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Lojas ‘Moderna’; Ovos ‘branco’. Qual a diferença quanto à não-flexão dos adjetivos?

A concordância nominal tem sofrido bastante.

A parte mais fácil seria a concordância do adjetivo simples em gênero e número com o substantivo a que se refere – menino bonito, menina bonita, meninos bonitos, meninas bonitas -, mas também sofre grandes baques.

Haja vista que se encontra no dia a dia ‘ovos vermelho, ovos branco, ovos caipira’. O substantivo ‘ovo’ não é obrigado a vir no plural; ficaria muito bem no singular – ovo vermelho, ovo branco, ovo caipira -, momento em que não haveria lapso com a concordância nominal.

Não há necessidade de o produto ser anunciado no plural: tecidos, carnes, suplementos agrícolas. O singular fica bem: A loja vende tecido; o açougue vende carne de porco; o empresário vende suplemento agrícola.

Ficaria legal que se estampassem placas com os dizeres “Vendem-se arrozes”, “Vendem-se feijões”? Não há necessidade, nem ficaria bem. Por que, então, seria obrigado a se dizer “Vendem-se ovos”?

O hábito é que foi criado, mas não se trata de uma exigência gramatical ser usado ‘ovos’.

Por essas e outras razões, os enganos vêm aparecendo às pamparras. No lugar de o supermercado anunciar ‘ovo branco’, simples assim, estampa ‘ovos branco’, considerando o singular forma incorreta. A forma correta é renegada: o adjetivo deve concordar em gênero e número com o substantivo a que se refere. Portanto, ‘ovos brancos’, ou ‘ovo branco’, e tantas qualificações necessárias para diversos produtos. O anúncio não diz ‘laranjas-pera’, mas ‘laranja-pera’ (usam sem o hífen).

Ficaria ‘legal’ que a mesma empresa apregoasse ‘Vendemos canetas vermelha‘? ‘Detergentes natural‘? ‘Queijos fresco‘?

Se a concordância nominal exige ‘canetas esferográficas, detergentes naturais, queijos frescos’, então, o padrão gramatical determina ‘ovos brancos, ovos vermelhos, ovos caipiras’. A não ser que o enunciado considere bom marketing usar ‘caneta esferográfica, detergente natural, queijo fresco’, tudo no singular, conclusão que nos leva a dizer que ‘ovo vermelho‘ (como outro enunciado) seria uma ótima pegada.

Mude-se o costume do cachimbo, e a boca deixará de ser torta. O ruim é que os danos contra a Gramática acontecem em setores alfabetizados.

A não que estejam confundindo o nome de fantasia de uma empresa – Lojas Milionária, em que o adjetivo pode estar em desacordo com a regra, destacando o efeito enfático do marketing, com a concordância nominal do adjetivo com o substantivo.

Deixando, momentaneamente, o adjetivo de lado, lembremos a concordância de qualquer outro termo com o substantivo a que se refere: (numeral) dez reais, em que não podemos usar ‘dez real’. Se o numeral está no plural, é porque a regra exige que a concordância acompanhe a flexão do outro termo (reais, e não real). Um homem, dois homens; o chefe, os chefes; seu filho, seus filhos.

Na voz passiva analítica, seria hábito o esquecimento de que o particípio, com valor de adjetivo, também concorda (obrigatoriamente) com o sujeito a que se refere. ‘Marcaram uma reunião para hoje às dez horas no clube campestre’ (voz ativa). Passemo-la para a voz passiva analítica: ‘Uma reunião foi marcada para hoje às dez horas no clube campestre’. Data, horário e local são termos secundários. O básico deve estar de acordo com a norma. ‘Marcaram a reunião’. ‘A reunião foi marcada’. Como não seria comum o uso da frase na voz ativa, a preferência recai na voz passiva analítica, mas vivem pisando na regra: foi feito uma análise, foi desmarcado a data, foi anunciado a chegada do prefeito. exemplos comuns no dia a dia. É diferente de se usar “Foi anunciado que o prefeito vai chegar.”

Ficaria incompreensível a voz passiva sintética no plural? Marcaram-se reuniões imediatas. Fizeram-se análises severas dos documentos. Anunciaram-se diversos encontros de deputados estaduais naquele distrito.

Um item que parece desconhecido de anunciantes é serem usados ao mesmo tempo dois ou mais adjetivos referentes ao mesmo substantivo. Vendemos carnes suína e bovina. Fica bem, mas parece pouco usual ou desconhecida. Assim, o supermercado poderia anunciar, sem medo de errar: Ovos branco e vermelho com 20% de desconto.

Por que não optam por esse modelo? Seria o medo de errar? Seria o desconhecimento da regra? Considerariam o enunciado feio e anacrônico?

Um paralelo: Vendemos linguiça de porco caipira. Seria a linguiça caipira ou o porco? Se o porco é de origem caipira, a linguiça também o é, mas o certo é que o primeiro enunciado não encaixa legal na tampa do baú: Vendemos linguiça caipira de carne de porco. E agora? Se ainda o leitor considera a frase ruim, deixa-se o espaço para ser criado o modelo mais funcional e colocado na rua mais próxima de sua casa.

Rua mais ‘próxima’ de sua casa ou rua mais ‘próximo’ de sua casa? Ambas estão corretas: a rua próxima, ou a rua que fica próximo (perto) de sua casa.

Desfeito o paralelo, analise esta linguagem: Equipamentos solar. Não se trata de marca nem de nome de fantasia, portanto, houve o lapso: equipamentos solares, assim como restos mortais, empréstimos bancários, nomes famosos, produtos nacionais e importados. Seria aceitável alguém usar ‘será oferecidas aula, será oferecida aulas, serão oferecidas aula, aulas serão oferecida’? Em nenhuma delas, ficou consolidada a concordância nominal elementar: o adjetivo concorda em gênero e número com o substantivo a que se refere.

Estou quase terminando.

Em muitos textos, há o registro de ‘pelo o’. Pare um pouco. ‘Pelo’ é a contração da preposição ‘por’, que se torna ‘per’ (sua forma primitiva) com o artigo masculino singular ‘o’. O trabalho foi feito pelo homem. De onde viria esse segundo ‘o’? O certo é que não existe. Trata-se de um vício de linguagem ou desconhecimento. Talvez, considerem que ficaria mais elegante e seguro dizer: A palestra foi feita pelo o gerente da loja. Há ledo engano.

Não confunda ‘denuncia’ (verbo, Ele denuncia o crime), com ‘denúncia’ (substantivo, Ele fez a denúncia do crime). Como há ‘Ele renuncia ao cargo’, existe ‘A renúncia ao cargo’. E ‘Eu inicio o trabalho’, ‘O início do trabalho’.

Brevemente, a análise entre os termos nutricionista e nutrólogo. O dia a dia não deixa clara a diferença entre o significado de um termo e outro.

Como você escreve a palavra que designa ‘o dispositivo elétrico que faz vibrar uma caixa de ressonância, produzindo sons para chamar ou advertir? Também chamado campana, sino, sineta. Grafam-na de forma incorreta, confundida com ‘companhia’. Incluída a pronúncia, lembre-se de tainha, bainha, rainha, Alagoinhas, fuinha, tabuinha, picuinha, ladainha etc. Não existe ‘campanhia’, como se vê. A grafia é: campainha (cam-pa-i-nha).

Encontrar-nos-emos amanhã se o amanhã (nos) permitir novo dia, numa manhã de belas paisagens.

Oxalá!

João Carlos de Oliveira

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