0

Lá ‘vem’ elas (sic), forma escrita em comentário sobre o futebol feminino. Vem e vêm (singular e plural)

Ela vem, elas vêm. Lá vem ela, lá vêm elas.

A grafia de algumas formas verbais ainda deixa dúvida, conforme se vê no dia a dia, o que tem levado o redator a cometer alguns deslizes.

Isso não é bom quando se trata do nível culto.

Somente, no popular, seria de convir que uma forma e outra são aceitas.

A linguagem escrita, em artigos que circulam na website, precisa seguir todos os trâmites gramaticais, se é que se vai respeitar o que determina a norma culta.

O verbo vir é um dos que oferecem dúvida, e fica claro que nem sempre o redator segue o padrão. Na melhor hipótese, dir-se-ia que houve, e há, um esquecimento.

Podemos perdoar esse lapso a quem escreve artigos em diários famosos?

A resposta é individual, além de admitirmos que, paralelamente ao engano, pode ocorrer o não-conhecimento de regras.

Além de vir, ter seria outro verbete com cara de chato, ao ser conjugado, já que se encontram por aí estas grafias: tem, têm, teem.

Antes de citar outro caso, no artigo de hoje, conjuguemos como manda a Gramática Normativa, respaldada pela Reforma Ortográfica, estes dois maluquinhos, meninos travessos que entortam os dedos do escritor, do escrevinhador, do cronista, do contista, do poeta, da poetisa, do articulista, do foca (ansioso que fica em seus artigos iniciais) e de tantos outros, todos naturais usuários do idioma pátrio, a Última Flor do Lácio (expressão consagrada do nosso ilustre poeta Olavo Bilac).

Há, ainda, as frases ‘calamitosas’ que circulam em redes sociais, e algumas deixam marcas indeléveis de desrespeito ao ferido idioma brasileiro, e dizem os doutos que outros usuários, em qualquer nível, pelo mundo afora, em que há a Lusofonia, o cuidado seria mais criterioso, com menos erros.

Parece que alguns nativos desta Pátria, que perde cuidados com a nova civilidade, são um pouco ‘largados’ quando se trata da regra gramatical, que eles odiariam, como se pode deduzir. Há amigos ex-alunos que criticam o modo culto de falarmos e escrevermos, e até chegando ao disparate de colocar a culpa pelos erros crassos que cometem na escola ‘empobrecida’.

Por que a aula de Língua Portuguesa seria incômoda? Concorde se quiser, haja vista que modernamente consideram que seria mais fácil aprender, já que o Internetês contém tudo o que o curioso quer saber, sem precisar de ouvir e ter que ‘anotar’ numa sala fechada. Para outrem, a Gramática é falha; para uns, a linguagem virtual é que não dá a devida segurança.

Registre-se essa conclusão, que pode ser ilógica, deste pobre comentarista, a quem o saudoso Ramiro Guedes, poeta, ensaísta, radialista famoso desta Cidade de Teixeira de Freitas, membro-efetivo da ATL (Academia Teixeirense de Letras), chamava de escriba, e ele um dos bons, sem usar o nome no aspecto pejorativo.

Vamos conjugar os dois verbos em alguns tempos.

Vir

Eu venho, tu vens, ele vem, nós vimos, vós vindes, eles vêm (presente do indicativo).

O menino vem de bicicleta (singular, por isso, a forma verbal sem acento gráfico).

“Agora, os caminhos vêm” (Mário Quintana), plural, por isso, com acento gráfico, o circunflexo. Ele vem, eles vêm.

Não se pode confundir ‘vêm’, do verbo vir, com ‘veem’, do verbo ver (antes da Reforma Ortográfica, essa terceira pessoa do plural do verbo ver, no presente do indicativo, era grafada com acento circunflexo, vêem, sinal gráfico nesse caso que deixou de existir).

Comum que ainda se diga “Viemos aqui para pedir um favor à senhora, Vovó Maria, para que nos ajude com qualquer quantia para comprarmos nossas passagens de ônibus para Salvador”, teriam dito seus netos Lucas e Marcos.

A grafia ‘viemos’ não está incorreta; semanticamente, como se trata de um momento, no presente, deve-se dizer ‘vimos’, mas se acharia que essa forma se confunde com ‘vimos’, de ver, motivo de a linguagem popular optar por ‘viemos’, que é aceita em se tratando do dia a dia da linguagem simples, natural.

O passado perfeito do verbi vir foi usado no lugar do presente do indicativo do mesmo verbo.

Eu vim, tu vieste, ele veio, nós viemos, vós viestes, eles vieram.

Toda a atenção é necessária para que não se grafe ‘eles vinheram’, grafia que não existe, no lugar de vieram.

Assim, segue a regra o verbo convir, composto de vir: Eu convenho, tu convéns, ele convém, nós convimos, vós convindes, eles convêm.

Abra os olhos para isto: convém (com acento agudo por se tratar de vocábulo oxítona, com a mesma fonologia de alguém, ninguém, amém). Do mesmo modo, convéns (forma verbal com acento tônico na última sílaba, palavra oxítona, por isso, acentuada com agudo, da mesma forma de vocábulos terminados em EM no plural: armazéns, vinténs, xeréns etc. ). Compare: convéns (tu), convém (ele, singular), convêm (eles, plural).

Anote, se precisar: ele se abstém, ele intervém, ele advém; eles se abstêm, eles intervêm, eles advêm.

Ter

Eu tenho, tu tens, ele tem, nós temos, vós tendes, eles têm.

Note os detalhes: tem (singular), têm (plural). O livro tem capa dura. Os copos têm uma alça.

Não existe a forma ‘teem’, que, enganosamente, ainda aparece em certos momentos. Não se justifica essa grafia, nem que fosse para representar a pronúncia forte de alguns, como se quisessem dizer: no singular, fala-se leve (ele tem); no plural, fala-se forte, com entonação (eles ‘têem’). Essa grafia nunca existiu, nem antes nem agora que a Reforma Ortográfica bate à nossa porta para ‘criar’ dúvidas. Se quiser pronunciar forte, pode, mas inventar grafia, não! Apenas, tu tens, ele tem, eles (elas, vocês, todos) têm.

O verbo ter possui (tem) muitos derivados, chamados verbos compostos): ater, conter, deter, manter, reter, e todos seguem a mesma regra de ter na conjugação.

Eu tenho, eu atenho; eu contenho, eu detenho, eu mantenho, eu retenho, e daí por diante: ele tem, ele atém, ele contém, ele detém, ele mantém, ele retém. Eles atêm, eles contêm, eles detêm, eles mantêm, eles retêm.

Mais um cuidado: atém, contém, detém, mantém e retém se tornam palavras oxítonas, da mesma forma que escrevemos há pouco convém, critério da acentuação gráfica dos oxítonas terminados em EM (porém, vintém, recém, armazém, Ibiranhém, Belém), por isso, o acento agudo obrigatório. E havendo o plural, mudamos de acento agudo para o circunflexo: eles contêm, eles mantêm, eles detêm.

A garrafa contém água. As garrafas contêm água. O menino mantém-se inerte. Os meninos mantêm-se inertes. O policial detém o criminoso. Os policiais detêm os criminosos. A Alfândega retém a mercadoria sem nota fiscal. Os fiscais retêm as mercadorias sem nota fiscal.

Sabemos que as regras estão nos compêndios sobre o uso do nosso idioma, por isso, acreditamos que todos conhecem esses casos, motivo de darmos a devida parada.

Consulte o livro, se precisar.

Abraços.

João Carlos de Oliveira

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *