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Lá em casa, somos ‘em’ dez pessoas (sic). É assim que se fala? É assim que se escreve?

O verbo ser, com a menor expressão verbal dita e escrita, ‘é‘, multifacetada, cujo valor semântico ‘serve para tudo’, seria o mais usado da Língua Portuguesa; talvez, de tantos outros idiomas.

Lembre-se de que, em Inglês, fazem uso do vetusto e prático ‘verb to be’, tão comum quanto ‘to take a beer’. ‘Let be’, de Os Beatles, é emblemático, como estar em Times Square, em Nova Iorque. E lá se vão tantas outras formas de falar e registrar o diário da vida.

A propósito, nesta opinião, o uso de ‘Nova York’ açoita o idioma: uma dupla face, com um tico em Português (Nova) e outro em Inglês (York). Por que esse ‘chiquismo’? Por que uma empresa famosa assim o fez, e o faz, há anos, e pegou?; agora, muitos a seguem? Num bom falar, Nova Iorque, como se usa nova-iorquino, e assim num bom escrever, aportuguesada toda a expressão: Nova Iorque, a nova ‘casa dos reais britânicos’ no Novo Mundo, motivo por que foi dado o mesmo nome à cidade americana, que se tornou a urbe mais cosmopolita do Planeta. “E não é, rapaz! Eu ‘tive’ lá o ano passado, e depois fui até Hollywood”, teria dito um nobre, o mais feliz dos humanoides na face da Terra.

Você prefere visitar ‘New York’ (e fala de boca-cheia!) a conhecer a Chapada Diamantina, aqui na Bahia? Muita diferença se passa debaixo da ponte pênsil entre ‘visitar’ uma cidade e ‘conhecer’ uma região.

Mas nosso comentário é aqui mesmo, nos nossos gorgomilos (“Meus grugumins ‘tão’ doendo, compadre!”), na nossa vivência, na nossa prática.

Esse verbo é um torturador da linguagem popular ou o pobre coitado que vem sendo torturado por muitos na fala cotidiana?

Carrasco ou vilão, não se fez ainda esse levantamento, mas seria tanto aquilo como isto, e está sendo mal-usado. Mal-pronunciado. Mal-dito (não ‘maldito’) e mal-escrito.

Se ‘Lá em casa, somos em dez pessoas’ for (fosse) correto, seria usual ‘Somos em três amigos’, ‘Somos em um casal unido’, ‘Somos em uma turma de dez patetas’?

Existe a regência verbal ‘ser em‘? Que Gramática cuida dessa pérola?

Lembremos a grande obra ‘Éramos Seis’, romance de ficção publicado em 1943 pela Companhia Editora Nacional, da escritora paulista Maria José Dupré (1898-1984). A capa traz a imagem de seis membros da família, e, certamente, lá deve estar Dona Lola, a matriarca. A talentosa escritora não usa ‘Éramos Em Seis’, como se fora a norma determinada pela Gramática Normativa, como se fora a forma enraizada já na tradição da linguagem daqueles tempos. A não ser que no contexto da novela em que se transformou esse acervo da Literatura Brasileira (levei-o a muitos alunos em sala de aula, motivando sua leitura individual e/ou coletiva), tenha havido algum trecho em que certo ator (certa atriz) tenha usado ‘Éramos em Seis’, durante o fazer dos capítulos. (?) Chegou a haver isso, o que influenciaria para hoje haver expressões similares tão comuns?

A autora teve vida longeva, falecida em 1984, portanto, com 86 anos de luta e bravura, e longeva queremos que seja sua frase do título, representando o número de membros de muitas famílias brasileiras. Lá em Cachoeira Grande, éramos 15: meus pais e 13 irmãos. Mais dois nasceram em solo mineiro.

Por que, então, em outros momentos, muito na linguagem falada, aparece a forma ‘somos em’? Por que a preposição ‘em’, que indica lugar, surge tão nobre? Que influência a trouxe para essa modalidade de expressão, quando alguns se referem ao número de pessoas de uma família? Tão-somente assim; tradicionalmente, assim. Não é usada em ‘Somos em amigos’ etc., como citado acima.

O motivo maior seria o fato de bastantes usarem “Lá na sua casa, vocês são em quantos?”

Por que se usa ‘na casa’, com a presença da preposição ‘em’ (em+a casa), passa-se a usar ‘Somos em muitos irmãos’?

A Gramática Normativa traz as regras de uso de certas regências verbais. Chegar a, chegar a um lugar (embora, grande maioria ainda use Chegou na cidade no lugar de Chegou à cidade. Chegou no caminhão, sim. Foi trazido nele. Chegou à cidade de Teixeira de Freitas, sim, veio a esta cidade).

Um exemplo clássico é o uso de ‘preferir do que’ e não ‘preferir a’. Prefira leite do que uísque supera ‘Prefira leite a uísque‘. ‘Do que’ dever ser usado no caso comparativo: Ele é mais alto do que bonito; ela é mais simpática do que feia, e outros casos tradicionais.

‘Prefiro dormir do que ir a alguns shows’, como outros falares, invade o cotidiano de forma tão brutal, e consciente?, que poucos notariam o descumprimento da norma gramatical. Prefiro dormir a assistir qualquer coisa.

No dia a dia, ouve-se muito pouco, ou quase nada, Prefiro isto àquilo, prefiro queijo a goiabada, prefere atum a bacalhau, mas se canta e decanta Prefiro o cantor xis do que ‘aquele que não faz live’ nesta pandemia.

Já circula há algum tempo, mas nesta pandemia o número de frases com ‘Somos em tantos na nossa família’, falando do que chamam de tragédia, é muito superior ao habitual. Tornou-se moda? Virou coqueluche?

Certo é que extensas regras em Português, e algumas, de fato, chatas como o achatamento do Polo Norte, incomodam muito, e muitas não são usadas nem aprendidas. Por outro lado, tem-se a visão de que essa pluralidade é que enriquece o idioma e o torna tão variado, tal o rosto de quem fala, a face de quem ri, os lábios grossos ou finos de muitas moçoilas bonitas, com seus olhos graúdos ou miúdos. Assim o são para amenizar os dissabores que vivemos em momentos macabros.

Isso nos encanta, não?

Para finalizar, algumas frases com ‘em‘ no uso do verbo ser, corrigindo-as para o nível padronizado. Nesse caso, faz-se uma análise: qual das formas diz melhor? Qual é a mais usada? Qual ficaria mais atraente e significativa?

Lá em casa, somos em quatro. Lá em casa, somos quatro. (Simplesmente, assim.)

Somos em seis na minha casa. Somos seis na minha casa (meus pais e quatro irmãos, contando comigo). (Melhor assim.)

Os meninos eram em 1o no campo, e ainda assim fizeram um time de futebol (que tem 11). Os meninos eram 10 no campo, e ainda assim fizeram um time de futebol (que tem 11). (O faltoso seria o goleiro, cuja área ficava sem ninguém. No momento em que o adversário tentasse fazer gol, um do time de 10 faria às vezes do quíper, mas não poderia defender com a mão; por isso, tudo era engraçado: chute ao vento, voo rasante, cabeçada torta, pernada enviesada, e a bola entrava.)

Pior que isso é a redação do jornalista ‘A poucohouve um acidente na avenida.

Temos um produto anti-ronco, que vai resolver seu problema.

Dando destaque à grafia em negrito: O megarrodízio em São Paulo. (Parabéns ao redator.)

Entre Folhas fica na microrregião de Caratinga (cidades e municípios mineiros).

João Dourado fica na mesorregião do Centro-Norte Baiano, incluindo-se Jacobina, Irecê e outras cidades (municípios baianos).

Municípios da Macrorregião do Sudoeste da Bahia, onde ficam Itapetinga e Vitória da Conquista.

Se já usamos antirrábico, por isso, antirronco, com base em minissérie, macrorregião, microrregião e mesorregião, usemos também: anticárie, anticovid, antiderrapante, antirrampa, antipopular, antisséptico, minirrota, minirrampa.

Até ‘mais ver’, caro visitante!

 

 

João Carlos de Oliveira

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