Acento e assento são homônimos homófonos, por apresentarem a mesma tonalidade fônica, embora com grafia e significado diferentes. Os homógrafos, entretanto, têm a mesma grafia, mas pronúncia diferente (som fechado e aberto), e, claro, sentido próprio. O governo (^) nem sempre age conforme a exigência legal. Eu governo (´) meus próprios princípios do bem-viver. Ele vai bem; o ele de promulgar deve ser bem pronunciado. Os ‘perfeitos’ (homófonos e homógrafos a um só tempo) nunca oferecem dúvida de escrita: O morro no altiplano dá destaque ao relevo; ‘Morro’ de saudade de minha primeira amada. O amo (o patrão) e amo (forma verbal).
Os homófonos é que têm aterrorizado algumas cacholas, haja vista erros de grafia.
Tomar acento teria dupla versão?, ‘dominar’ o acento da palavra, isto é, saber de sua acentuação gráfica e prosódica, ou, simplesmente, não existir por falta de coesão semântica.
Palavras, entre outras, que requerem cuidado na entonação: ócio, rocio, o endosso, ossos do ofício, a calúnia, ele calunia, dissídios, os vazios de uma lei, os vasos sanguíneos (relação aleatória, que não implica exemplos únicos ou absolutos).
Certo é que homônimos sempre causam dúvida, e muitos com o fonema -cê têm provocado embaraços.
Acender, ascender; acerto, asserto; apreçar, apressar; caçar, cassar; cegar, segar; cela, sela; censo, senso (censor, sensor); cessão, seção (secção), sessão; cesta, sesta, sexta; concertar, consertar; incerto, inserto; incipiente, insipiente; laço, lasso; maça, massa; paço, passo.
Poderiam ser mostrados outros, além de alguns famigerados com o fonema zê: paletó cosido (costurado, que pouco se usa) e calça cosida deixam dúvida? Ruim é ovo ‘conzido’ (sic), como se encontra em alguma mercearia queijo ‘conzido’. Que pena! Carne cozida (cozinhada), expressão usada em todo o território nacional, poderia servir de referência para o erro ser evitado.
Imagina-se que quem confunde coser e cozer, jamais, perceberia diferença entre ‘vez’ e ‘vês’, já quem escreve embriaguês (ufa!), analizar, paralizar, grafias assustadoras diante dos cognatos analisado, paralisado, teria enorme dificuldade de entender ‘lasso’, o acometido de profunda fadiga, abatido, e, na linguagem regional, ‘frouxo’. Se vez causa dúvida, entenda-se revezar, revezado; se eu vejo, tu ‘vês que agora é a tua vez de falar alguma coisa, João’.
Vamos pondo lenha na fogueira, vamos remando o barco contra as corredeiras para que fiquemos mais atentos, seguros de que a embarcação não fique à deriva ou não naufrague com ‘escreventes’ que ojerizam a boa gramática e o bom dicionário.
Difícil é saber que insipiente pode ser o estúpido, o insensato ou de pouco saber, e incipiente, o que tem pouca ou nenhuma experiência laboral, por ser iniciante, um neófito.
Se ‘a necessidade é que faz o sapo pular’ ou gera o próprio meio de locomoção, naturalíssimo seria lermos, pesquisarmos, compararmos mais para que aprendêssemos com mais segurança. A curiosidade é que faz a descoberta, que o digam os grandes inventores.
Amedronta que confunde tacha com taxa, ou tachar com taxar. O homem foi ‘taxado’ de mentiroso (exemplo ruim), que tem circulado. O que se taxa é mercadoria, suas alíquotas; o cidadão é tachado de inoperante, preguiçoso ou homofóbico.
Pode-se encontrar ‘O aeroplano ‘acendeu’ às alturas’. Ora, ora, assim, neste São João, o camponês, mesmo com lenha escassa, ‘ascenderia’ a fogueira?
Justo é que saibamos distinguir ‘o cesto’ (a cesta), o balaio, do ‘sexto’ colocado, e saibamos que o ‘incerto’ faz a cabeça doer, mas o documento ‘inserto’ (pronúncia fechada) é que foi inserido (introduzido) nos Autos, deixando ao Emérito Julgador o mérito de analisar o que se acusa, o que se defende.
O acerto (o que se combina, o acordo) pode ser ‘a prescrição’, e ‘asserto’, a afirmação, daí usarmos ‘Ele fez grande assertiva em dizer sim em momento crucial’.
Seria fácil o uso de cegar (o amor pode deixar pessoa cega se o desejo suplanta a razão), mas ‘segar’ a vida, ‘ceifá-la’, não é de fácil domínio. Da mesma forma, damos um passo na vida, por isso, dessa família temos passeio, passear e passar de uma coisa à outra, mas encontrar o Prefeito (trabalhando) no Paço Municipal não é tão comum.
Outras atenções exigem acuidade: a seção em que a bela-dona trabalha, a cessão dos bens do falecido ao orfanato foi consumada, a secção regional do Departamento Policial foi desativada por Decreto Governamental. E a sessão das tardes de domingo, nos cinemas do interior, para se ver um bom faroeste (‘far west’), deixaram de existir, deixando nossa cultura propensa à hecatombe por falta de conhecimento (clara derrota de nossa formação escolar).
A chamada sobre o tema central é suficiente para mostrar a importância do bom domínio sobre homônimos, ou melhor, que nunca os olvidemos ou os usemos se a dúvida persistir.
Tomar assento, pois, tem três conotações básicas: sentar-se (uso popular, em que o anfitrião pede à visita que tome assento no banco rústico da varanda); anotar um fato (registrá-lo, como faz um escrivão, dando como justo o que foi dito ou solicitado em registro notarial, como nos bons tempos), costume que deu fé à Torre do Tombo, em Portugal, eis que houve pergaminhos e escrituras ‘costuradas’ por uma letra manuscrita invejável, época em que o calígrafo tinha importância. A letra revela personalidade, e a bela indica grandeza, firmeza.
Por último, ‘tomar assento’ é empossar-se num cargo após o devido concurso público, como manda a lei. Tomar posse como professor concursado, ser admitido no serviço público do magistério estadual, foi colossal, o que hoje tem gerado debates. Os proventos do mestre têm gerado questionamentos, e como sua atividade pedagógica é exercida e é aceita pela clientela, muito mais. Certo é que escola sem aluno seria uma pandorga a voar no espaço aéreo, mas reconhecer o trabalho docente e delimitar, por meio de estatuto escolar, os direitos e deveres do discente (e do docente) é fundamental; sem isso, a escola sucumbe, e o primeiro ‘erro’ tem que ser punido; o primeiro a praticar bullying deve passar, sem choro nem vela, pelo crivo severo do Colegiado Escolar, que não pode renegar os devidos meios legais.
Uma obra sobre o Espiritismo, que seria psicografada, cometeu o lapso de dizer que um cidadão visitante, ao esperar que fosse recebido pelo chefe da casa, resolveu ‘tomar acento‘ em um sofá.
O engano, claro, teria sido do autor do texto, do revisor, do ‘tradutor’?
O que diz o dicionário? Acento é sinal gráfico: acentos agudo e circunflexo, e ainda o til; por isso, acentuar graficamente as palavras para que não se confundam: A médica medica o paciente, o sabiá pontua seu canto magistral; o espião sabia de tudo; a pessoa sábia tem mais certeza do que faz. Sabiá, sabia, sábia.
Acento, inflexão da voz na pronúncia das palavras. ‘Estou ciente de que devo ir ao sótão’. O Prêmio Nobel de Literatura.
Assento é banco, sofá, local em que se senta (assenta) para fazer a sesta após o almoço, pois ao meio-dia e meia tem que voltar ao trabalho.
Tomar assento, em análise simples, é ter consciência do que se diz e faz.
Tomar assento na vida.
Tomar assento de seus direitos.
A depender do contexto, podem ser sinônimos ‘tomar assento, tomar assunto, tomar jeito, tomar rumo’ (cuidar-se, precaver-se).
Assento vem de assentar, que varia muito de conotação, tornando-se verbo polissêmico: sentar-se, ajustar-se, cair bem (Isso não lhe assenta, senhorita!), censurar (assentar a espada em), alistar-se como soldado ou marinheiro (assentar praça) etc.
Basta para pensarmos um bocado, o bocado de farinha para matar a fome!
Mesmo que não tenha gostado de tudo, obrigado pela visita.