Adjetivos familiares os terminados no sufixo nominal ‘ão’, usados quase sempre afetivamente. Bonitão, gostosão!
A partir daí, o feminino, com a terminação ‘ona’, reina no ambiente: bonitona, gostosona, gulosona, comilona!
Valem a entonação e a ênfase no falar, tudo associado ao que acontece. É ‘regra’ o não-compromisso com a norma culta. O pilar da conversa é a coloquialidade.
Se o usuário tem intimidade com a pessoa a quem é feita a referência, aí, então, a coisa flui melhor.
Uma ou outra vez, o afetivo passa a irônico, e o sarcástico a pejorativo. Parecido com o uso de ‘inho’ afetivo (amiguinho, namoradinho, suadinho), ‘Minha amigona acaba de chegar’, e o popular se torna solene. De amigão a amigona, de chorão a chorona, vai-se de uma escala de 1 a 10 em pouco tempo. Palavras familiares é que não faltam. Mas ‘Seu engraçadinho!’ pode-nos fazer rir.
Se a amiga diz à outra que nunca fez sexo (que é virgem ou donzela), e o que informa não procede, a outra (sarcasticamente) diz: “Sua donzelona, descarada, vá pra lá com essa conversa para boi dormir!”
Por ser de semântica afetiva, esse elemento mórfico jamais induz a uma ofensa ou discriminação, em virtude da aproximação entre os dois lados. O bom-senso não permitiria que se falasse desse modo com um desconhecido (seu cagão!) nem com idoso ou criança. Poderia ser ato discriminatório. Os derivados sufixais desse naipe são abundantes e mantêm-se vivos no seio familiar, na linguagem dos barezinhos e nas piadas.
‘Babona’ indica a amiga que saliva muito ao sorrir; ‘bobona’, a ingênua, que acredita em todos e em tudo.
Conta ex-aluna que, num colégio interno feminino, a madre se dirigia às suas pimpolhas sempre de forma carinhosa mesmo para reprimi-las: “Sua ‘popona’ não faça isso!” De origem europeia, a corruptela da madre servia para dizer ‘bobona’, trocando os fonemas por ter sotaque forte. Mesmo sob o tom da seriedade, nesse momento, todos riem.
Termo culto, que, apenas, rima com alguma ‘ona’ da vida: garotona!, e não passa disso, ‘amazona’ se confunde como feminino de cavalheiro (dama), mas é de cavaleiro, cidadão hábil em equitação.
Dona Carmona! Pouco usual hoje.
Cafona, do Italiano ‘cafone’ (simplório, tolo), pode induzir a erro. Pouco simpáticos, seus sinônimos nos obrigam a pensar: antiquado, obsoleto, retrógrado, fora de uso, não-usual.
Bonito o feminino de bonachão (filantrópico) – “Imagino Irene entrando no céu:/ – Licença, meu branco!/ E São Pedro bonachão/ – Entra, Irene. Você não precisa pedir licença” (excerto de Irene no céu, de Manuel Bandeira; excelente poemeto): bonachona. Enfático e poético, rima com pedinchona, pidona.
Como não rir de ‘bolachona’, não exatamente o aumentativo familiar de bolacha, o bolachão, mas a gordinha ou gorducha.
A chorona! Quantas versões nos insinua! Chora por qualquer coisa, ri e se desfaz num segundo, já alegre e reconhecedora de sua psicologia ultrassensível. Mas se trata de uma boa amiga. Japona, ele ou ela. Não se trata da jaqueta, mas de um(a) ‘japa’, simpático(a).
Uma atendente com essa face meiga, olhos miúdos, retraídos e pensativos, tinha uma mancha avermelhada (de nascença, com se diz), delicadíssima, no lado esquerdo do rosto rosáceo. Uma linda japa! (Quanto adjetivo, professor!)
Sua bufona, cuja ventosidade é solta, como farinha que esvoaça em piquenique à beira de praia na hora do vento rebelde. Aquela moçoila de lábios grossos, boca carnuda: sua bocona! A amiga matreira: sua cachorrona, afetivo que descontrai ambiente pesado.
Que bom!
‘Estar na lona’ não é ter seu amparo ou proteção, é viver momento inflacionário sem um mil-réis, sequer; perrengue, na bancarrota. O bolso vazio. Foliona é culto, usado na fase carnavalesca como adjetivo de texto jornalístico. O folião e a foliona referem-se a beldades ou celebridades. Se não o forem, o adjetivo é outro. Os ‘da pipoca’. Esvoaçam-se os empáticos e sobram os miúdos ofensivos.
Diferenças gritantes!
E a fujona?
Conta o piadista que a moça visita o namorado. Com forte piripiri (diarreia braba), não quer contar para ele. Pensa que não seria atacada. De repente, o ataque! Pede um copo d’água para disfarçar, e vem a dor lancinante, doendo até as vísceras mais ocultas. E resolve sair à francesa (de fininho). Anda lenta, e ele se espanta, mas vai devagarinho por trás e a cutuca com os dois indicadores (deixa o copo no alpendre), e carinhosamente lhe sussurra: “Sua fujona!”
A bichinha se borra toda! Não teve como segurar a liquidez fétida.
A maratona grega nada tem a ver com a mocetona, grande moça jovem e bonita, feminino de mocetão. A filona, não a fila grande nem a fêmea de um grande fila (o cão), mas uma pessoa que nunca paga a conta. Só fila! Também o filão.
Marafona? Boneca de trapos. Na gíria, meretriz. E galrona? Feminino de galrão, que fala muito, sem pé nem cabeça.
‘Nona’, freira ou monja, mas também a vovó simpática, termo emprestado do viver italiano, linguajar de linharenses, no ES. A peona é feminino de peão, a peoa ou a peã. A prima-dona é a cantora maior de uma ópera. ‘Prima’, forma apocopada de ‘primeira’. Plural preferível: prima-donas.
Dona Ramona, que mulher bonita. Uma mulherona.
A ratona é a ratazana, ou a ladra. Ladrona, todos usam; ladra soa como ofensa do falar difícil. A valentona é a metediça a valente sem o ser. A mijona tem incontinência urinária em idade tenra, ou alguma síndrome. Urina nas pernas. Mexelhona, a que mexe em tudo que não é de sua conta. Pare aí, menina! Sua mexerica…
‘Maria-mijona’, mulher de saia muito comprida. Machona, máscula, que, na tradição popular, topa tudo, amansa burro bravo e mantém a propriedade em funcionamento pleno. É o cabeça do empreendimento. Falastrona, só diz coisa com coisa, falando pelos cotovelos.
Uma estradona que nos relembra termos do conviver simples pelo Brasil afora, guardados no recôndito da sabedoria popular.
Abraços de João Carlos.