A nomenclatura atual, para qualificar e classificar a anatomia, é a mesma de outrora?
Seria a mesma linguagem usada na taxionomia anatômica?
Nomenclatura ou taxionomia (taxinomia), o nome não importa: um ou outro teria a mesma definição.
Que nome se dá ao osso do joelho? Rótula ou patela?
Cordas vocais, expressão tão usada no passado, repetida em aulas de Biologia, agora pregas vocais.
Cordas, por que vibram?, como as do violão, da viola ou da guitarra, confundem nosso conhecimento e teriam semântica ambígua, por isso, precisaram de nova definição.
Há a relação de denominações que, na escola, ontem, foi tratada com nomes diferentes dos de hoje.
Até nos fatos corriqueiros da vida, coisas similares acontecem. Essa dinâmica é própria dos idiomas: os nomes vão sendo substituídos por haver alguma impropriedade.
Um cidadão aprendeu ‘ponto comercial’; hoje, loja ou empresa; que comerciante hoje é empresário. Ou melhor, comerciante tem um pequeno comércio, e empresário é o grande empreendedor, que tem uma empresa. O fazendeiro hoje é proprietário rural. O grande fazendeiro, como no Norte da Bahia, onde morei, dono de cinco mil tarefas de terra, hoje é chamado latifundiário, e que o pequeno proprietário tanto pode ser um sitiante como um minifundiário.
Você já viu algo semelhante? Que o pequeno prédio é um sobrado. Que Sobrado no Espírito Santo, na microrregião de Montanha, não tem tantos sobrados, mas casas simples, ou luxuosas, as mansões. Hoje, poderiam construir lá um edifício de cinco pavimentos; cinco andares não seria um nome adequado? A topografia local permite esse arroubo?
Melhor confirmar que casa grande nem sempre é casa aconchegante, que uma enxada cara não é uma cara inchada. O que é isso, companheiro?
Digestivo é tudo aquilo que tem fácil digestão, assim como alguém é comunicativo, como há um aperitivo para abrir o apetite, e alguém sair da anorexia natural; surge o atrativo, o intuitivo, que rima com seu Ivo, que não tem modo abusivo, mas é afetivo, altivo, criativo, com grande saber dedutivo e se torna, por isso, um cidadão receptivo.
São tantos os ‘ivos’, que nos fica longevo relacionar esses adjetivos simpáticos. O que vem a ser o sufixo ‘ivo’? Expressa qualidade, que explicita a forma como se deve ver a vida de um ser: dona Maria é uma senhora prestativa (de ivo para iva, fica mais bonita a palavra?). E aquele seu amigo afoito se deu mal por ter tido um ato intempestivo.
A Semântica nos relata e ensina que esse sufixo indica aquele ou o que tem a tendência de ser similar a outro ser. O latino ‘ivu’ forma adjetivos derivados de verbos: lucrar, lucrativo; narrar, narrativo; nutrir, nutritivo; comunicar, comunicativo; ou de substantivo, senso, sensitivo; festa, festivo, e de outros adjetivos: de alto, altivo, que, por sua vez, forma o substantivo altivez.
Isso é bom. Mas paremos por aqui. O mundo de palavras cresce vertiginosamente como o vento se espalha no Himalaia no momento da tempestade da chuva das monções!
Um ato é reflexivo porque traz ou enseja reflexão; digestivo (agora, é nossa vez!), porque provoca, com facilidade, a digestão, porque facilita que o organismo efetue a digestão com segurança, isto é, sem risco de mal-estar.
Um dicionário, para o bem (?) de quem sabe pouco do assunto, diz que digestivo é: 1. que facilita a digestão (chá digestivo, produto digestivo); 2. aparelho digestivo (Anatomia): conjunto de órgãos com função relacionada à digestão.
E agora? Esse digestivo seria o que se deve chamar ‘digestório’? Agora, sim, o nome está de acordo. Adiante, o mesmo dicionário diz que há o tubo digestivo: boca, esôfago, estômago e intestino. Sim, esse o motivo da discussão. Se a Farmacologia fala em remédio digestivo, é porque esse medicamento tem substância que gera enzima facilitadora da digestão.
O que significa ‘ório’, comparado a ‘ivo’? O sufixo ório tem a qualidade de indicar lugar: lavatório, escritório, consultório, interlocutório, similar ao congênere ‘ério’, cemitério, necrotério.
É, ainda, parecido com ‘ouro’, ancoradouro, sangradouro, dormidouro, babadouro.
‘Ório’ é polivalente: derivado do latino ‘oriu’, forma substantivos ou adjetivos que indicam aspecto: 1. palavrório, simplório; 2. reunião de pessoas ou coisas para determinado fim: cartório, laboratório, sanatório; 3. qualidade: amatório, inflamatório, risório, anti-inflamatório, uxório. Compare-o com ‘óreo’: arbóreo, corpóreo, fosfóreo.
Ainda tem dúvida ou discorda do ponto de vista aqui exposto?
Digestório, portanto, por ser o local em que a digestão é feita (melhor que digestivo), assim como há aparelhos circulatório e respiratório.
Repitamos que hoje se usam expressões ou palavras novas: pregas vocais, patela etc.
Como advogado, jamais fiz uso da expressão ‘filho adotivo’ por achá-la vaga. Aliás, a lei cortou o uso dela em certidão de nascimento, e a boa praxe manda usar somente filho, embora não seja biológico; o não-biológico (somente para diferenciar em momento indispensável).
Quem alimenta (no caso de pensão alimentícia) é o alimentante, e quem recebe esse benefício ou direito é o alimentado ou alimentando. Nesse diapasão, quem adota uma criança é o adotante, e esta, a adotada. Logo, filho adotivo estaria fora de lógica? Ora, se é a lei que iria facilitar a adoção, logo, há uma lei de caráter ou aspecto adotivo. O que diz o dicionário? Que adotivo é o que foi adotado, e, ao mesmo tempo, o que adota. Quer dizer: o filho é adotivo, e o pai também o é.
Eis uma definição pejada de ambiguidade.
Seria aceita apenas a concepção de que adotivo é o que é relativo à adoção. Não precisamos de mais comentário. O acréscimo de outro veio semântico seria apenas delonga para aumentar a celeuma.
Outro dicionário, que seria mais completo, continua na mesma forma ambígua de definir: digestivo (que facilita a digestão e o aparelho em que se passa a digestão). Como, ao mesmo tempo, ser duas coisas tão diferentes ou opostas?
Digestório: que tem o poder ou a qualidade de digerir, e digestão, substantivo, é o ato de digerir.
Após essa relação, persiste teimosia relativa a aparelho digestório?, aquele que realiza a digestão, o local em que se processam os atos de digerir os alimentos. Digestório, nesse contexto, portanto, fica mais claro que digestivo.
Quer mais? Para quê? Para aumentar sua dúvida? Consulte um nutricionista e lhe pergunte: os alimentos se processam (tornando-se fezes) no aparelho digestivo ou digestório? Não dê a resposta de que é somente no intestino; não é isso, o intestino é parte desse conjunto, que começa na boca, pela mastigação, passa pelo esôfago, recebe os gases necessários a essa transformação e vai para o intestino fino, chegando ao intestino grosso, e depois o troço (^) (do regionalismo) se evacua pelo reto.
E agora? Se tudo isso não tiver o tratamento sanitário adequado, apenas vai poluir o meio-ambiente.
Fico por aqui.