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Cacófato, bichinho que faz a linguagem ficar feia ou estranha, podendo confundir a mensagem

Sabemos que se trata de um som desagradável.

O dicionário, a fonte de consulta mais próxima, diz que o cacófato, também chamado cacofonia, nome mais usado, é a união de letras ou sílabas de palavras diferentes, resultando em som desagradável ou palavra ofensiva.

Como evitamos a cacofonia?

Praticamente, impossível, a não ser um caso ou outro.

Acontece sem percebermos. Depois do uso, é que podemos ver que a expressão não ficou bem; a sorte seria se o ouvinte ou leitor não tenha notado esse lapso.

Normalmente, a cacofonia não é dita com más intenções.

Sem notarmos, juntam-se as sílabas finais de uma palavra com as iniciais de outra e se forma um termo obsceno ou desagradável.

Olhe ‘o copo lá’, que resulta em ‘copular’.

‘Lá tinha’, que dá a palavra ‘latinha’.

Muitos dizem que a lata de cerveja é uma ‘latra’, que dá o diminutivo latrinha. Deixemos o povo falar, que mesmo assim entendemos. Bom que se saiba o que é a latrina, antiga privada ao lar livre no fundo da casa.

Ela trina maviosamente. (A ave trina, isto é, canta). Ela trina: latrina.

A Gramática Normativa diz que o cacófato faz parte dos vícios de linguagem.

A ‘boca dela’ cria ‘a boa cadela’. Sim, isso é feio, mas não se usou a expressão com o objetivo de ferir.

Mande-me já isso. Mande ‘mijar’ isso.

Vou-me já. Vou mijar.

Meu time não ‘marca gol’. Meu time não (mais) ‘cagou’? O que é isso, cara?

Por cada limão. Porcada. Por cada pessoal. Porcada, pessoal.

Para substituir ‘por cada’, devemos usar ‘por cada um, por cada uma’, para evitar o ‘número de porcos’.

Não podemos condenar a fala popular, simplesmente, porque comete cacofonia, uma vez que uma palavra deixa de existir ou não existia quando uma expressão foi usada.

O grande professor Luiz Antônio Sacconi diz que Camões não cometeu esse vício de linguagem ao usar em um de seus belos sonetos (Soneto 19) a expressão “Alma minha” (Meu bem), como alguns analistas dizem que sim. Não cometeu (repete esse professor), porque no século XVI não ocorria o uso da palavra ‘maminha’ (almaminha).

O poeta, caso a palavra já existisse, a meu ver, estaria usando a liberdade poética. Importa que uma rima é sublime em certo momento. Alma minha tem alto valor expressivo.

O uso do idioma indica nosso nível cultural.

Um exemplo curioso é a expressão ‘teu tio’, normal quando falamos sobre famílias, citada como de som desagradável. Não a conheço, não entendi bem o porquê. Teria pronúncia parecida com a da palavra ‘têxtil’? Tem algo que se parece com o vocábulo ‘teuto’, que indica pessoa de origem alemã, o mesmo que teutônico?

Usamos o adjetivo composto teuto-brasileiro, o indivíduo de origem alemã e brasileira.

Precisamos ver de forma clara o sentido de ‘cacófato’, como sendo ‘algo feio’, acontecimento (linguístico) que se torna de mau gosto, desagradável. Caco quer dizer feio. O contrário é ‘eu’, que significa agradável, bom. Daí, o dicionário dizer que o antônimo de cacofonia é eufonia, o bom som.

Curiosamente, para não confundir, existe a palavra cacófago, animal que come coisas repugnantes. Fago é a raiz grega com o significado de comer.

Lembre: antropofagia, antropófago, fagocitose, homófago, homofagia, rizófago.

Obs.: rizófago é o que se alimenta de raízes, e muitos insetos fazem isso. Besouros podem destruir uma floresta comendo as raízes das árvores até matá-las. Isso não seria comum, mas pode acontecer.

Fica assim.

Caro leitor, peço-lhe mais uma permissão para divulgar parte do meu poema premiado (Tresloucado poema abstrato), que obteve o primeiro lugar no Concurso Nacional e Internacional da Flip Tchê, e um livro, que está no prelo, vai ser divulgado na Flip 2025 em Paraty.

A regra do concurso exige um poema de até 30 linhas, momento em que o poeta deve dizer o que pretende nesses versos.

Minha obra se deu em 26 versos, e hoje vão os 13 primeiros (na ordem), cuja concatenação parece óbvia.

Na próxima edição, o restante. Em outra, as duas partes em si.

 

Tresloucado poema abstrato

 

Sou um pássaro livre, e Safo, voluptuosa poetisa grega!

O sonho lindo de mãos juntas com minha amada,

Porém, acordo a navegar ondas traiçoeiras do Ipiranga,

Tentando-me, veementemente, não morrer afogado.

Inda assim, o famoso ribeirão induz-nos ao amor platônico,

Mas minha iara voa para Paris a ver a Torre Eiffel desfraldar-se.

O requeijão de Jacobina, tão versátil quanto o de Itanhém.

A similaridade é degustada pelos Payayás da Chapada Diamantina

Ao se banharem nas águas tépidas do rio Água Preta zarfeguiano.

Trâmites atuais criam uma jaca amargurada e a esbaforida melancia,

As quais interno-as em uma subterrânea e brasileira Companhia.

Se a mãe desolada me pare na cuité, posso ser o natimorto moderno,

Pois o coitado, já desprotegido, tende a nascer cego e indigente.

(…)

Até a próxima.

 

João Carlos de Oliveira

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