A colocação pronominal em frases com locuções verbais e tempos compostos tem causado dúvidas, razão por que não tem sido satisfatória perante a norma.
Há casos que desafiam a ótica gramatical: ‘A vítima estaria o traindo’, conforme a redação de artigo jornalístico. E esta: “… que eles tinham a encontrado.”
A frase da introdução tem dois aspectos viáveis: Ele a está vendendo? Ele está vendendo-a?, que atenderiam à frase Ele está vendendo a casa? Substitui-se o objeto direto, a casa, pelo respectivo pronome pessoal átono a.
Quanto à frase do artigo, devemos observar: a vítima, sujeito simples; estaria o traindo, predicado, formado pelo futuro do pretérito do indicativo (estaria), seguido do gerúndio (traindo), com o pronome átono ‘o‘ entre as duas formas verbais sem o uso de hífen. De certo, o autor do artigo, que não quis citar o nome do criminoso, que seria o traído, optou por usar esse pronome para indicar pessoa do sexo masculino.
Os pronomes pessoais átonos têm três colocações (excluindo-se o hábito de alguns começarem frase com pronome pessoal átono ou oblíquo, condenado no Português Brasileiro, haja vista frases comerciais e/ou apelativas que o praticam em muitos momentos).
Ênclise, a colocação do pronome átono após o verbo, precedido de um hífen: Vendo-a (Vendo a casa). Faz-se a luz. Amo-a. Construiu-se nova ponte na estrada que dá acesso ao Distrito de Juerana, Município de Caravelas. Vende-se uma casa no campo. Vendem-se apartamentos de luxo no Condomínio Caiçara.
A observação é a de que os exemplos dados estão redigidos em tempos simples. Se houver tempo composto ou locução verbal, em que parte da frase seria colocado o pronome átono se há mais de uma possibilidade? A última frase do segundo parágrafo, neste comentário, teria, gramaticalmente, esta redação; que eles a tinham encontrado.
Esse o fato que nos chama a atenção no comentário de hoje, como na frase introdutória.
Mesóclise, a colocação do pronome intercalado à forma verbal (no meio), unicamente, em dois tempos simples (futuro do presente e futuro do pretérito do indicativo): Amá-la-ei sempre. Vendê-lo-ia se fosse preciso.
A observação é a de que essa colocação pronominal, que já seria escassa na linguagem culta escrita, está em desuso, e talvez nem seria discutida em nível escolar fundamental ou médio. Esse tema tornou-se desinteressante.
Artigos populares costumam não registrar esse modelo de linguagem. Autores de textos sobre o cotidiano não se atrevem a ‘essa aventura’ para não serem antipáticos, para a linguagem não ficar truncada, para o contexto não se tornar impopular ou incompreensível?
Cabem todas as hipóteses: o pronome mesoclítico se torna menos usado e pouco conhecido a cada dia.
Próclise, a colocação do pronome antes do verbo, desde que haja um termo atrativo (onde, não, que, se, quando, por que interrogativo etc.), e não se trate de frase popular ou comercial que se inicia com pronome pessoal oblíquo: Se liga nas ofertas das Lojas Marajoanas, que você fará boas compras (nome fictício). Ou frases populares: ‘Te amo’, ‘Me diga aí seu nome, menino! Cuma ocê se chama?’, teria questionado o desconhecido com o menino que passava, que preferiu se calar (que preferiu calar-se).
Até esses fatos ou frases, tudo bem, e esse seria no mínimo o trivial da colocação pronominal; usando-se formas verbais compostas (em que há mais de um verbo), o medo reina ou faça-se como puder.
Mesmo que não haja critério, ou não se saiba justificar perante a regra gramatical, busquemos a forma consuetudinária adequada ou sigamos o principio da eufonia (a boa pronúncia para que a frase fique audível).
Note este exemplo: Ela estava o esperando na esquina da rua mais movimentada da cidade.
O pronome átono oblíquo está entre o verbo auxiliar (estar) e o principal (esperar, flexionado no gerúndio). Ficou bem? A Gramática Normativa determina essa colocação como correta? Para este analista, não; o pronome pessoal oblíquo ‘o’, equivalente a ‘ele’, não ficou bem colocado.
Poderia ser mantida essa redação, desde que usado o hífen: Ela estava-o esperando (critério não adotado).
Poderia ter sido usada a próclise por questão de eufonia: Ela o estava esperando… (O redator poderia ter achado essa colocação indevida ou impopular, mas é correta.)
Pode ser usada a ênclise após o gerúndio, aliás, uma forma fácil e bem audível, mas incomum no dia a dia: Ela estava esperando-o. (Esse critério é ‘manso’, não assusta, e com o jeitinho do Português Brasileiro ficaria de bom tamanho, como em Estou amando–a. Estamos construindo–a. Os parentes estão levando–o numa ambulância fretada.
Respectivamente, as frases sem os pronomes, explicativas ou correspondentes às citadas, em boa hipótese, seriam: Estou amando aquela moça. Estamos construindo a casa nova. Os parentes estão levando o corpo numa ambulância fretada.
Peguemos a frase ‘Ela estaria traindo ‘ele”, e substituamos ‘ele’ por ‘o’ em três colocações: Ela estaria o traindo (uso indevido); Ela estaria traindo-o (opção correta e mais fácil de ser entendida; a ênclise após o gerúndio): Ela o estaria traindo, forma culta da linguagem escrita, a próclise eufônica, talvez, a menos usada das três, que exige cuidados para ser entendida. A frase jornalística traz o pronome solto entre duas formas verbais, e seria a menos indicada gramaticalmente. Mas, para o redator, seria a melhor redação para uma frase popular.
Do mesmo modo, usemo-la no pretérito perfeito composto do indicativo: Ela tem traído ‘ele’. E agora? Onde colocar o pronome?
Se for seguido o critério do artigo, este seria o viés: Ela tem o traído (momento em que a colocação do pronome átono, que está solto, não coaduna com a regra gramatical).
Eis as alternativas: Ela tem-no traído (ênclise ao verbo auxiliar, em que o hífen é obrigatório). Ela o tem traído (próclise ao verbo auxiliar, forma indicada pela norma como a mais viável, embora pouquíssimo usada na linguagem coloquial).
A colocação Ela tem traído–o é considerada incorreta, porque não se usa ênclise em particípio. Assim, as frases Tem vendido-o, Tinha feito-o, Teria dito-o. Melhor que sejam: Tem-no vendido, Tinha-o feito, Tê-lo-ia dito (Ele o teria dito). Na linguagem culta escrita; Ele o tem vendido, ela o tinha feito, o menino o teria dito.
Escolha a opção adequada para que tudo fique conveniente a seu padrão de linguagem (não precisa se afobar). Primeiro, conheça as regras da ênclise e da próclise. Esqueça a mesóclise (desusada e pouco audível). Após conhecer bem o uso dos pronomes enclítico e proclítico, parta para a colocação em formas compostas (Nós o temos feito) ou locuções adverbiais (Eu o vou fazer, eu vou fazê-lo).
Certo que ‘Ela estaria o traindo’ ou ‘Ela teria o traído’ não seria a colocação determinada pela Gramática.
Esforce-se, que vai dar certo. O assunto é polêmico.
Boa sorte.