0

A Reforma Ortográfica facilita ou dificulta o uso de prefixos e radicais, com ou sem hífen?

Há alguma dificuldade nesse aspecto. Muitos enganos aparecem em artigos diversos.

Auto determinação, auto-determinação ou autodeterminação? Veem-se as três faces, mas só uma condiz com a regra.

Como o primeiro elemento (auto) termina em fonema diferente do que começa o segundo (determinação), a grafia não exige hífen nem ambos devem ficar separados. O conjunto ‘-o‘ e ‘-d‘ não se repele ao ser pronunciado, por isso, fica justaposto sem uso do sinal gráfico (hífen): autodeterminação.

Essa linguagem explicativa não é técnica, como a usam grandes gramáticos, mas serve para serem entendidos os processos da prefixação e da justaposição, formadores de palavras, muito usados no dia a dia.

Percebe-se essa dúvida em muitos outros exemplos.

Anti doutrinação, anti-doutrinação ou antidoutrinação? Trata-se de caso idêntico ao anterior, cuja grafia preconiza prefixação sem hífen. Um bom artigo registrou ‘anti doutrinação‘, erro digital ou engano do redator; encontra-se, também, anti-doutrinação, hifenizado, ainda irregular. Reveja os critérios e grafe: antidoutrinação, mesmo que não esteja registrado no léxico.

Este blogueiro será ultracondenado por esses comentários? Tente analisar ultra condenado, ultra-condenado e ultracondenado. E agora? De novo, ainda que o termo não esteja registrado em livros, deve-se grafar ultracondenado.

O fato de haver dúvidas seria comum. O que não fica muito claro é o conjunto de regras da Reforma Ortográfica, que acabou não facilitando o que já era complicado e chato. Os enganos têm sido muitos, e gritantes em se tratando de artigos de fundo ou de editoriais, advindos de cabeças pensantes.

Contra ou a favor dessa Reforma?

A partir de agora, prevalecem a praticidade e a justeza da grafia, sem evasivas ou explicações mirabolantes.

A regra anterior, bem sucinta, dizia: usa-se hífen (em palavras de derivação prefixal) que comecem por vogal, H, R e S.

Semi-ângulo, super-humano, anti-rábico, anti-semita. Respeitada a regra atual, devemos grafar: semiângulo, super-humano, antirrábico, antissemita.

Super-homem e supersônico são iguais em uma ou outra regra. E vem a dúvida: pré-escolar ou preescolar? Por que preestabelecido e preenchido? Antes, anti-aéreo; hoje, antiaéreo; anti-inflamatório, em ambos os casos; contra-opositor, antes; agora, contraopositor. Re-usar, agora reusar; mas grafe reúso.

A atual Reforma Ortográfica diz, nas entrelinhas, que palavras que comecem por vogal só devem ser hifenizadas se houver a coincidência de mesma vogal: a final do radical ou prefixo e a inicial do vocábulo. Micro-ondas, anti-inflamatório. Fora isso, não será necessário o uso do hífen, mesmo que a regra anterior o tenha usado. Antiácido, antialérgico, anteontem, antialcoólico, contraorquestrado, semiárido. Mas antessala, minissérie, minissaia.

Artigos da mídia esboçam dúvida. Para eliminá-la, a comparação seria boa alternativa. A propósito, os elementos mega, micro, macro, ultra, anti, ante, contra, e outros, requerem cuidados, mas não impedem que a grafia correta visite nossa redação.

Atente-se e siga os exemplos abaixo.

Micro-ondas, cranioencefálico, megaevento, microcomputador, mega-assalto, megassom, megaoperação, microestrela, megapromoção, micro-ônibus, microssom, microevento, microencomenda, macroempresário, macroindústria, macroevento, biodigestor, biossensor, oxibiodegradável.

Antirrábico, antirrugas, anticárie, antídoto, antifuncional, contrarregra, contrassenso, contradizer, contraponto, contramão.

Uma curiosidade é que não se percebe o prefixo em algumas palavras, como em ‘insuportável, insuperável’, tal seu uso comum, por isso, comumente, não aparecem com grafia incorreta.

Para mesclar o dito de hoje, vão aqui alguns ‘causos’.

Seria comum se dizer que o candidato tenha ‘documentos em mãos’. Basta que se registre ‘ter documentos em mão’, isto é, que estejam disponíveis, não necessariamente estarem ‘nas mãos’.

Alguns registram a grafia ‘embriaguês’. Incorreta por que o substantivo é abstrato, devendo terminar em ez, como estupidez, sensatez; não se trata de palavra que indica origem, como norueguês, português, ou qualidade, como pedrês, montês. Na praticidade, termos terminados em ‘ês’, indicativos de origem, fazem o feminino ‘esa’, norueguesa, finlandesa, e não seria possível passar ‘embriaguês’, já incorreta, para ‘embriaguesa’. Em outro momento, haveria o registro ‘cabra montesa’. Certo ou errado? As gramáticas não cuidam claramente desse aspecto, mas se aprende que ‘pedrês’ é uniforme: galo pedrês, galinha pedrês, mas montês e montanhês evoluem para  montesa e montanhesa (bode montês, cabra montesa), adjetivos biformes.

Prescrição e proscrição, parônimos, com significados bem distintos. Nato: natural, nascido. Inato: já nasceu com o indivíduo.

Conhecida a sigla UBS (Unidade Básica de Saúde), e corretíssima sua grafia no plural: UBSs. Jamais, use UBS’s ou UBS’S. Assim, PMs, e não PM’s ou PM’S, como não são corretas as grafias CD’s nem DVD’s.

Muito forte a pronúncia ‘disconto‘, comum no meio comercial quando se fala em preços de produtos.

Duvidosa a expressão ‘câmeras de segurança’, cuja semântica seria dúbia. Apenas, ‘câmeras de monitoramento’, que podem gerar segurança para quem circula em determinada área.

O Brasil é o País ‘aonde‘ acontece de tudo. Uma vez que não indica o lugar a que se vai, correto é ‘onde’, indicativo do lugar em que se está. O Brasil é o País ‘onde’ acontece de tudo. No lugar de ‘onde’, pode-se empregar ‘em que’, e, como se trata de substantivo masculino singular, cabe ‘no qual’, o que permite ao usuário as opções: o País onde… o País em que… o País no qual.

Grafias que merecem atenção: maisena, muçarela, paralisação, discussão, exceção, garagem, megaempreendimento.

O uso de ‘pelo o‘, que seria comum no veio popular, é inadequado. Em ‘pelo’ já se encontra o artigo ‘o’, aglutinado à preposição ‘por’, que se torna ‘per’ na voz passiva, não devendo haver ‘pelo o, pela a, pelos os, pelas as’, apenas, ‘pelo, pela, pelos, pelas.

A frase ‘O professor corrigiu as provas’ (na voz ativa) passa a ‘As provas foram corrigidas pelo professor’ (na voz passiva analítica), em que não pode ser usado ‘pelo o’.

A secretária escreveu o bilhete. O bilhete foi escrito pela secretária.

Os ofendidos registraram boletins de ocorrência. Boletins de ocorrência foram registrados pelos ofendidos.

Mulheres fazem várias declarações sobre o médium. Várias declarações são feitas pelas mulheres sobre o médium.

A cada momento, pode surgir um deslize na escrita. O verbo identificar, às vezes, é malpronunciado. A família etimológica ‘idêntico, identidade, identificar, identificado, identificável’, e outros, deve ser revista. Rapidamente, alguém, que costuma ter boa redação, registra “Não indentifiquei”, sem perceber o engano. É preciso o olhar de lince para descobrir a falha despercebida. Adiante, por exemplo, como prova de que o redator é cuidadoso, aparece ‘identificado’. Esse lapso não pode ser tomado ao pé da letra para despejarmos uma tonelada de impropérios em quem cometeu o ‘infortúnio’.

‘Haviam’ pessoas na reunião. O verbo haver, na acepção de existir, como nessa frase, é impessoal. Sua flexão se dá apenas na terceira pessoa do singular em todos os tempos e modos.

Há pessoas na reunião. Houve pessoas na reunião. Havia pessoas na reunião. Houvera pessoas na reunião. Haverá pessoas na reunião. Haveria pessoas na reunião. (Os seis tempos simples do modo indicativo.)

Se houver pessoas na reunião (Quando houver). Se houvesse pessoas na reunião. Esperamos que haja pessoas na reunião. (Os três tempos do modo subjuntivo.)

Haja pessoas na reunião.

Não haja pessoas na reunião. (Os imperativos afirmativo e negativo.)

Serviu? Comente o que leu e volte aqui para conversarmos mais.

João Carlos de Oliveira

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *