São formas verbais similares quanto à escrita e à pronúncia; cada uma com sua mensagem; portanto, parônimas.
Brindar, mais usual, e antigo?, o ‘vovô’, que todo o povo conhece, que toda a Bahia sabe de que se trata, que todo o Brasil usa, com o qual se saúdam os amigos no momento festeiro.
Brinde seu colega, meu filho, que faz aniversário hoje!, teria dito o pai atencioso.
Daí por diante, brindar se torna de uso amplo pelo seu significado: ‘beber à saúde de alguém, honrar alguém pelo êxito’. Beber ao sucesso de… Oferecer uma dádiva, um presente a…
Brinde o cliente no seu aniversário (no dele, não no seu!), deveria ser a norma do empresário.
Brindar vem de brinde, Francês, grafia que se ajustou ao nosso léxico e ao nosso falar sem nenhuma alteração. Talvez, na Fonologia. Na origem dos francos, teria um sotaque: ‘brin-dê’ (?); na dos lusos e dos lusófonos, outro: ‘brín-di’ (?), certamente.
O brinde é a saudação que acompanha o ato de beber (então, a bebida é salutar, isto é, faz bem à saúde!). Ou que ‘saúde’ seja a palavra de conforto, de regozijo, não a bebida. Um par de meias, uma garrafa de tubaína, como presente, dádiva; brinde é tudo o que se ganha (para o recebedor); é tudo o que se dá (o que o ofertante deseja ou oferece a alguém).
O brinde, pois, tem dupla face. ‘O velho amigo’, nos comensais, nas congratulações e homenagens, diz uma palavrinha de conforto, ou oferece um rabo-de-galo quente, que não é a cauda do galináceo aposentado. Poderia ser ‘uma abóbora’ pesando uma arroba, colhida na roça do compadre. De longas datas, brinde é o vovô, tão notório e vetusto o é.
Blindar, menos usual?, é o primo moderno, fantasiado de cores, de poder; o jovem que se destaca no meio neossocial, todo ‘blindado’, ou protegido. Sua origem nasce do Germânico blenden (cegar), o que muitos não devem saber, como eu, quando era pequeno lá em Cachoeira Grande, meu distrito bucólico, nas terras jacobinenses.
Senhor Legislador, não blinde, tão-somente, seus apaniguados, no reduto em que atuam e residem, Vossa Excelência e todos os seus chegados e protegidos (os blindados), mas blinde a sociedade na amplitude constitucional da Carta Magna. Nada mais. O que for diferente é blindagem pessoal e descabida. Tenha misericórdia dos eleitores, incautos ou não! (Isto é, sem que blindar torne a seu sentido literal.)
O que se nota na linguagem é que são usados em abundância o adjetivo e o substantivo de blindar: Coloque vidro blindado nas janelas de sua casa. A madama tem um carro blindado. A casa lotérica deve ter os vidros todos blindados (contra os ataques de vândalos ou ladrões; aliás, quem rouba é ladrão; quem furta não é ladrão, é furtador; furtar é um pingo d’água; roubar é uma onda oceânica). Não é cabível a blindagem a entes públicos se o direito popular fica em abandono.
Se blindar for usado em suas formas verbais comuns: Blinde seu carro. Blindaram políticos na CPI. Blindemos nosso corpo contra o devorador Covid-19. O pai, superprotetor, blinda seus filhos dando-lhes todas as benesses e dinheiro em conta bancária gorda, até obesa ou inchada.
O adjetivo blindado, e suas flexões, e o substantivo blindagem, e seu plural, em toda sua amplidão semântica, circulam com ares superiores: Mesmo blindado, o carro do Senhor Delegado foi destruído no tiroteio. Mesmo com a blindagem de partidos, políticos há que se ferram, e são descobertas várias falcatruas praticadas no exercício da ‘profissão’. Político não tem ‘cargo’, tem dever e função, que não podem ser usados em benefício próprio, blindados como casa de retiro, com guardas de corpanzil avantajado e cães apetitosos. ‘Profissão’ não é proteção; blindagem, que seria ‘saudável’, deve ser a favor da Democracia (como quiseram os gregos, na amplitude da palavra como Ciência que gera os direitos do Cidadão).
Finalmente, brindado e blindado; brinde e blindagem; brinde seu pai, blinde sua casa. O dicionário registra, com certo destaque?, blindado (protegido por blindagem; recoberto de material sólido, resistente; resguardado, imune). O blindado, veículo de combate com blindagem (que seja de Organização, como o Exército). O conceito de hoje é diferente: blindado é veículo particular de luxo.
A blindagem, pois sim, pois não!, é o ato de blindar. Revestimento metálico, proteção; couraça de aço que protege navios e veículos contra projéteis inimigos. Se se destacam os projéteis, na ironia, esses é que são os inimigos, e os atiradores (quiçá!) não o sejam.
Técnicos a conhecem e de que fazem uso, blindagem na Eletrônica, dispositivo que visa a reduzir a interferência de um campo elétrico, magnético ou eletromagnético de um dado componente ou circuito elétrico. (‘Dado componente’, certo aparelho que se encontra em outro plano, podendo desvirtuar o trabalho do televisor, rádio, computador etc. Na santa ignorância destes saberes, quando se digita, se não houver blindagem no roteador usado para a Internet, o texto pode ir para as cucuias em algum momento. Certo ou errado?
Está dito o que se sabe.
Façamos uma mistureba para terminar, com vista a diversas mensagens em textos e falares, em lojas, bancos, supermercados etc.
Ela é sua sósia, usou o comentarista (por escrito). Nesse caso, sósia não é substantivo sobrecomum, como o é criança. Seria um feminino, porque usam o sósia (s. m.) para ele, e a sósia (s. f.) para ela. Mudam a classificação gramatical de algumas palavras. ‘Adonde’, vamos com isso?
Seria uma bobagem o comentário; por outro lado, mostra a desatenção de quem escreve, falta de critério ou conhecimento, ou a filosofia ‘Num tô nem aí pra essas coisas; todo mundo fala errado; do jeito que está, tá bom’.
Redação que se distingue pelo uso da vírgula apenas: Aqui se come bem. Aqui, come-se bem.
Escrito em cartaz no supermercado: ‘Mexerica Pocam‘. O primeiro nome, vindo de mexer (figuradamente), é da família de mexerico, do qual se origina mexerica, a fruta, espécie de laranja. O interior baiano, pelo menos, já usou muito o nome ‘laranja-cravo’, a tangerina, outro nome da fruta, embora não se esteja buscando classificação ‘científica’. No RS, é chamada bergamota, mesmo que seja outra espécie. Comumente, escrevem ‘mixirica’ ou ‘mexirica’. O correto é grafia rara. O curioso é que certa enxertia, que dizem ser de origem japonesa, se chama ‘poncã’, mas muitos dizem ‘pocã’, mexerica-pocã etc., como quis a mensagem acima. ‘Pocam’ é o quê? Pelo que está escrito, tem-se a terceira pessoa do plural, no indicativo presente, do verbo popular ‘pocar’, o mesmo que espocar. Pocar, na coloquialidade, ‘estourar’, e na gíria, dar-se bem, sair-se bem. O cara pocou quando deu a entrevista!, disse a amiguinha. Os meninos pocam bisnaga na festa.
‘Conheça o seguro que te apoia em todos os momentos da sua vida’, mistura de pessoas verbais, cujos pronomes se diferem: te, de tu; sua, de você. Isso é chato. Nunca bem-vindo, ou pouco aceitável, não se sabe por que usam esse ‘charme’ para enviar um enunciado.
O tratamento verbal deve ser claro: Conheça o seguro que o apoia (apoia você) em todos os momentos da sua vida (você). Conhece o seguro que te apoia em todos os momentos da tua vida (tu), embora menos simpática.
O uso do pronome oblíquo te enfatiza intimidade; no trato com o cliente, pensa-se, bastaria o tratamento cerimonioso caracterizado pelo uso de ‘você’. Frase do nível ‘Nós te convidamos para a Assembleia do Clube’ não tem padrão comercial; falha, intimista, cheira a um padrão poético, de caráter íntimo. Usam-na para ‘agradar’ como linguagem livre, moderna e empática, mas se atrapalham no conhecimento linguístico, o que não é bom. Há um tal de ‘Vem’, e usam o nome de uma empresa. Vem, como quer a Gramática, é forma imperativa do verbo vir para a pessoa tu. Só que no enunciado, logo em seguida, usam ‘sua’, de você. Assim, não dá. Ou sua, ou tua. ‘Vem pra Oiticica, tua empresa na área ótica’. ‘Vem pra Oiticica, a empresa que te quer com boa visão’ (hipotéticas). Tratamento tu.
‘Venha pra Oiticica, sua empresa na área ótica’. ‘Venha pra Oiticica, a empresa que quer você (que o quer) com boa visão’. Tratamento você.
O uso de ‘vem’ virou mania, mesmo que a redação tenha como base a pessoa você, momento em que misturam as pessoas verbais. Não é regra nem charme. Trata-se de simples erro de Português.
Venha (você), seguido dos pronomes o, a, lhe, seu, sua etc. Vem (tu), seguido dos pronomes te, a ti, teu, tua etc.