Eita! A dúvida eterna nos deixa sem ação.
Mas vamos tentar esclarecer.
Os substantivos terminados em R fazem o plural com o acréscimo da terminação ES.
Cor, cores. Dor, dores. Flor, flores. Mar, mares. Par, pares.
Aljôfar, aljôfares. Hambúrguer, hambúrgueres. Nenúfar, nenúfares. Pôquer, pôqueres. Zíper, zíperes.
Daí, o questionamento sobre o plural de Lúcifer.
E como flexionamos Júpiter?
Espere um pouco.
Note que cor, monossílabo no singular, no plural, passa a cores, dissílabo.
Pomar, no singular, tem duas sílabas, oxítona (po-mar); no plural, três, paroxítona: po-ma-res.
Nenúfar, paroxítona, tem três sílabas; no plural, passa a ter quatro, um polissílabo proparoxítona: ne-nú-fa-res.
Observe com atenção o número de sílabas das outras palavras acima, no singular e no plural. Se for do seu interesse, relacione palavras de seu conhecimento.
Normalmente, a desinência S, que indica plural, é que deveria ser usada: cor, cors, dor, dors, flor, flors. Etc.
Mas esse critério não é do nosso linguajar, dos nossos falares.
Outro idioma flexiona ‘color, colors; dolor, dolors; flower, flowers’, em que existe um modo de falar ‘seco’, sem a doçura do brasileirismo, razão de usarmos ES, e não somente S.
A Fonologia pede a vogal de ligação E, seguida do S, para que a pronúncia fique mais bonita, açucarada, típica do linguajar brasileiro.
Lá vamos nós no dia a dia com palavras regionais ou não.
Aluguer, o mesmo que aluguel (plural: aluguéis), faz o plural alugueres.
Bem-estar, bem-estares; mal-estar, mal-estares.
Atenção: qualquer (adjetivo, pronome ou substantivo) faz o plural quaisquer, palavra composta em que o primeiro elemento flexiona, e o segundo, por ser uma forma verbal, não. Daí, dizem que se trata de uma palavra que faz o plural ‘no meio’.
Qualquer, quaisquer. Qualquer um, quaisquer uns. Qualquer uma, quaisquer umas. O qualquer, os quaisquer. A qualquer, as quaisquer. Assim por diante.
Então, o normal para o plural de Lúcifer seria Lúciferes, mas um dicionário diz que é Lucíferes.
Note que se trata de uma palavra proparoxítona (Lú-ci-fer); no plural, continua com essa classificação (após receber a terminação ES), mas a sílaba tônica mudou de posição: Lu-cí-fe-res. O acento agudo não pode continuar na primeira sílaba, porque só existe critério na Gramática Normativa para acentuar uma palavra até a antepenúltima sílaba. A anterior a esta não pode ser acentuada.
Lúciferes não existe nem Luciferes (sem acento), mesmo caso de Júpiter.
Eis a resposta para a pergunta da introdução: o acento agudo continua, mas muda de sílaba.
Júpiter no plural é Jupíteres.
Precisamos admitir que só existe um planeta chamado Júpiter, mas em sentido figurado, como se fosse alguém famoso, o grande, esse vocábulo pode ser usado, figuradamente.
Para comparar essa mudança de sílaba tônica, lembre o vocábulo júnior, substantivo ou adjetivo, que faz plural juniores. No singular, proparoxítona (jú-ni-or); no plural, paroxítona (ju-ni-o-res).
Segue o mesmo caso o oposto dessa palavra: sênior, seniores.
Viu aí? Eis o de hoje.
Agora, a segunda parte do texto premiado na Flip Tchê, em primeira colocação, na Poesia.
Tresloucado poema abstrato
(…)
O vagalume sofrido pousa no braço direito de minha cátedra
E nos pede socorro a não ser expulso de seu hábitat:
Quer viver a iluminar as torres digitais do Universo
Antes que todos os pirilampos sejam exterminados.
Embasada na sabedoria de que seu corpo retrata
A mais melodiosa e efêmera poesia abstrata,
A moça desnuda me tuíta sua imagem sensual,
Ao que lhe respondo no Espanhol recorrente:
Eres la princesa en el Desierto del Sahara
Dibujando alegremente el cielo en arena caliente,
La quiero, todavía, mi bella novia.
A par do ora dito, a face da Terra ferve-se e anda doentia,
Entanto, a Poesia, a suprema arte, age a fazê-la altaneira.
Veja lá o resultado do Concurso Literário Flip Tchê e adquira a obra, que é magistral pelo número de poetas vencedores. Parabéns a todos.
Obrigado.