Vamos tentar definir – virgulose é o uso excessivo de vírgulas num texto, chegando a haver algumas fora de lugar e outras desnecessárias. O que é vírgula e para que serve?
Do Latim ‘virgula’ (vocábulo proparoxítono), a vírgula indica a menor de todas as pausas, como nos preceituam a Gramática e todos os bons dicionários. Em outros termos, diz-se que esse sinal de pontuação serve para separar os membros da frase. Você escreve sem usar vírgulas? Nunca. Talvez, uma pequena frase não precise de vírgula. Veja esta – Vou para a fazenda amanhã. Mudada a ordem dos termos dessa frase, a vírgula deve ser usada: Amanhã, vou para a fazenda. Se for(em) acrescentado(s) novo(s) termo(s), devem ser usadas vírgulas: Amanhã, bem cedo, vou para a fazenda, acompanhado de um grande amigo. Assim, vai-se escrevendo. E esta precisa de vírgula? “Homem tenta esfaquear vizinho e é morto”. Observe que não se precisou de vírgula. Mas – “Homem, que tentou esfaquear vizinho, é preso”. Essa segunda opção alterou o aspecto semântico da mensagem? Não, mas foram precisas duas vírgulas por que intercalamos uma oração adjetiva explicativa: as regras gramaticais vão-nos ensinando esses detalhes.
Se a manchete contém sujeitos diferentes, a vírgula é obrigatória: Homem tenta esfaquear vizinho, e a polícia o prende em flagrante.
Numa dúvida extrema, seria melhor não usar vírgula, embora se diga que uma vírgula a mais ou a menos faça a diferença. Já viu este enunciado curioso? – Um fazendeiro tinha um bezerro e a mãe do fazendeiro era também o pai do bezerro. Modernamente, seria dito assim: Um fazendeiro tinha um bezerro, uma vaca e um touro (para respeitar a ordem em que as reses foram citadas no enunciado). Nesse caso, cabe apenas uma vírgula a fim de não haver dúvidas de que o fazendeiro tinha três animais – o bezerro, a vaca (a mãe do bezerro) e o touro (o pai do bezerro). Virgule: Um fazendeiro tinha um bezerro e a mãe, do fazendeiro era também o pai do bezerro. Foi possível diferenciar as três reses?
Parece cabível mais uma definição: a vírgula, que significa em Latim “uma pequena vara”, é o sinal de pontuação ( , ) que marca uma pausa e serve para separar ou isolar palavras, grupos de palavras ou orações. Isso na escrita. Na fala, fazemos apenas uma pausa ou uma entonação e o bom ouvinte deve-nos entender. Se transcrever nossa fala, tornando-a um texto escrito, deve virgular (e pontuar) de forma correta para não alterar o sentido do que enunciamos.
Músicas, poesias e textos humorísticos podem aparecer sem a vírgula, mas temos que entendê-los como se elas estivessem lá, bem visíveis.
É dito que não se deve alterar nenhuma vírgula de um texto, isto é, copiá-lo literalmente, ipsis litteris, com o escopo de ser respeitado o pensamento do autor. Se o analista considera que a vírgula está incorreta, deve usar a expressão latina sic, para insinuar: foi dessa forma que estava escrito. Quer um exemplo? “A Prefeitura Municipal de Vida Feliz, comunica ao público em geral e a seus funcionários, que, no dia 05/10/16 não haverá expediente interno” (sic). Perguntamos: e o “externo” haverá?
O texto acima é um belo exemplo de virgulose. O primeiro passo é não usar vírgula entre o sujeito (A Prefeitura…) e o verbo (comunica) nem entre este e o seu complemento verbal (ao povo) etc. Como seria a virgulação ideal nesse enunciado, mesmo havendo mais de uma possibilidade? A resposta deste blogueiro é: A Prefeitura Municipal de Vida Feliz comunica ao público em geral e a seus funcionários que no dia 05/10/16 não haverá expediente interno (nenhuma vírgula). Ou – A Prefeitura Municipal de Vida Feliz comunica, ao público em geral e a seus funcionários, que não haverá expediente interno no dia 05/10/16. Ainda – A Prefeitura Municipal de Vida Feliz comunica ao público em geral e a seus funcionários que, no dia 05/10/16, não haverá expediente interno.
Se coubesse vírgula entre o sujeito e o verbo, exceto em uma ênfase especial, poder-se-ia dizer “O pedreiro, constrói a casa”. Essa vírgula jamais caberia.
O vocativo – Seu Manuel, pai quer falar com o senhor! – e o aposto – Papa Francisco, o maior diplomata da Igreja Católica nos tempos modernos, é o modelo máximo da simplicidade! – são exemplos de termos que exigem a vírgula. Não se trata de uso opcional, como querem alguns.
Desculpe-me pelo alongamento da explanação, embora ainda coubessem mais umas coisitas. Só esta: “Ladrão, vírgula!” – me tire desse meio, seu pilantra!
É assim que se fala, é assim que se escreve. João Carlos de Oliveira, o poeta-advogado.
Ótimo texto!
Obrigado, Patrícia. Volte, sempre, minha amiga, e leia outras opiniões deste blogueiro. Inclusive, pode fazer alguma pergunta. Abraços.
Parabéns Tio!
Não só pelo blog, mas por todo seu conteúdo em ótimos textos! Com certeza, irei me deliciar e aprender muito com eles! Espero ter acertado na ,? Rsrs
Sandro, eu e você estamos ‘ausentes’ um do outro. Quando iremos a Jacobina numa segunda viagem? Obrigado pela visita; volte mais vezes.
Adorei o texto, João. Aprendi mais um pouco.
Abraço!