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Qual o plural de ‘shopping center’? Seria correto ‘shoppings centers’? Por que o termo composto inglês, ainda, oferece dúvida?

O verbo inglês ‘to shop’ (shopped, shopping, shops) tem o significado popular de ‘ir a uma loja fazer compras’. Diz o dicionário ‘BASIC Newbury House DICTIONARY of American English’ (rico e variado, com o qual tento aprender alguns itens linguísticos): “to go to stores, usually to buy: We shop for food at the local supermarket“, que, em tradução livre, seria: ir a lojas, comumente comprar: Nós fomos comprar alimento no supermercado local.

O texto que consulto, em Inglês, diz, também, que americanos preferem o termo ‘shop’ para pequeno estabelecimento especializado como barbearia, cafeteria ou loja de roupas. ‘Store’ é generalizado, usado para ambos os casos: estabelecimentos grandes e pequenos, mas a maioria dos ‘shopping malls’ tem uma ou duas grandes lojas de departamento.

A frase em Inglês foi esta: ‘Americans use the term shop for a small, specialized establishment like a barber shop, coffee shop, or dress shop (…)’.

Observada a expressão ‘shopping malls’, que está no plural, temo-la equivalente a ‘shopping centers’, em que ‘shopping’ tem valor de adjetivo ou locução adjetiva: lojas (centros) de compra.

Isso indica que o plural não é feito flexionando-se os dois vocábulos ao mesmo tempo, como querem alguns redatores, que têm usado “Os shoppings centers vão ser reabertos em SP” (sic).

Se brasileiros há que gostam de ‘reduzir’ o que dizem, esses preferem ‘shopping’, e daí têm feito o plural somente com essa palavra: os shoppings, pluralização à brasileira, já que assim não se usa em Inglês. Uma vez que a expressão não foi aportuguesada, vale Shopping Centers, Shopping Malls, ou, simplesmente, Shopping ou Malls (se querem dizer o plural).

Certo é que o plural dos dois vocábulos na mesma ‘frase’ não cabe. Shoppings centers é lapso, o que é impróprio ao se usar a linguagem de idioma que não seja o nosso. Respeitadas as regras em Inglês, o plural é ‘shopping centers’. Para quebrar o galho (coisa de armengo, não recomendável), os shoppings, mas nunca com acréscimo de ‘centers’, como vêm usando.

Analisando mais um pouco o que diz o Inglês, existem shopping center e shopping mall, cujos plurais são, respectivamente, shopping centers e shopping malls, como nos relata a teoria gramatical do idioma ‘dono’ dessas duas expressões sobre comércio, lojas e departamentos.

Shopping Center, a group of different types of stores and restaurants with large parking lot; Shopping mall, a group of different types of stores and restaurants, all under one roof.

A tradução das expressões em Inglês não ficaram à altura do visitante, alguém que gosta de Português, que deve conhecer de Inglês, mas os plurais estão claros: shopping centers, shopping malls.

Jamais, shoppings centers ou shoppings malls.

Como dizem as informações, o inglês-americano prefere ‘mall center’ a ‘shopping center’. A pronúncia daquele é mais segura que a deste: ‘mól cénter’, mais audível, sonora e agradável; não seria preferência do inglês-saxônico que tem conotação personalista, razão por que, para esse linguajar, shopping center se destaca, parece pomposo, daí brasileiros o falarem com boca-cheia: “Mô, tô indo ‘no’ shopping, viu!”. E o ‘bichinho’ é, apenas, um pequeno ponto comercial, que recebeu o aval de algum governo municipal ou estadual.

Se prefere uma palavra, diga mall; se duas, shopping center. (Explicam.)

Haveria mais o que dizer sobre esses tópicos, mas fica por aqui.

Lembrando outros plurais, alguns mostrados através de abreviatura ou sigla não têm cumprido as regras gramaticais.

EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL, abreviado EPI.

No plural, EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (não se deve usar ‘equipamentos de proteções individuais’, que contradiria a semântica).

Usada a abreviatura no plural: EPIs (forma correta), não se deve usar EPI’s, como alguns o fazem, da mesma forma que é irregular o uso de PM’s, CD’s etc.

O ‘s (apóstrofo seguido de esse) indica posse em Inglês e não se trata de plural em Português. Ex.: Fred’s bar (o bar de Fred).

Comumente, o apóstrofo em Inglês é usado em contrações (I didn’t write this: Eu não escrevi isto) ou em possessivos (That man’s wife is very sympathetic: A esposa daquele homem é muito simpática). Nada tem a ver com ‘nossos plurais’ em abreviatura (CDs e não CD’s; PMs e não PM’s). Essa influência enganosa vem de nomes de lojas em que cidadãos usam apóstrofo seguido de s: ‘Silviu’s Joias’ (as joias de Sílvio, o que seria uma ourivesaria). Em outro exemplo, pode aparecer Beth house’s. Com essa semântica, deveria ser Beth’s house (a casa de Bete, o que nada tem a ver com plural).

Em se tratando de plural, os enganos existem também em expressões corriqueiras, que seguiriam regras tradicionais das concordâncias nominal e verbal.

“Foi encontrado várias pistolas no porta-malas do veículo”. Foram encontradas várias pistolas no porta-malas do veículo. Trata-se da voz passiva analítica, na ordem indireta. A mesma expressão na ordem direta: Várias pistolas foram encontradas no porta-malas do veículo. E na voz passiva sintética (em ordem direta): Encontraram-se várias pistolas no porta-malas do veículo.

Exemplos ‘clássicos’, usados por um baita esquecimento; a não ser que o redator tenha esse hábito e nunca o tenha percebido: “Foi apreendido três pistolas” (sic), sobre o crime de tráfico de drogas, tão comum em todo o País. Posto seu olhar de lince sobre a frase, teria escrito: Foram apreendidas três pistolas (em ordem indireta) ou Três pistolas foram apreendidas (em ordem direta).

Que se dissesse “A gloriosa PM da Bahia tinha apreendido três pistolas”.

“Foi visualizado compartimentos de divisão da carga com as drogas” (sic), frase que deveria ter sido redigida: Foram visualizados compartimentos de divisão da carga com as drogas.

Duas opções de redação para esse excerto: Foi visto que compartimentos de divisão da carga continham as drogas. A PM tinha visto que nos compartimentos de divisão da carga havia as drogas.

Se o plural na forma passiva analítica não ficar bem, ou não seria popular para a redação voltada ao grande público, a melhor forma seria ‘A Polícia tinha encontrado drogas nos compartimentos do veículo’, curta e direta, condizente com o conteúdo textual (veículo com carga dissimulada e tráfico de drogas).

Há, inclusive, o plural ‘ao contrário’, redação que não distingue ‘tem’, singular, de ‘têm’, plural. Costumam usar tem para os dois casos. O menino tem uma bicicleta. Os meninos tem uma bicicleta.

A regra é visível: Ele tem uma bicicleta. Eles têm uma bicicleta.

Esquecem-se do acento circunflexo por negligência de conhecimento gramatical ou linguagem redatorial, a que chamam de ‘estilo pessoal‘? (Todo estilo é próprio.)

A regra para o uso de tem ou têm é relacionada ao sujeito da frase, e não ao complemento verbal. Confundem essa norma e chegam a um ponto estranho, ainda não explicado: usam ‘tem’ se o objeto direto está no singular, e ‘têm’, se está no plural.

O que é isso, cara?

“O Brasil têm muitos casos de coronavírus” (sic), frase sobre a pandemia do momento.

‘O Brasil’ está no singular, portanto, a forma verbal deve ser ‘tem’, não importando que o complemento verbal esteja no singular ou plural.

O Brasil tem muitos casos de coronavírus. Essa cidade tem um único caso de coronavírus.

O irmão tem uma bicicleta. O irmão tem várias bicicletas. Os irmãos têm uma bicicleta. Os irmãos têm várias bicicletas.

 

 

João Carlos de Oliveira

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