Elemento de ligação entre palavras, orações ou termos de orações, com outras funções, que é nobre e modesto a um só tempo, por isso bem detalhado na Gramática Normativa, com várias classificações: de pronome relativo a partícula expletiva, e outras, importantes na linguagem de níveis diversos, usados com grandiosa dimensão.
Sintaticamente, tem várias funções, chegando a nada ser, a partir de que é partícula expletiva: está na frase como um intruso, mas serve de realce. Enfeita como flor de bonina ou perfume de bogari viçoso, o que ajuda a frase a ficar (mais) enfática ou atrativa.
O objetivo neste momento não é dar nomes a tudo que ele presta na frase, a suas classificações e funções, mas mostrar modelos de frases em que se faz presente. E o popular o ama, adora-o como um auxiliar. Na hora do aperto, quando não se tem nada para dizer, ou dá uma pane mental, vem ele sorridente: “Quê! Você está aí, meu amor!”, e foi dito o que não se pensou antes, e ficou legal, supimpa. O que nada seria se tornou um quê maravilhoso; o recado foi dado sob o olhar de enunciado inesperado.
Com tudo isso, vamos a alguns nomes gramaticais.
Uma gramática diria que, na prática, essa palavrinha teria, para mais ou para menos, cerca de vinte utilidades domésticas, diárias, semanais, dominicais, sazonais, periódicas, poéticas, e muito mais. Mas que versáteis!
Motivado por uma relação gramatical, e didática, eis “Valores e funções do QUE” (sic), e isso, todos o sabem, de acordo com o contexto em que se encaixa, ou se insere (dizendo ‘bonito’). Palavrinha rica, múltipla, sensacional, pluralística, malandra, bacana, QUE vaza o mundo pelo meio!
Substantivo: quando acompanhada de artigo ou palavra que o destaque. Essa menina tem um quê de doutora, aquela que intervém em tudo, dando explicações.
Pronome interrogativo direta ou indiretamente: Que aconteceu, pai? O senhor ‘tá’ amarelo! (E nada disse, esbaforido que estava.) Perguntei-lhe o que ‘correu’, não soube responder.
E, interrogativamente, ainda pode ser: adjetivo (Que coisa linda você viu aí, de tanto olhar?); substantivo: Que ela achou mesmo?
Pronome indefinido, quando assim o é ou está vago, extravasando a dor, a admiração, a maleabilidade do pensar: Que lembrança magistral eu tenho de seu semblante ao me beijar!
Como pronome indefinido pode ser adjetivo ou substantivo: Que simpatia tem essa moça ruiva! Tem não se sabe o quê, que atrai tanta gente a seu redor (essa moça ruiva)!
Advérbio, quando dá a intensidade que o Sol tem no Horizonte, nossa forma de dizer o sentimento que nos bate no cérebro (não no coração, coitado! ele não pensa! O cérebro é que reage, e faz o coração tremular): Que bonitas pernas a moça ruiva tem! Que distante! (eu estou dela, por não ser seu predileto ou preferido, mesmo assim sonhei estarmos casando-nos).
Preposição, e muito com o viés de um ‘de’: Tenho que ir, Maria, senão o Sol se põe! (Você disse ‘Temos de ir, Manuel?’ O Sol ainda ‘tá’ nas ‘arturas’, ‘homi’ de Deus.)
Interjeição, ou palavra interjetiva: “Quê!? Tu ‘chegou’, homem? Por que veio tão logo?”
QUE é, ainda, conjunção, por isso, chamado conectivo (motivo por que nas orações ele as relaciona).
Coordenativa: Vem que vem, meu filho! (aditiva). Fale pouco, irmão, que sua palavra vai ser ouvida! (explicativa). Foi agora, que não volta (adversativa).
Subordinativa: Espero que o Mundo sorria depois de tanta tragédia! (integrante; muito usada no dia a dia, no modelo ‘Disse que…’). Todos sabem que a Lua é o Satélite da Terra, ‘menina’ poética, como sabe ser!
Andou tanto descalço, que fez calos nos pés rachados! (consecutiva). Ansiosa que estava, a mãe saiu à procura do filho desertor, e o encontrou alienado no meio da multidão! (causal).
E muitas funções sintáticas, discriminadas na Gramática com soberbia e detalhe curiosos, mas essa parte não vai ter espaço aqui hoje, já que, além de conhecida da maioria, seria menos necessária. Entretanto, vai um exemplo na função de objeto indireto: Qual a música de que gosta, meu amor?
Sujeito, objetos direto e indireto, predicativo do sujeito, complemento nominal, adjunto adverbial, agente da passiva. Mas, ‘pra queimar a língua’, vão dois exemplos: Todos temem o psicopata que aquele fulano é (predicativo do sujeito; o qual é…); Ela está na loja em que trabalha (adjunto adverbial de lugar; na qual trabalha…).
O mais fica por conta do visitante.
O que é mais notório, hoje, é QUE como partícula expletiva, a que não tem função sintática especificada; só realça o enunciado e pode ser retirado do contexto, sem qualquer prejuízo gramatical, sintático ou semântico.
As frases belas são as que seguem, cujo que, que pode ser retirado do que foi dito, está em negrito.
O que que você quer, cara?!
O que é que você vem fazer aqui, meu filho?
O que que eles disseram, Esperoendeus?
E compare os dizeres: Que aconteceu? Que é que aconteceu? O que que aconteceu? O que é que aconteceu?
Um advogado costuma comentar que ‘o povo’, como diz, gosta de usar ‘que’ em abundância (pelo menos diz a mim, ele que conhece muito de meus textos, desde que eu escrevia no jornal Alerta, desta Cidade, site que está no ar).
Minha resposta tem sido: “Deixe o povo falar como quiser, cara!”, e sorri, dizendo: “Já que você falou, ‘tá’ falado”.
Pela intimidade que temos, pelo nosso convívio salutar, creio que não se aborreceria em citar seu nome neste espaço bloguista: intelectual e excelente causídico, escritor que também é, tem muitas crônicas, interessantes e altamente críticas, escreveu sobre sua cidade (a natal): Ary Moreira Lisboa, o cara!, cuja obra bem ‘obrada’, UMA BREVE HISTÓRIA DE ITANHÉM (fincada no Extremo-Sul baiano, cujo nome se parece com Itanhaém, SP).
Vá que o comentário de hoje serve para mais um daqueles que lê esses quês. Que, de quê?
Um abraço!