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O que é a pedofilia, hoje? Como foi definida ou entendida, ontem?

Este assunto é delicado, e não queremos polêmica, tão-somente, mostrar as duas versões gramaticais do vocábulo. O pior não é a definição ‘pesada’, mas a prática criminosa disseminada, fruto do desvio de conduta, da falta de civilidade humana de alguns.

Afirmamos que a Semântica é a parte das Gramáticas Normativa e Histórica que trata da evolução do significado das palavras.

Sabemos que um idioma não é estático, o que é bom, e a todo instante há termos que sofrem alteração de significado, a que podemos chamar de evolução semântica dos vocábulos.

Na linguagem simples, podemos dizer que a Semântica muda o significado de uma palavra. Certas palavras têm muitos valores semânticos, o fato de se enquadrarem na polissemia: a palavra tem muitos sentidos, conforme o contexto em que está inserida.

Na definição léxica, Semântica é o estudo da evolução do sentido das palavras através dos tempos e do espaço; o mesmo que Semiótica, Semiologia, Semasiologia, Sematologia.

Essa ciência linguística dá os exemplos de que caderno, rival, torto, palavras que no velho Português significavam respectivamente grupo de quatro objetos, convizinho do rio, dano, passaram a significar, no Português moderno, reunião de folhas de papel, competidor, torcido.

Por outro lado, fumo e moço, em Portugal, significam vapor e criado; no Brasil, têm o sentido de tabaco e jovem.

Ainda podemos ponderar que vapor e criado têm amplo uso no dia a dia, como dizer que da chaleira sai um vapor forte, que existe barco a vapor, que fulano foi criado com extremo rigor etc.

Ainda que fumo é uma espécie de planta que dá a produção de tabaco, chamado fumo de rolo, fumo de corda, cujas folhas são usadas, também, na produção do charuto.

Quanto à Polissemia, curioso é que uma frase registra isto: O de cabeça grande é o cabeça da insurreição.

Certamente, podemos entender que O cabeça grande é o chefe da insurreição, o indivíduo que chefia a revolução, o revoltoso.

Esse debate vai longe, o que não é o objetivo básico do comentário.

É preciso, da forma mais sucinta possível, dizer que a ‘pedofilia’ foi a ‘ciência pedagógica’ que conduzia as crianças ao conhecimento, ou ao saber, para que tivessem sua formação educacional.

O dicionário prático ilustrado, datado de 1956, editado em Porto (Portugal), não registra o substantivo pedofilia, apenas pedófilo, definindo-o deste modo: do Grego paidóphilos, amigo das crianças (sic).

Deduzindo desse aspecto, a pedofilia seria ‘a ciência que cuida das crianças a fim de conduzi-las ao saber’.

‘Pedo’ é um radical grego com o significado de ‘criança’, ‘filo’ de amigo, e ‘filia’, de amizade, termos usados em muitos vocábulos, como filosofia, filantropo, filantropia, pedagogo, pedagogia, odontopedia, odontopediatria, odontopediatra.

O dicionário Larousse Escolar da Língua Portuguesa, de 2004, editado em São Paulo (Brasil), diz o seguinte, já traduzindo o aspecto semântico hodierno da palavra: Pedofilia, condição de pedófilo. Crime de prática sexual com uma criança ou divulgação de material pornográfico com crianças.

Pedófilo: pessoa adulta que tem atração sexual ou fantasia erótica com crianças, ou que pratica ato de natureza sexual com uma criança.

Notamos que essas duas são definições condizentes com a atual realidade, que nos choca, crime (de)codificado entre nós pela lei vigente.

Se buscarmos o dicionário digital, podemos encontrar definições outras, um pouco diferentes, mas voltadas à prática do crime com crianças.

Uma delas diz que a pedofilia é uma doença, um desvio de sexualidade, que leva um indivíduo adulto a se sentir sexualmente atraído por crianças e adolescentes de forma compulsiva e obsessiva, podendo levar ao abuso sexual.

A definição é generalizada, mas cuida de mostrar um lado do crime de pedofilia, um transtorno da preferência sexual, tema que tem lastro amplo na OMS (Organização Mundial de Saúde), combatido, mas não diminuído. Seria ótima a sua erradicação, e que o termo voltasse a seu sentido original, assim como faz um bom pedagogo.

Michaelis 2000, Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, editado pela Reader’s Digest, Melhoramentos, SIMPLESMENTE, registra o aspecto antigo ou histórico do vocábulo:

Pedofilia (pedo+filo+ia), Amor às crianças.

Pedófilo (pedo+filo), p us, Amigo de crianças; que gosta muito de crianças.

Será que, em posteriores edições, esse dicionário mudou o conceito para a visão moderna? O dicionário pode ser condenado pelo fato de trazer uma forma, que hoje é criminosa, de definir o vocábulo?

P us é a abreviatura de Pouco usado. Melhor dizer, não mais usado, que caiu no ostracismo. Usa-a após o termo pedófilo, mas não usa para pedofilia. Algo estranho?

Vamos ao que diz o dicionário Caldas Aulete, 5a. edição de 1970, grande obra do passado, sobre o que são pedófilo e pedofilia respectivamente.

Adjetivo, que gosta de crianças. Fonte: Grego pais, paidos (criança) + philos (amigo).

Substantivo feminino, sentimento do pedófilo; amor às crianças.

Não podemos tomar, hoje, o significado dessas palavras, porque se dissermos que o professor é o grande pedófilo, seremos pouco entendidos ou estaremos afirmando algo que constitui crime.

Ainda que o significado antigo não é, de certa forma, conhecido cotidianamente, que a afirmação ‘Ele é bom pedófilo’ não será entendida no seu sentido original.

As mudanças boas são bem-vindas, mas a atual é horrível, para se dar uma opinião pessoal.

Agradecemos as visitas a este site, e que tenham boa leitura.

A leitora Simone (nome fictício) pergunta se a expressão ‘Nos amamos’ é correta?

Sim, ‘correta’, na sua modernidade, usando a liberdade poética, o livre expressar atual, mas a Gramática Normativa diz que não devemos começar a frase com pronome oblíquo (nos caso, ‘nos’, relativo a ‘nós’).

O pronome ‘nos’ está em próclise mesmo sem haver termo que a exija. É comum que a linguagem popular use ‘Te vi na rua ontem’, ‘Se liga, cara, ‘Me manda um correio eletrônico’, entre tantos outros exemplos.

Em outras redações, poderia vir assim:

Nós nos amamos. Amamo-nos.

Interessante lembrar que o Espanhol, por exemplo, não condena a forma de começar a frase com o pronome oblíquo.

Te levantas a las siete? (Tu te levantas às sete horas?)

Lo estoy haciendo (Estou fazendo-o, eu o estou fazendo).

La estás dejando de inmediato (Tu a estás deixando de imediato, tu estás deixando-a…).

Fica assim.

Obrigado pela leitura.

 

 

 

 

 

 

 

João Carlos de Oliveira

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