças-feiras temos feijoada.
Pausa: estranha é a linguagem que diz ‘Tenha seus documentos em mãos’. O cidadão deve estar, exatamente, com as duas mãos ocupadas, segurando seus documentos? ‘Ter em mão’ significa estar com o documento disponível, previamente, separado para consulta. Assim, como se diz ‘estar com tudo em dia’, devemos dizer ‘estar com o documento em mão’ para facilitar a resposta, o preenchimento dos dados. Ter o documento em mão, estar em dia com as obrigações.
É interessante observar o usuário dizer a alguém “Obrigado, pai!” para caracterizar um agradecimento, e às vezes, o fulano a quem o outro agradece nem lhe é conhecido, muito menos seria seu ‘pai’. O significado seria como ‘cara legal, meu peixe (usado no popular)’ entre outros. Essa é uma linguagem afetiva e figurada que expressa consideração, além do agradecimento. Muito melhor que aquela besteira de chamar o outro de ‘tio’, que cheira muito a uma linguagem pejorativa. Imagine alguém lhe dizer ‘Você é um pivete!’.
Você usa ‘empresa situada na rua’ ou ‘empresa situada à rua’? Seria fácil a resposta, uma vez que não se usa ‘fulano mora ao bairro’, mas ‘no bairro’; logo, uma empresa situada ‘no bairro’ e não ‘ao bairro’. É preciso explicar, pensar e entender. Volte ‘amanhã’, que lhe darei uma resposta com mais profundidade.
Se disser que este artigo ficou bestinha, vou concordar com você. Obrigado.
Teixeira de Freitas, BA, 16 de março de 2017. João Carlos de Oliveira.