O ato de falar em público é tarefa árdua. Seria fácil para alguns, mas os afoitos costumam usar ‘frases’ que dizem ‘pouco’.
A oratória com eficácia é dom.
Para todo aprendiz deve haver caminho inicial simples: não dizer além do que sabe, não inventar, não querer ser ‘mestre’ (se é ‘iniciante’). Uma forma primorosa de ser seguro é assumir que não se trata de um Júlio César, imperador de Roma, mas sem dizer ao público que tem dificuldade. E começar.
Nessa hora, é preciso ser lacônico. O laconismo, do Grego ‘lakonismos’, modo de falar notável pela brevidade, concisão e energia (definição de um dicionário), é ‘um grande professor’. Ensina ao aprendiz como deve proceder na sua oratória neófita. O neófito se tornará, em pouco tempo, também um professor. E o laconismo, de grande professor, se tornará um grande mestre.
Membros de uma ONG, cuja linha é a filantropia, comprometidos com o seu objetivo (ajudar, auxiliar, tirar cidadãos da rua – tarefa difícil, mais árdua que falar em público), no momento de justificar seu trabalho, falavam termos soltos, talvez desconexos, com gesticulação intensa (as mãos vão de um continente a outro), e usavam ‘é… tipo assim… sabe…’, sem conseguir uma explicação convincente.
Não são ‘membros’ incapazes, têm grande visão de trabalho, mas na hora de mostrar que o poço d’água é uma cacimba, querem mostrar ‘uma grande barragem’. Assim, não. O professor não vai ensinar o aprendiz a carregar ‘cem tijolos’ de uma só caminhada.
O começo é lento. Os passos são medidos, vagarosos, meticulosos. Um tijolo de cada vez, um passo menor, para depois um maior. Na segunda viagem, analisada a topografia, a distância, dois tijolos, mais três… e, em breve tempo, os tijolos estão no lugar certo.
O laconismo, ‘notável pela sua brevidade’ (a ‘brevidade’ da vovó, doce com tapioca e ovo caipira, saía em pouco tempo e era gostosa), consiste em dizer pouco, mas bem. Deixe a gesticulação excessiva de lado, abra o sorriso e seja sincero. E pense: ‘não vou falar muito, mas vou falar o que sei’. Será um grande orador! O caminho vai ser longo, mas a boa oratória começa assim. O aprendiz carrega o primeiro tijolo.
Os grandes oradores também foram aprendizes. Certamente, Rui Barbosa (o maior jurisconsulto do fim do Império e de grande parte da República, no Brasil), começou devagar, cuidadoso. Deu um sorriso, falou uma frase de efeito. Analisou-a e seguiu sua trajetória íngreme até atingir o cume e ser aplaudido.
Livros que tratam de ‘Como falar em público’ nem sempre mostram essa simplicidade. Mesmo no improviso, ‘o orador’ deve buscar um fato: “Meu pai morou aqui”, e vai embora. “Eu conheço esta cidade”, e galgará os píncaros. “Todo homem tem um saber; seu Manuel, que está aqui a nosso lado, é que nos ensina muito com seu trabalho” (citam-se seus afazeres), e o orador será ovacionado.
San Tiago Dantas (Francisco), carioca, e político por Minas Gerais, ministro, grande orador, foi simples, e com a ‘envergadura’ de uma árvore menor, mostrava-se ‘um jequitibá, uma peroba’, e com sua copa frondosa cobria outras árvores, fazendo grande efeito salutar: sua sombra protegia a todos, grandes e pequenos.
Tancredo Neves (com quem convivi por algum tempo: primeiro lhe fui apresentado no Alto das Mangabeiras, na Serra, em BH, em sua casa; depois, no Ginástico, que seria no centro, em convenção que escolhia candidatos à Câmara Legislativa Mineira; terceiro, em Serra dos Aimorés e Nanuque – ele candidato a Governador do Estado e eu, a prefeito de Nanuque; falava eu pouco, e ia aprendendo; ele falava bem, com tom pausado, sempre, sorridente, incentivando os oradores iniciantes, e os aplaudia), foi grande orador. De olhar fixo, com uma frase inicial, com uma citação que envolvia o momento (como o fez em as Diretas-Já), empolgou e deu seu recado, mas sendo ‘breve’ e simples. Nada de trejeitos nem de gesticulações desnecessárias.
Ser lacônico é bom: não ‘curto e grosso’, mas breve, conciso; dito ou escrito em poucas palavras, segundo o estilo dos habitantes da Lacônia (região grega, cuja capital é Esparta; os espartanos tiveram a reputação de falarem pouco). O laconismo, portanto, é excelente caminho para quem quer falar em público. Os aplausos virão aos poucos; o resultado será triunfante.
Numa audiência, o bom advogado, primeiro, ouve atencioso e respeita a fala de outrem, depois se manifesta. Aprende-se muito com esse estilo e ganham-se alguns pontos.
Este artigo é que não foi tão lacônico por o assunto requerer maiores detalhes. Isso é quase científico.
Pausa: 1. Homônimos homófonos que nos atemorizam: ‘ouve’, de ouvir: Ele ouve bem, e ‘houve’, de haver: Houve um fato que nos chamou a atenção. Ambos nos podem enganar. 2. Cerrar, serrar. Cerrar, fechar: O comércio cerra as portas, comumente, às 18 h. Os punhos estão cerrados. Serrar, cortar: O carpinteiro serra a madeira com maestria. Madeira serrada para cobrir a casa custa caro. Paralelamente, lembre-se: descerrar, abrir: “O Mercado Municipal descerra as portas por volta das 8 h da manhã e cerra às 6 h da tarde”, disse o inspetor do local.
Volte aqui para me ver amanhã. Abraços.