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Voz passiva analítica: As achas são levadas pelas águas do riacho (após a chuva torrencial)

A voz passiva analítica tem força poética, e a usamos quando o destaque se dá com o agente da passiva.

A expressão As achas são levadas pelas águas do riacho (após a chuva torrencial) evidencia essa relevante função da voz passiva analítica, que seria muito usada no dia a dia.

A Gramática Normativa traz uma seção específica para tratar do assunto, a voz passiva, destacando as duas formas: a voz passiva analítica e a voz passiva sintética.

Hoje, a tentativa de deixar claras essas duas formas de expressão, tanto na linguagem popular como na culta, ambas usadas em todos os tipos de mensagem, a depender do estilo do redator.

A mensagem nasce do desejo de comprar, da necessidade de vender, da aspiração poética, da narrativa policial, do texto emblemático dos grandes escritores, da linguagem cotidiana, dos anúncios, como o famigerado Conserta-se bicicletas (plural: Consertam-se bicicletas), que podemos ver no dia a dia.

Importante observar este aspecto: a voz passiva analítica é o lado ‘passivo’ da voz ativa, e esta normalmente surge da construção frasal que contém o sujeito ativo, o verbo transitivo direto e o objeto direto.

Certamente, na voz ativa, destaca-se o sujeito ativo; na voz passiva, o agente da passiva.

O homem constrói a casa. Voz ativa. Sujeito, o homem. Predicado verbal, constrói a casa. Verbo transitivo direto, construir, conjugado no presente do indicativo, na terceira pessoa do singular (para concordar com o sujeito simples ativo, o homem), constrói. Objeto direto, a casa. Constrói o quê? a casa (resposta fácil de ser observada).

Passemos a frase para a voz passiva analítica, em que se usa o verbo ser, como verbo auxiliar.

A casa é construída pelo homem.

Na mudança da voz ativa para a voz passiva analítica, é preciso que se considere o tempo verbal da primeira frase, que será mantido na transformação: constrói, presente do indicativo, substituído por é construído(a).

Mudado o tempo do verbo na voz ativa, essa mudança será mantida na voz passiva analítica.

O homem construiu a casa. A casa foi construída pelo homem.

O homem construía a casa. A casa era construída pelo homem.

O homem construíra a casa. A casa fora construída pelo homem.

O homem construirá a casa. A casa será construída pelo homem.

O homem construiria a casa. A casa seria construída pelo homem.

Foram usados os seis tempos simples do modo indicativo: presente, passado perfeito, passado imperfeito, passado mais-que-perfeito, futuro do presente, futuro do pretérito.

Havendo tempo composto, qualquer que seja, o mesmo critério será adotado:

O homem tem construído a casa. A casa tem sido construída pelo homem.

Se o redator quiser, embora menos comum, pode usar o verbo haver no lugar do verbo ter:

O homem construído a casa. A casa há sido construída pelo homem.

O homem havia construído a casa. A casa havia sido construída pelo homem.

O homem haverá construído a casa. A casa haverá sido construída pelo homem.

Certamente, o visitante, neste momento, achará estranha a construção frasal O homem construído a casa (no presente do indicativo), mas se usamos, se é comum a construção O homem havia construído a casa (no passado imperfeito do indicativo), podemos usar, também, se quisermos, se for do interesse do estilo do redator, o mesmo verbo haver em outro tempo: houve construído, havia construído, haverá construído, haveria construído.

A partir dessa mudança, ficaria um pouco mais difícil fazer a alteração da voz ativa para a voz passiva analítica, mas, gramaticalmente, ela existe, e seguindo a regra, pode ser efetuada, como foi mostrado nos exemplos anteriores.

O detalhe é a diferença entre a voz passiva analítica e a voz passiva sintética. De que se trata, então? Por que uma, por que outra?

Segundo os doutos, ou segundo a norma gramatical, a diferença se fundamenta na visão do redator, no momento da mensagem.

Na voz passiva analítica, o destaque fica por conta do agente da passiva: por quem a casa é construída? pelo homem (observado o primeiro exemplo dado).

Imagine se alguém disser ‘Esta casa foi feita por Oscar Niemayer‘. Neste momento, o destaque vai para o arquiteto famoso, Oscar Niemayer, que construiu grandes monumentos em Brasília, uma vez que o termo funciona como agente da passiva.

Fica claro, pois, nessa frase, que o agente da passiva (por Oscar Niemayer) é que ganha o foco semântico, e não o sujeito simples passivo ‘Esta casa’.

Por outro lado, estando a frase na voz ativa, o destaque é dado ao sujeito simples ativo:

Oscar Niemayer construiu esta casa.

E quando acontece a voz passiva sintética, o destaque é dado a quem? A qual termo da frase?

As opiniões não são pacíficas, mas o destaque é dado ao sujeito passivo da frase, porque não temos o agente da passiva na voz passiva sintética, momento em que esse termo foi ‘omitido’ (por ser colocado em segundo plano).

Na frase Conserta-se bicicleta, o sujeito passivo ‘bicicleta’ é o destaque, e muitos achariam que se trata de um objeto direto, e que o sujeito da frase está oculto.

Mas não é isso.

Esse aspecto gera grande confusão no campo semântico da mensagem, razão pela qual costuma haver a construção frasal no plural incorretamente usada: Conserta-se bicicletas.

Na voz passiva sintética, verbo no singular se o sujeito está no singular; verbo no plural se o sujeito está no plural.

Sendo diferente desse padrão, a Gramática diz que houve erro de concordância, ou de redação.

Então, por se tratar de voz passiva sintética, o plural é Consertam-se bicicletas (isto é, bicicletas são consertadas, não sendo revelado o autor do conserto, isto é, quem pratica a ação de consertar, fato não aceito por muitos).

Esse o mesmo caso da frase Aluga-se apartamento. Plural: Alugam-se apartamentos.

Consideram-na uma frase feia, consideram-no um plural feio, por isso, pouco usado, pouco encontrado por aí.

Poucos usam o plural correto: Alugam-se salas. Consertam-se bicicletas. Vendem-se lotes urbanos. Compram-se bezerros desmamados. Vendem-se blocos de concreto. Alugam-se quitinetes. Compram-se panelas velhas de alumínio.

A frase do título é, apenas, um exemplo para a voz passiva analítica.

E se alguém quisesse passá-la para a voz passiva sintética, como seria?

Levam-se as achas (depois da chuva torrencial), uma vez que nesse tipo de passiva não há o agente da passiva.

Pronto por hoje.

Obrigado.

 

João Carlos de Oliveira

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