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Algumas expressões, ou frases, horríveis e horripilantes do Português brasileiro

Hoje, o artigo não é um comentário; apenas, a citação de várias expressões, cuja análise fica por conta do leitor-visitante.

Boa sorte, e que cada avaliação seja justa, pelo sim e pelo não.

Um vídeo mostra o fato que aconteceu em certa cidade e registra ‘imprecionante’, para dizer de uma personagem que teria feito bobagem. Realmente, o comentário ‘impressiona’ pelo que se analisa sem nenhum impacto. A notícia seria ruim, a análise é pior.

 

Fulano bebe muito, reclama em excesso e, depois de fazer c. azedo (teria dito um), alega o revoltado que não ‘ouve’ nada. Não que tenha ouvido mal, mas que nada teria acontecido. Da parte de quem vê as imagens.

 

Faz-se a pergunta: Por que mula não ‘muge’? O sabichão completa o que é comum saber-se: Porque não é vaca. Ironia vai, ironia vem, alguém também questiona: Por que vaca não ‘relincha’? Claro, porque não é mula. Assim, concluímos que a diferença de um muar ou equino para o bovino é notória, e não se precisa de muitos detalhes. Mas nem todos distinguem uma espécie da outra, e pode vir o complemento auxiliar que dá a resposta estranha. Chato é que alguém vem com esse tipo de pergunta, só faltando completar que o humanoide, incluindo o ser humano, não iria ‘comunicar-se’ dando saltos como gafanhoto ou articulando a voz de um urso pardo no Polo Norte pescando salmão. Outrora, uma moça visitante pergunta ao vaqueiro na fazenda como se descobre que certo equino é cavalo ou égua, e ele diz sisudo: Basta você arribar o rabo dela que você vê a diferença. (Esse povo da cidade não sabe muita coisa, não; teria pensado.)

 

Na cidade, vemos muitos anúncios de promoções com produtos. Nessa história, podemos concluir que a Matemática ali sofre mudanças significativas, haja vista que ’10 x 4′ é igual a ‘39,99’, preço promocional de uma peça do vestuário. Por quê? Porque um centavo faz diferença para vender e não faz diferença como troco, que nunca é recebido, já que o cliente paga 40,00 e o vendedor nem ‘muito obrigado’ diz. Imagine que o comprador não iria perguntar, para não ser tachado como ignorante, pelo troco de 0,01 (um centavo). Isso significa que o brasileiro se motiva a comprar um produto que custa 19,99, mas recusa o mesmo pelo preço de 20,00? Somos fáceis de sermos enganados assim no dia a dia? No início do Plano Real, o humorista Jô Soares, um dos nossos bons da TV que foi morar em outro plano, em plena avenida do centro de SP, pede ao motorista para voltar ao ponto onde ele estava para receber o troco de um centavo que ele esqueceu na loja. Vemos o taxista dar marcha à ré no veículo. Propaganda é coisa séria. Sim, não?

 

Se o chefe manda e o subalterno não acata, este não é bom funcionário. Algo assim que é difundido na relação empresa-colaborador no dia a dia. Mas se o colaborador insiste com o chefe sobre certa atitude (a ser tomada), ou ele é inconveniente e não desempenha sua função adequadamente, ou vai ser dispensado por justa causa por não se adaptar às normas do serviço. No mínimo, que a classificação do funcionário é tida como ‘hipossuficiente’ e vai ser mandado embora por justa causa.

 

Somos um Brasil com sua linguagem; não somos outra Nação para termos, por exemplo, o Inglês como idioma oficial. O fato é que, por modismo de algumas celebridades, e o que dói é que grande parte copia isso, a todo momento vemos um termo saxônico no lugar de uma palavra nossa, e alegam que o brasileiro se comunica mal. O número de palavras é tão extenso, que não precisamos dar exemplo. Basta vermos os artigos jornalísticos do cotidiano. Por que isso? Estamos perdendo nossa identidade cultural? Por que precisamos ‘ser’ o que não ‘somos’? Diríamos, por exemplo, que o Canadá exclui um termo seu, de seu regionalismo, e o substitui por uma gíria do Português brasileiro?

 

Mandar alguém tomar ‘naquele lugar’ está tão comum como beber água. A questão é que passamos do simples para o anárquico ou imoral, e depois alegamos que não há postura de certas classes sociais, uma vez que somos várias. Mas se um simples disser que uma celebridade é ‘feia’, estaria cometendo injúria, e pode pagar caro por danos morais. Como colocarmos em prática os adjetivos nacionais que usamos: feio e bonito, rico e pobre, culto e inculto, sabido e analfabeto etc.? Assim, fica muito difícil. Somos mesmo uma Nação de atores camuflados? O brasileiro deixa de ser espontâneo, simples, e entra para um mundo sofisticado que nem sempre é definido corretamente?

 

O pinguço enche a cara, ou o ‘tonho’, com a branquinha mais zurrapa que existe, e vai discutir com o bodegueiro, xinga-o de nomes feios, nada consegue e vai para casa descontar tudo na esposa e nos coitados dos filhos inocentes. Ainda, admite que essa atitude é um direito seu. Jamais comprou um livro para os filhos lerem, levou uma caixa de bombons para a esposa, ou chegou mais cedo para ajudar na limpeza dos móveis e na coleta correta do lixo. Como vamos evoluir?

 

Por que avião não sabe ‘andar’? Porque ele voa, meu filho, já que tem asas, e não pernas para andar lento como tartaruga. Acontece que esta chega ao destino, mesmo cansada, e a lebre que parou na estrada, cochilou e não viu a hora em que o concorrente passou à sua frente, ganhando a corrida. Conto, mentira, fábula ou crônica, certo é que queremos usar o que não temos, e quando se fracassa, jogamos a culpa no outro. Alegamos até que o Governo não nos deu o caminho certo. Estudar que é bom, nem todos querem. Como viver a Felicidade?

 

Nasceu o fulano num país ruim, viveu algum tempo em outro, e acabou morrendo em um terceiro. O que é o cidadão? Claro, que um defunto, sem nenhuma ironia, mas pedimos online que se faça uma vaquinha para o traslado do corpo, ou culpamos o Governo. O certo é que no momento de fazer o êxodo não pedimos nada a ninguém, nem ao menos avisamos, porque o ato é da nossa cultura. Como aprendemos a valorizar nossa terra? Sabemos, entretanto, elogiar o que não nos pertence, um alicerce bem feito por outro pedreiro. E o nosso feito com areia movediça.

 

Nosso comportamento está deixando muito a desejar.

 

João Carlos de Oliveira

João Carlos de Oliveira, professor jubilado, advogado com OAB-BA e OAB-MG, poeta, membro-efetivo da Academia Teixeirense de Letras (ATL), de Teixeira de Freitas, BA. Autor de várias obras de poesia, como O dia que nunca acaba, Colóquio com o Silêncio, e Crônicas do vovô. Em 2024, obteve o primeiro lugar no Concurso Flip Tchê, categoria Poesia, com o texto Tresloucado Poema Abstrato. Tem tido boas colocações na versão interna da ATL, cujo site divulga autores premiados.

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