No momento da crítica, aquele que erra, ou comete engano, sofre muito, tais os adjetivos com que é classificado. Alguns pejorativos.
Mesmo que seja em tom de brincadeira, o julgador encomprida a lista e atira uma corda longa para amarrar à beira da estrada o boi fujão, para saborear um pouco de gramínea por perto.
Um dos adjetivos usados seria o motivador do comentário de hoje: o que significa parvo? Que sinônimos são triturados e jogados nas costas do tolo? E as parvoíces?
Parvo, aquele que não tem iniciativa intelectual, cujo nível de entendimento deixa a desejar. Alguém o convida a carregar 100 lajotas para local mais adequado. Ele não pondera que pode levar de uma a uma. Apenas, recusa a tarefa, alegando-a muito pesada.
O parvo, pequeno na sua análise de aceitar o desafio, treme, tem receio e murcha. Amarela-se por si mesmo.
Para dar-lhe sinônimos, deixemos os mais sofisticados para depois (estulto) e comecemos com os cotidianos ou simplórios.
Seu bobo! Você tem medo até de borboleta? Se fosse uma taturana, tudo bem!
De bobinho passemos a tolo, tolinho, toleirão, abestado, atoleimado, besta, bestão! Seu burro! Você não sabe que ‘casa’ se escreve com z? Por isso, cazinha de sapé, à beira do caminho!
Ele, que não pratica qualquer ultraje, e não sabe escolher o caminho para chegar de imediato, é um sonsinho. Fazer um corta-volta, como o camponês que descobre nova passagem e passa por uma vereda, não é seu forte. E perde a chance de vencer.
“Quer vender o canário, amarelo?” A ave ou quem a leva?
“João, qual o outro nome que tem o sofrê? Não é ‘sofreu‘, vou logo lhe adiantando!”
Idiota! Perguntinha papalva!
Todo o sertão baiano tem muito deles! O macho é mais colorido, como um amarelo mais nítido! E como canta!
Pois é, meu caro, lerdo, lerdaço, lorpa, seu tabaréu de uma figa, o bichinho se chama corrupião! Ave canora brasileira.
Bestalhão, paspalho, paspalhão. Bufão, com o sentido de tolo. No tempo dos bufões, amarrava-se cachorro com linguiça, frase que se tornou esquecida.
O palerma, o moleirão, o bobalhão, o toleirão, o bobão. E daí o outro: “Seu cagão! Por que você fez isso!?” (tinha derramado o leite sem nenhuma volição), portanto, não houve crime.
Tolo, aquele sem inteligência, ou sem juízo. O ingênuo, simplório. Acredita em qualquer coisa e em tudo, por isso, é enganado. Cai no conto do vigário.
Uma senhora vendeu sua casa por certa quantia (elevada) e foi receber o carvão perto de uma rodoviária (em sua cidade), contando o dinheiro em plena via pública.
O malandro a viu naquele ato ‘grandioso’. Ela segue para sua casa. O sem-vergonha passa na frente dela e deixa cair um cheque de araque (preenchido).
Ela grita: “Oh! Moço! Seu cheque caiu”.
“A senhora é maravilhosa. Merece um prêmio. (…) A senhora vai até aquela loja receber um lindo par de sapatos como recompensa. Eu aguardo a senhora aqui; posso segurar sua bolsa” (disse, todo sorridente).
Ela acredita, e sai com um bilhete (falso) para receber a prenda. Chegando à loja, a atendente lhe informa que não sabe de nada, que ninguém teria ido lá combinar isso”. Ela volta, e na esquina não se encontra mais ninguém.
Foi-se queixar na Delegacia de Polícia. Mas o que fazer?
Perde o dinheirinho de um bem guardado há anos, e a bolsa com documentos.
Uma parvoíce! Diz a anedota que ‘O tolo e o dinheiro logo se separam’.
O estulto é carente de discernimento, e perde tudo que tem por confiar na malandrice de outrem. A estultice do vendeiro que entregava a mercadoria no fiado, até ao forasteiro. Estultícia ou estultície, a tolice sem-fim, sem pé nem cabeça, já existia no tempo dos romanos, que a batizaram de stultitia, nome grandioso para designar o ato do bobo da Corte.
Mundo depravado!
Com sentido um pouco mais forte, o parvo é um imbecil, não exatamente insensato, mais um néscio, que tem medo de lagartixa morta na parede da casa. Assim, pensou um aluno ‘otário’, ousadinho, filho de uma mãe que não lhe deu o devido ensinamento. O moleque foi a uma lojinha que vende besteiras e achou um quelônio de borracha, que seria para enfeitar ‘a geladeira’, motivo de tolice.
Então, comprou a novidade e a carregava para cima e para baixo, para lá e para cá! Mostrava-a a todo mundo que com ele conversava, achando-se todo imponente, mas um simples pacóvio.
Na sala de aula, enquanto saí um pouco com justificativa para ir à Coordenação Pedagógica, ele se levantou do seu canto (cretino!) e foi até a mesa do professor, abriu o diário e ‘recheou-o’ com seu talismã de plástico borrachento de cor amarela!
Quando chego, vejo aquele ‘volume’ no diário, e já seria o final da aula. De imediato, sem nenhum medo, abro-o e acho aquela coisa tansa, ou sonsa, de um sonso, boboca, pata-choca, pateta! Era uma lagartixa noturna, que adora ficar na parede para devorar formigas, besourinhos, muriçocas, e outras guloseimas, também chamada ‘taruíra’.
Coloco-a no bolso, e o pascácio, papalvo, palerma, espanta-se! Com a mão na boca, diz “É minha, professor!”
“Sua, não! Já que colocou aqui, é minha!”, retruquei, sereno e decidido. “Tiau”, como se fala por aqui, do Italiano schiavo, pronunciado tchau, e a possível redação ciao, disse, ao sair.
Ainda veio até mim… pedi-la, mas sem êxito.
Levei-a à Coordenadora, e ela disse “Devolve a ele, que é uma criança”.
Devolvi nada. Na sala, insistiu: “Me dá, professor, senão, minha mãe me bate.”
“Que bom! Vai apanhar mesmo”, e quebrei-a toda e coloquei na lixeira.
Seu tontinho! Palerminha!
Possíveis sinônimos ‘cultos’ de parvo!
O estulto, que pratica estultice ou estultície, e muitas besteiras, bestagens, bestajadas, bobagens, verdadeiras parvoíces, tolices, bestices, idiotices, lerdices, tontices, cretinices, patetices, burrices. E mais quantos ices forem possíveis, basta que se ponha a ouvir o brasilianismo. Que tal papalvice?
A pacovice, como se torna dedutivo, o ato de perfeita tolice: enfiar a mão, e depois a cabeça, na boca de um crocodilo, achando que seria ‘arte’ ou grandeza de um homem corajoso.
O dicionário registra, mas nunca vi no cotidiano alguém chamar o outro de pascácio, papalvo. A papalvice, ou pascacice, bonitas por si sós, começa no momento em que o cara chama o outro de tolo, e é ele um lorpa, neófito com cara de sabichão do pedaço. Matuto, caipira, caiçara! Seu moca!
Conhecem-se muito os tolos cuja adjetivação começa com pê: palerma, pateta, pato-choco, pata-choca, paspalho!
Isso basta!
Para fechar, dois verbos paronímicos, que se parecem, como seria dos parônimos, mas cada um tem seu quilate e sua valia.
Avaliar, com a semântica de ‘determinar o valor, o preço, a importância de’, diz meu companheiro de divã.
A corretora de imóveis avalia o preço da casa em R$ 100.000,00.
Figuradamente, com o significado de ‘dimensionar, apreciar o mérito de, calcular, estimar etc.’
Nem sempre, avaliamos bem o que temos de mais precioso, a vida.
A escola deve avaliar com imparcialidade o rendimento de alunos.
Bill Gates avalia, com serenidade, toda a riqueza material que possui?
Quanto à sua formação, constitui uma parassíntese: a+valia+ar (avaliar), em que existem prefixo (a), radical (vali+a) e sufixo (ar).
Avariar, nascido de avaria, constitui derivação sufixal, com base no termo principal (avari+a) e o sufixo ar. Seu uso costumeiro se dá quando se fala em danos materiais, avalanches, desastres e outros.
No abalroamento, o veículo sofreu avarias, e isso levou o dono a se desentender com o suposto mau motorista, que atingiu o carro da frente pela traseira. Mas o dono do veículo danificado freou bruscamente. E agora? De quem é a culpa?