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Os sufixos iano e eano

Há certa dificuldade em serem usados esses dois sufixos nominais formadores de adjetivos, por que a sua pronúncia fica muito próxima – eano, com e, se parece com iano, com i, pelo nosso modelo de ortoépia (pronúncia correta, em especial, de vogais), própria de um linguajar suave, cujo sotaque faz uso de um Português “com açúcar”: tendemos muito pouco a diferenciar uma grafia da outra. Os sons, se não são idênticos, ficam similares. Seguindo ligeira orientação da Gramática Normativa, o adjetivo gentílico (que indica a origem de uma pessoa) obedece à grafia do termo primitivo. Acre, nosso Estado, forma, portanto, acreano. Entretanto, a grafia ‘acriano’ é mais usual, comumente registrada em dicionários. Um professor do meu estilo e visão vem dizer que essa grafia não é, estritamente, gramatical, obedece mais ao nosso costumeiro hábito de falar. Se o nome próprio termina em E, EU ou EIA, deve ser respeitada essa grafia. Por isso, pompeano, pompeiano, acreano, shakespeareano, respectivamente, de Pompeu, Pompeia, Acre e Shakespeare, embora, seja mais comum encontrarmos, pela ordem, acriano e shakespeariano. Se o nome próprio não termina em E (Machado, Wagner etc.), deve-se usar iano – machadiano, wagneriano.

Por outro lado, o hábito de falarmos um Português com açúcar nos leva a cometer erros de grafia. Comum seria encontrarmos em locais de venda de produtos agrícolas o termo ‘mexirica’ ou ‘mixirica’. A grafia está correta? Mesmo que este bloguista não seja um renomado filólogo, apenas um professor-escritor, com experiência de 40 anos de magistério, formado em Letras, tem a dizer que ‘essa grafia’ é uma pronúncia frouxa, cotidiana, a usual da nossa coloquialidade – a linguagem falada informal não nos exige regras; ficamos à vontade para falarmos do nosso jeito, do nosso sotaque. Mexerica, a laranja, que se torna laranja-cravo no Nordeste e bergamota no Sul do País, vem de mexerico (o fuxiqueiro), palavra derivada de mexer. Assim, variamos bastante – teatro vira ‘tiatro’, pimenta vira ‘pementa’, sotaque vira ‘sutaque’, categoria vira ‘catigoria’, perigo se torna ‘pirigo’, que fica ‘qui’ (“Qui” nada, rapaz!). Como você fala – minino ou menino? Peru ou piru? Moqueca ou muqueca? Mochila ou muchila? Moleque ou muleque? (No conceito deste bloguista, a primeira forma é a grafia correta; a segunda, apenas uma variante da pronúncia, respeitando-se o nosso regionalismo).

Um abraço.

João Carlos de Oliveira

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