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Verbos ‘parar’, ‘pairar’ e ‘parir’ podem oferecer dúvidas de como serem conjugados?

Vão ser analisados em quatro tempos: presente do indicativo, pretéritos perfeito e imperfeito do indicativo e presente do subjuntivo, em virtude de certa grafia das formas verbais, como ‘pairo’, tanto de pairar como de parir.

Aspecto que precisa ficar claro, já que no dia a dia não vemos como se diferenciem esses dois homônimos.

 

Parar, verbo de largo uso no cotidiano, mesmo assim requer cuidados.

Presente do indicativo: eu paro, tu paras, ele para, nós paramos, vós parais, eles param.

Pretérito perfeito: eu parei, tu paraste, ele parou, nós paramos, vós parastes, eles pararam.

Note que a grafia ‘paramos’ serve ao presente e ao passado perfeito. O que diferencia um tempo do outro é o contexto.

Pretérito imperfeito: eu parava, tu paravas, ele parava, nós parávamos, vós paráveis, eles paravam.

Lembre-se de que o verbo regular da primeira conjugação nesse tempo tem a desinência modo-temporal VA; amar-amava (exemplo bem conhecido). Os verbos da segunda e terceira conjugações têm essa mesma desinência em IA: comer-comia; partir-partia. Se o verbo não é regular, costuma ter desinência diferente (pôr-punha, vir-vinha), embora outros irregulares mantenham a mesma grafia: dizer-dizia, fazer-fazia, ver-via.

Presente do subjuntivo: que eu pare, que tu pares, que ele pare, que nós paremos, que vós pareis, que eles parem.

Algumas grafias do verbo parar, nesse tempo, coincidem com grafias do verbo parir: que eles parem (que cessem essa atitude) tem a mesma forma de ‘elas parem em plena luz do dia’ (verbo parir).

Parece desnecessário isso? A grafia e o significado das palavras exigem cuidados no momento da redação.

 

Pairar, pouco usado por ter aspecto poético e especial. Em algum momento, tem o sentido de sobrevoar, flutuar, estar sobre (um objeto) no alto, hesitar etc., algo parecido com a semântica variadíssima do verbo parar.

Presente do indicativo: eu pairo, tu pairas, ele paira, nós pairamos, vós pairais, eles pairam.

Pretérito perfeito do indicativo: eu pairei, tu pairaste, ele pairou, nós pairamos, vós pairastes, eles pairaram.

Pretérito imperfeito do indicativo: eu pairava, tu pairavas, ele pairava, nós pairávamos, vós pairáveis, eles pairavam.

Presente do subjuntivo: que eu paire, que tu paires, que ele paire, que nós pairemos, que vós paireis, que eles pairem.

O lembrete é que pairar, na primeira pessoa do singular (eu), no presente do indicativo, tem a mesma grafia do verbo parir. Por quê? A Gramática Normativa adota o critério da eufonia (o bom som, a pronúncia audível), uma vez que ‘eu paro’, se fosse usado para o verbo parir, tem a mesma grafia do verbo parar, nesse tempo. Isso geraria a dubiedade, tanto no sentido como na grafia.

Paire, de pairar, e pare, de parar, ambas no presente do subjuntivo.

 

Parir, às vezes, usado no dia a dia de forma pejorativa. Mas temos muitas expressões em que esse verbo ou seus cognatos surgem na linguagem popular, no cotidiano do brasileiro, na Literatura, nos versos do Cordel, nas piadas etc.

Puta-que-pariu!, interjeição para indicar uma coisa inusitada.

Pirão-de-mulher-parida, expressão popular para dizer que a parturiente nos seus primeiros dias come um bom pirão de galinha caipira saudável, até de um capão, o pinto que foi castrado e se tornou um galináceo robusto, sem poder de fecundação. Não fazem mais isso hoje, ou seria pouco, mas esse pintinho castrado tem carne saborosa.

Há frases com o verbo parir que são verdadeiro acervo da Literatura ou Dramaturgia Nacionais.

Presente do indicativo: eu pairo, tu pares, ela pare, nós parimos, vós paris, elas parem. (Recorde: Paris, capital da França, é a Cidade-Luz.)

Por que pairo (dou à luz) e não ‘paro’? Porque, certamente, paro (se fosse de parir), seria confundido com paro do verbo parar, um dos motivos do artigo de hoje. Pairo, com o acréscimo de uma vogal de apoio, ficou eufônico, bonito, de som agradável.

A mulher pode dizer com segurança Eu pairo, sinônimo de Dou à luz. O confronto é que ‘pairo’, nesse aspecto, é linguagem desconhecida e, talvez, pouco entendida.

A propósito, não devemos usar ‘Ela deu à luz a um bebê sadio’, pesando seis mil gramas (seis quilogramas ou seis quilos), como pode acontecer ou já houve caso similar.

A expressão correta é dar à luz um bebê, em que temos dois objetos: à luz, objeto indireto; um bebê, objeto direto. Essa a mesma maneira de se dizer Ela dá um presente ao filho, em ordem diferente da primeira. Um presente, objeto direto; ao filho, objeto indireto.

Se alguém usa Ela deu à luz a um bebê enorme cria grave erro de regência verbal em que o verbo dar aparece com dois objetos indiretos, complementos verbais seguidos, o que a Gramática Normativa não permite.

Lembre-se de suas frases no cotidiano com o possível sentido de dar: Assim não dá. Isso não dá certo. Ele deu vexame. A jovem deu um beijo no namorado. Demos um abraço em nossos pais. A jovem dama deu à luz uma menina linda.

Vamos completar a conjugação de parir:

Pretérito perfeito do indicativo: eu pari, tu pariste, ela pariu, nós parimos, vós paristes, elas pariram.

Pretérito imperfeito do indicativo: eu paria, tu parias, ela paria, nós paríamos, vós paríeis, elas pariam. (Dois tempos com normalidade de grafia.)

Mas…

Presente do subjuntivo: que eu paira, que tu pairas, que ela paira, que nós pairamos, que vós pairais, que elas pairam.

 

Nota: parir, no presente do subjuntivo, nada tem a ver com a flexão de pairar no mesmo tempo; parir termina na desinência modo-temporal A, por ser verbo da terceira conjugação; pairar nesse tempo termina em E, por ser da primeira conjugação.

Se possível, releia o texto e confirme isso. De onde vem ‘que eu paira‘ para o verbo parir? Exatamente, da primeira pessoa do singular (eu pairo, isto é, dou à luz), em que as demais pessoas verbais seguem o mesmo critério.

Por isso, o comentário.

 

Até breve. Gracias.

 

 

 

 

 

 

 

 

João Carlos de Oliveira

João Carlos de Oliveira, professor jubilado, advogado com OAB-BA e OAB-MG, poeta, membro-efetivo da Academia Teixeirense de Letras (ATL), de Teixeira de Freitas, BA. Autor de várias obras de poesia, como O dia que nunca acaba, Colóquio com o Silêncio, e Crônicas do vovô. Em 2024, obteve o primeiro lugar no Concurso Flip Tchê, categoria Poesia, com o texto Tresloucado Poema Abstrato. Tem tido boas colocações na versão interna da ATL, cujo site divulga autores premiados.

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