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É necessário ter cuidado com a pronúncia de nomes próprios de pessoas físicas?

Parece que o comentário não seria importante, porém, é imprescindível, mesmo com a opinião oposta, que se tenha cuidado com a pronúncia de certos nomes próprios de pessoas, ainda mais na modernidade,  pelo fato de serem muitos os nomes diferentes  – cidadãos e cidadãs modernas registram os filhos com nomes bem diferentes para se fugir do lugar-comum dos considerados ‘antigos’.

Os nomes citados aqui são fictícios, mesmo que coincidam com nomes reais. A coincidência é apenas gráfica; nada tem a ver com o indivíduo do mesmo nome.

Imagine nomes que não sejam João, Maria, José, Gustavo, Antônio, que são de fácil pronúncia. Trilhe o caminho de nomes como Taiwan, do qual são advindos muitos outros, e nomes exóticos de origem inglesa, alemã, italiana, árabe etc. cujas grafias tenham y (ípsilon), w (dáblio), ch, sh. Aliás, é bom lembrar que o w em Alemão tem o som de vê, e em Inglês de u. Willy, em Inglês, pronuncie como se o w fosse u. Willy, em Alemão, pronuncie como se o w fosse vê. O nome Maria Coeli (do Latim) tem ‘o’ mudo; portanto, pronuncie “Céli”.

Há registro com ‘i’ ou ‘y’ – Stefani ou Stefany, e ainda com ph – Stephany. Nosso hábito é de que o cidadão use y quando seria i, e vice-versa. Para nossa cultura, é importante variar e sair da mesmice, a ponto de se considerar que o nome próprio é grandioso quando tem uma pronúncia bonita, que dá destaque ao ente assim registrado – podendo, até, tornar-se famoso.

Sabemos que há no Brasil lei para registro de nomes de pessoas cuja cumprimento está a cargo do Cartório responsável, para coibir os abusos em que grafias e/ou pronúncias exponham as pessoas ao ridículo. Entretanto, sabemos que não se segue a exigência legal ao pé da letra, ou não se perceba o lapso no momento do registro. Sabe-se, ainda, que cidadãos de maior poder econômico ou com visão de mundo diferente do padrão costumeiro recorram à Justiça para dar nomes aos seus pimpolhos como bem lhes aprouver.

No diário escolar, o professor percebe o disparate e até se assusta com algumas grafias. Surgem dúvidas. O estudante pode apresentar uma pronúncia vivida pela sua família, que nem sempre corresponde ao étimo do vocábulo. Mayra, Maíra, Máyra, Taís, Thaís, Thaíse, Thayse etc. são grafias que surgem. Estamos falando de forma fictícia.

Temos Edmar, Edimar, Edvaldo, Edivaldo, Ewalda, Evalda, Euvalda, Creuza, Cleusa, Lorraine, Lorrayne etc. Weber, Richardson (em Inglês, o filho de Ricardo). Natáli, Nataly, Natalie, Natalye, e outros.

Imaginemos agora que uma secretária numa empresa chame pessoas que estão na sala de espera para serem atendidas. Um cidadão ficou por último (‘sem ser chamado’) e reclame. Uma pessoa foi chamada e não entendeu que seria ela por que a pronúncia de seu nome foi diferente daquela que considera correta. Qual a visão que essas pessoas têm dessa secretária? A modesta secretária, que, tampouco teve a intenção de magoar, não é obrigada a pronunciar corretamente todos os nomes que encontre no dia a dia de seu trabalho. Ou ela entende de uma maneira e pessoas há que entendam que o caminho é outro – isso é tão sinuoso como sinuosa é a mente humana. Toda cautela é pouca.

Por isso, a pergunta do título desta matéria.

Você pronuncia corretamente os nomes Rousseau, Richelieu, Richthofen? Mesmo sendo fáceis para alguns, como seria sua performance ortoépica (a pronúncia dos fonemas)? Mahmud, Scliar, Seaborg, Michael (este originou muitos ‘Maicon’ e similares), Fisher (em Inglês), Fischer (em Alemão), Let’s go (‘Letisgo’). Facchinetti. E se alguém não souber pronunciar Facchini, e pender para lado do ‘x’ e não do ‘qui’, como manda o figurino fonético do idioma da Roma atual? Não ‘faxíni’, mas ‘faquíni’.

Um cidadão alega para a secretária que ela pronunciou incorretamente seu nome, e está bravo. E agora, o que ela tem que fazer?

Deve ter o semblante natural pendendo para o sorriso, e nunca ter a cara de brava em virtude da reclamação. Suavemente, ela pergunta a essa pessoa – como é a pronúncia de seu nome? Com o olhar atento, voltado para a face do reclamante, depois que ele ‘pronunciar’ seu nome com aquela entonação característica (“Oliverrá, Teiquinacariê”), ela repete para ele silabadamente “O-li-ver-rá”, “Tei-qui-na-ca-ri-ê”, e confirma “Foi assim que eu pronunciei seu nome, seu Oliverrá, e, por causa do barulho ou da distância, o senhor entendeu diferente”.

A partir desse momento, o diálogo flui, os sorrisos se entrelaçam e as mãos se encontram. Tudo fica de acordo com a ética e a educação.

A conclusão, caro internauta, é que a secretária não deve demonstrar dúvida ao pronunciar um nome ‘difícil’ nem precisa perguntar ao dono dele qual é a pronúncia correta nem balbuciá-lo. Se assim o fizesse, seria chamada disso ou daquilo. Deve pronunciar o nome ‘apenas uma vez, como voz firme e possante, e um pouco rápido’. Se ainda o dono questionar de outra forma que a pronúncia foi incorreta, a secretária deve dizer-lhe que certos nomes têm mais de uma pronúncia, e concluir – qual é a melhor pronúncia? Repeti-la, e afirmar – “foi assim que pronunciei”. Como se pronuncia Shakespeare?

A propósito, pessoas há que têm dificuldade em pronunciar verbos como “designa, adapta, redesigna” etc. Certa coordenadora escolar disse “O Governo não ‘de-si-gui-na’ o número de professores suficientes”. Não vamos muito longe – como você pronuncia os adjetivos ‘digno, apto, condigno’? Aqueles verbos seguem a mesma pronúncia destes. E ainda – Curriculum Vitae. Diga ‘curriculum vite’ e não ‘curriculum vitai’, como muitos o fazem, ou use simplesmente ‘currículo’.

Uma brincadeira – cana na roça dá cachaça; cachaça na rua dá cana (pensamento no para-choque de caminhão).

 

João Carlos de Oliveira

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