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O que é vicentino? Adjetivo tradicional ou gentílico?

O comentário de hoje tem o escopo de completar dois anteriores em que o debate foi ‘Que nome é dado a uma pessoa nascida numa comunidade chamada Treze‘?

Trezense ou trezeense. E fincamos pé de que há a denominação trezeano, que designa o torcedor do Treze de Campina Grande, PB, grande time local de futebol.

Ficou explícito que o sufixo tradicional para designar o morador ou habitante de uma localidade é -ense, mas vêm outros, o que fica claro ao sabermos como é chamado o habitante das muitas cidades brasileiras, suas 5.570, como se sabe, incluídos os dois distritos famosos: o Distrito Federal e o Distrito de Fernando de Noronha (este vinculado ao Estado de Pernambuco).

São gentílicos curiosos, hilários até; alguns chamam a atenção pela grafia moderna adotada.

São Vicente, SP, usa vicentino; São Vicente de Minas, MG, vicenciano; São Vicente, RN, são-vicentino. São Vicente do Seridó, PB: são-vicentino ou seridoense; São Vicente do Sul, RS: vicentino, vicentense e são-vicentino-do-sul (que registrou, garbosamente, essas três escolhas).

São Vicente Férrer, MA, e São Vicente Férrer, PE, optam pelo mesmo gentílico: vicentino. Pode-se observar que uma obra de importância diz que o nome da Cidade maranhense, no entanto, é São Vicente Férrea, divergindo do registro na Wikipédia, em que consta São Vicente Férrer. O morador local sabe detalhar diferenças.

Vicentino, conforme o dicionário, é um adjetivo relativo a qualquer santo da Igreja Católica com o nome de Vicente, citando São Vicente de Paulo.

São Simão, SP: simonense, cuja História teria o lema Berço da Proclamação da República. São Simão, GO: canalense (em virtude de antes o lugar ter sido chamado Canal de São Simão).

São Tomé, PR: são-tomense. São Tomé, RN: são-tomeense. Note as diferenças: são-tomense e são-tomeense, quando ambos têm o mesmo nome, prova de que a pessoa determinante nessa escolha gerenciou um gentílico diferente de outro já existente.

Coxim, MS, cidade com vários ‘apelidos’, Capital Nacional do Peixe, Terra do Pé-de-Cedro, Portal do Pantanal, faz coxinense, respeitada a sonoridade do vocábulo oxítona: o M final se transforma em N antes do acréscimo de –ense: coxim+ense=coxinense, forma bem estudada por quem orientou a criação do gentílico. Poderia ser coxiense, coxiniano, até coxinino, mas esse último, ou nenhum, poderia não vingar pelo som inusitado.

Lembremos que coxim tem vários significados, entre eles, almofada grande que serve de assento. Qual o motivo desse nome como registro da cidade?

O termo ‘Caxias’, uma referência ao nosso honroso Duque de Caxias, aparece como nome de cidades brasileiras. Três se destacam: Duque de Caxias, RJ; Caxias do Sul, RS, e Caxias, MA; todas optaram pelo gentílico mais comum, caxiense. Certamente, se tivesse sido escolhida outra denominação, o nome do ‘patrono da cidade’ perderia toda a sua bravura e diplomacia. Caxiense, portanto, é nome forte.

A relação é enorme, e as curiosidades, maiores ainda. Assim, limitemo-nos a mais uns ‘causos’, deixando o vicentino, que você já sabe a que ou a quem se refere, para o ‘ocaso’, momento do Sol Poente, poeticamente.

Cidades brasileiras cujo nome começam por Santa, Santo e São, abundam. Seria curioso citá-las, mas doeria o calcanhar-de-aquiles tantos são os nomes. Algumas delas se destacam.

São Romão, MG, tem o gentílico são-romanense; São Roque, SP, são-roquense; já São Roque de MG faz sanroquense, forma latinizada e erudita, em que ‘são’ se torna ‘san’, formando o gentílico justaposto sem hífen.

Cidades com o nome São Sebastião são diversas. São Sebastião, AL, adota são-sebastiaoense, sem o til, que pode ocasionar pronúncia duvidosa; grafia registrada na Wikipédia. Poderiam ser são-sebastianense, forma tradicional, e são-sebastiãoense, são-sebastiense ou são-sebastiãonense.

São Sebastião da Bela Vista, MG, preferiu bela-vistense, tomando por base as duas últimas palavras do nome da Cidade. São Sebastião, SP: sebastianense. São Sebastião do Passé, BA, também adotou sebastianense.

Edeia, GO, seguindo a tradição gramatical, criou edeense, em que o ditongo decrescente ei, do bonito nome Edeia (antes, Edéia), desaparece, junto com a vogal final (a), acrescido o sufixo -ense; edeia+ense=edeense.

Morro Agudo, SP, optou por morroagudense (sem o uso de hífen, mas poderia ser morro-agudense).

Jaicós, PI, adotou jaicoense, lembrando que poderia ser jaicosense.

Boa Vista do Tupim, BA, tem o gentílico curioso: tupinense. Lima Duarte, MG (mesmo nome do ator famoso), adota simplesmente limaduartino, curiosa grafia e maneira de formar o gentílico.

Rio Tinto, PB, riotintense (duas palavras justapostas sem hífen).

Cabo Verde, MG, usa cabo-verdense, enquanto Cabo Verde, na África, como curiosidade, adota carbo-verdiano.

Curioso, para quem não mora lá, é saber que em Alagoas existe a cidade Jacaré dos Homens, cujo gentílico é jacareense, critério gramatical, ou jacarezeiro, diferente da forma padronizada.

Maria da Fé, MG, usa mariense, simples assim, enquanto ‘mariano(a)’ seria o adjetivo comum referente ao nome Maria. A cidade de Mariana, MG, registra seu gentílico como marianense. Pompéu, MG, ou Pompeu, na nova Ortografia, faz pompeano.

Teófilo Otoni, MG, usa teófilo-otonense, nome pomposo, cuja pronúncia exige cuidados. E poderia ser teófilo-otoniense, ou teofilotonense (muito próximo da pronúncia do gentílico adotado).

Já Teofilândia, BA, adota teofilandense (tudo junto sem hífen).

Os gentílicos de cidades brasileiras são diversificados, e todas as terminações possíveis são usadas: ense, ano, eano, ino. Etc.

Para fechar, falemos sobre a grafia transsexual, que não existe em Português, se forem seguidas as regras da Ortografia, conforme a Gramática Normativa.

Nunca temos N seguido de SS, como não existem LSS e NRR, embora alguns, por desconhecimento, queiram ou teimem grafar assim.

Trans, prefixo que pode sofrer alguma mutação, é tradicional em muitos vocábulos. Trânsito, transformar, transcender, trasladar. Sexual, adjetivo formado a partir da palavra sexo, do qual se forma o vocábulo sexualidade, é muito debatido na hodiernidade.

Justapostos os dois elementos, trans+sexual, forma-se novo vocábulo: transexual (sem que seja permitida a grafia SS). O S de trans foi eliminado, uma vez que não caberia, pela regra, a escrita transs, como transsexual, transsexualidade etc. Digamos que o redator crie transsocial, transsubstancial, mas deverá rever seu conhecimento e reescrever as palavras, sem que se discuta o significado: transocial, transubstancial.

O redator ficaria atento a não efetuar a duplicidade do S. Não se sabe o que motivou o redator a tomar o ‘impulso’ e escrever transsexual. Falta de conhecimento? Textos há, diferentes, que registram ambas as grafias, mas somente uma é correta (tran-se-xu-al). Inteiramente, correta.

A seguir o padrão ‘transsexual’, iríamos grafar mansso, manssidão, falsso, falssidade, tenrro, honrra, honrroso, honrradez etc.

Se houver um antropônimo, por exemplo, com RSS, como Ândersson, trata-se de claríssima inventividade, nada mais.

Ao seguirmos a influência visível do Inglês moderno em nossa fala e escrita, podemos registrar, apenas, Ânderson (como se fosse o filho de Ander, ou o filho de André).

Obrigado. Até o próximo comentário.

João Carlos de Oliveira

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