O dilema de querer sair,
o dilema de querer ficar.
Quem está dentro culpa o coração.
Quem está fora tem outra visão.
Meu amigo,
a cor de seu olhar é neutra.
O meu… não sei que cor teria.
Tenho coisas de todas as cores,
porque, certamente, meus sentimentos,
calados ou falantes,
é que teriam todas as dores.
Não sei rezar para defunto,
como não rezei para mim mesmo
antes de morrer.
(…)
O dilema do certo ou do errado
mora comigo desde o final do século
e nunca vai desaparecer debaixo da terra
depois que meu verso florir no sobrado
que acabou de ser edificado
muito perto do riacho onde pesquei lambari
e namorei a moça mais linda do lugar.
Minha visão divaga entre a flor de cacto da Poesia
e a rosa rubra do carro importado
que deixei de comprar com o dinheiro da poupança
que o plano governamental me usurpou
no dia em que me emancipei.
(…)
no tempo em que meus pés descalços
não tinham medo de espinho de mandacaru.
Corra, menino,
que o tempo pode acabar de uma hora para outra.
Não fique parado aí na esquina,
parecendo um joão-corta-pau,
que não sai do lugar!
“Amanhã, eu vou!”
“Amanhã, eu vou!”
(do poeta João Carlos de Oliveira, do livro Em cada canto, Grupo Editorial Scortecci)