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Vocábulos com as terminações ‘inho’ e ‘im’, afetivos ou pejorativos, são abundantes

Está em dúvida: mindinho ou mindim? Abrace a ambos. Meu Padim Ciço pediu. ‘Nigrim‘ é ofensivo.

O sufixo ‘inho‘ torna-se ‘im‘. A Gramática prefere ‘povinho’; o falar típico, ‘povim’. Em todo o sertão baiano, nas Gerais das Minas, em campos ribeirinhos, por esses cantões do Território Nacional, o linguajar coloquial abraça esses irmãos gêmeos.

A linguagem falada é supimpa. Afetivamente, molequinho é molequim; homenzinho, homenzim; menininho, meninim.

Em novas veredas, o trenzinho passa com a mesma carga: o falar, o sotaque e a semântica, que têm o mesmo peso. O regionalismo não distingue o bolo de mandioca do bolo de macaxeira. ‘Conzida’, compadre, desse goela a baixo.

Im no mineirês caipira é assíduo: alvim, baixim, bonitim, branquim, gostosim, quentim, rapazim, safadim, trenzim. Precedido de z, pode ser pejorativo: ladrãozim, professorzim, medicozim, juizim.

Inho é tão variável quanto o falar coloquial: Eta! mesinho frio este junho! Assinzinho, minha menina! O filho da mãe é bastardozinho. Com dengo, faz beicinho por qualquer motivo. A menina é um diabinho.

Pai Dindinho (o avô), ou Pai Dindim, traz na algibeira do jaleco ou no alforje um ‘trocadim’. ‘Dindin‘ não é grafia certa quando o banco quer emprestar ‘mil-réis’ a preço de ouro ao necessitado. Vocábulo terminado em IN só no Francês. Aportuguesado, passa a ‘im’: mutin, motim. Com outra vogal, segue o mesmo critério: ‘bâton’, batom; ‘crépon’, crepom; ‘coupon’, cupom. Cupim, o animal ou a saliência grossa no pescoço do boi, vem do tupi. Morim, pano branco fino de algodão, vem do malaio ‘muri’. Dindinho, ao visitar minha mãe (casada, saiu do Garajau para morar em Cachoeira Grande, distrito de Jacobina, Bahia), chegava montado num selim na mula quatralva, trazendo brevidade, cuscuz, e frutas sertanejas: umbus, mangabas, guabirobas, ‘bagens’ de jatobá. Foi muito bonzim.

O cara é malandrim, doidim para apanhar a prenda. No mar, pesca-se lagostim. O Governo não aprova motim. O músico toca clarim na festa de debutantes. O mundo ‘im‘ é enorme.

A Mata Atlântica tem o frondoso angelim, de madeira resistente, cuja casca serve de vermífugo. A culinária, o aipim, ou macaxeira. A ‘periquita’, mandioca brava, que mata jumentinho ruim, não é mais ‘prantada’. Alecrim é arbusto medicinal; arlequim é personagem da comédia ou palhaço, que renasce em baile de carnaval.

Alevino, na fala cabocla, torna-se alevim, que se entende sem conhecer piscicultura. O que nasce na lagoa ou no riachinho está morrendo asfixiado tal o desrespeito à Natureza. A mata ciliar inexiste. A voçoroca, que causa assoreamento, é vista de longe nas encostas de toda a Nação Tupiniquim.

O bacorim, ou bacorinho, é o porquim, que grunhe feito bicho feroz. O bandolim, instrumento de corda, é do Italiano ‘mandolino’: ‘in’, em Português, não! Tudo com im: boletim, botequim, brim, bucim, benjoim, balim (bala de festim, para afastar vândalo ou meliante). Benjamim. Azevim, variante de azevinhoé arbusto, de cuja madeira se fabricam figas para afugentar o mau-olhado. A grafia se assemelha a azeviche, cor negra do bonito cavalo marchador.

“Me dá uma esmola pelo amor de Deus!”, diz o cego falante, que desconhece a ênclise. Faça-me o favor de passar a salada! Melhor o popular: ‘Me passe a salada’. O repórter é que não deve dizer “Nos acompanhe nessa aventura”.

O cego repete sua ladainha para ganhar um trocadim do mineirim que passa. Esse, muito sabido, ao ver o cavaleiro (que cavalheiro!), diz em voz alta: “Que cavalo bonito!”, ao que o cego retruca sorridente “E gordo, meu amigo!”

Cego ‘falso’. É preciso desmascará-lo. O cego, conhecedor da vida, não usa máscara alguma: cavalo magro, por dedução lógica, não é bonito. Cavalo velho, de experiente, não se assusta com jurumim.

Chopim é ave invasora, que põe os ovos nos ninhos alheios, cujos filhotes são criados por pais ‘adotantes’. Barrotim pode ser pequena trave ou porco novo, um marrote.

Para sabermos tantos nomes, temos que ‘ouvir’ bem o falar regional.

Xelim! Não confunda com selim, usado na bicicleta ou peça fina da montaria. Aquele é moeda corrente em alguns países africanos ou a vigésima parte da Libra esterlina, moeda inglesa. Zepelim é um balão cilíndrico: enorme charuto ‘que voa’. Que gerigonça! Xaxim é palmeira, que dá caqueiro ecológico. Em Santa Catarina, como se diz no pasquim, essa família de Palmáceas corre risco de extinção. Cadê o Ibama? E o deputado, o senador?

Turim é cidade italiana. ‘Vasquim’, como quer a torcida adversária, é cognome de time futebolístico. O português não gostaria que esse nome sofresse tanta alteração. E de folhetim em folhetim, nasceram os romances no Brasil colonial. A Moreninha. Mesmo assim, foram lidos. Hoje, de preços altos, poucos os leem, e outros, aos montes, têm erros gráficos. Tão crassos, que doem! Mocassim é sapato de indígena ianque.

Tintim por tintim, fica difícil a citação de tudo. Talharim é espécie de macarrão, surubim é peixe gostoso, o pintado. Serafim é antropônimo charmoso, que ninguém mais quer colocar nos filhos; Cauã tomou a frente. Celamim, medida do alqueire, virou salamim, que deu salaminho, não apenas pequeno salame. Dê-me um quilim de amendoim; espadachim é luta oriental, nosso caratê com uma espada fina. Um arrozim quentim é uma delícia, seu vizim que o diga. Pudim, do Inglês pudding, pode ter um gostim acre, mesmo doce. Pingolim é a pistola do menino, arretado, que, com 12 doze anos, já monta burro xucro, mandacaru que não floresce. Peitim, mamãe, que o menino chora de fome!

Mirim ou miudim. Marfim é ‘osso branco’ de elefante. Martim é ave de beira de rio, que captura peixinho distraído. Seu ‘Lezim’, o vizinho contador de piada, tão grudado como um micuim. Nanquim é cidade chinesa, que deu origem à tinta. Guaxinim, o mão-pelada, é animal carnívoro, que ‘lava’ os alimentos antes de devorá-los. Seu Manuelzim, o maruim me picou. Gim é bebida, gergelim é planta ou semente medicinal.

A água, estopim para a próxima Grande Guerra.

 

João Carlos de Oliveira

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