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“Só um instantinho. Em dez minutinhos, eu volto”, disse o pai. ‘Dez minutinhos’ representam menos que ‘dez minutos normais’?

A simbologia, a ênfase, o sentido figurado e a metáfora, com outra semântica, criam nova cartilha no modo de empregar certas palavras, isto é, fazem surgir nova ‘face’ de um termo, a cumbuca onde se guarda, há anos, um segredo. Eis a grandeza da linguagem coloquial.

Nesses falares, as ‘criações literárias’ são muitas, todas grandiosas e, às vezes, valem apenas para aquele momento. Passado o ‘instantinho’, como se fosse uma urgência, o modo de falar já não serviria.

Um carrinho é menor que um carrão, um palitinho é menor que um palito, um foguinho é menor que um fogaréu, mas um ‘minutinho’ nunca é menor que um minuto; apenas, o modo de falar chama a atenção. Um minutinho e um minuto têm a mesma duração. Uma hora não é menor que uma ‘hora de relógio’, ou uma horinha, expressão que alguns usam.

Similar a esse contexto, há o fato de alguém dizer que será ‘breve’ e vai dar ‘uma saidinha’, mas pode demorar a manhã inteira, ou a tarde toda.

Alguém, sorrindo, diz: “Rapidão, eu volto”. O que é rapidão? Mais rápido que o normal? Pode ser. Mas como seria ligeirinho se está no aumentativo, e não seria um tempo longo? Ao pé da letra, rapidão seria mais longo que o ‘rápido’, mas quer dizer rapidinho; pouco tempo, logo, ‘pra já’.

Essa troca de significado tem novo valor para o emprego de palavras, além da poesia, podendo incluir o Regionalismo, a fala de todos os cantos deste Brasil de muitas faces. Não seria gíria, mas o toque de criatividade, o jeito afetuoso de se falar para convencer quem deve ficar à espera de alguém, que precisa de um momento para tomar uma decisão.

Essa maneira de falar ou escrever se assemelha à função apelativa da linguagem, em que o usuário quer convencer outrem de um ato iminente, desejando que o outro aceite a sua intenção, como a propaganda deseja vender um produto.

“Panelinha de breu quebrou, fedeu”, que quer dizer ‘dentro dela há coisas inéditas’, um segredo milenar, a incógnita. Só a abrindo, ou quebrando-a, para se conhecer a sua preciosidade.

Assim, a grande maioria dos diminutivos guarda valores secretos.

Vamos tomar um cafezinho? E poderá ser um banquete… Então, é um cafezão, regado a iguarias diversas; cuscuz, farofa, ovo frito, beiju do bom, um naco parrudo de rapadura, e mais uns bolos da vovó. Um de milho, uma brevidade.

“Rapaz, o cara disse que era um ‘cafezinho’, mas nem vou almoçar hoje, tanto eu me empanturrei do que foi colocado à mesa”, narrou o guloso.

Nosso grande apresentador, de origem pernambucana, embora se parecesse um carioca, não foi um diminutivo, Chacrinha, nome vindo de sua ‘pequena chácara’, não exatamente uma chacarazinha, mas um belo sítio, que tinha de tudo um pouco, do porco a belas galinhas caipiras, de um laranjal imenso a bananeiras frondosas, diversidade era o que não faltava, um pomar farturoso, e até algum cabrito e outros animais da ‘fazendinha’ (nele, os diminutivos, sem o serem, eram fabulosos, e tudo se encaixava: o leitinho, o peixinho da lagoa, as abobrinhas, os temperos da hortinha, a aguinha da bica, a cebolinha, e lá se vão esses e outros ‘inhos’, todos bem-vindos, lindinhos de morrer).

Uma chacarazinha, isso não pegou. Foi e é uma chacrinha, assim como uma xicrinha de café, um pãozinho feito na hora, um biscoitinho de polvilho, uma linguicinha defumada, tudo de dar água na boca, e aquela ‘bocarra’ a devorar os quitutes como se não houvesse o amanhã!

“Que gulodice é essa, Juvenal?” O menininho comeu tanto, que fez a parada brusca para uma ‘cagadinha’ à beira da estrada no pé do toco.
A ‘paradinha’ demorou quase uma hora. “O que foi, rapaz?” E disse cabisbaixo: “Foi o toucinho!”, aliás o toicinho grossinho.

“Uma moedinha, por favor!”

Qual é ela? A de um centavo? Entre as circulantes, de 5, 10, 25 ou 50 centavos, e a de 1,00, qual seria a menor? Mas ‘moedinha’ seria para caracterizar uma ajudinha. Quando alguém se refere a uma ‘moedinha’, não quer dizer exatamente o valor dela ou o seu tamanho. É o jeito de falar, com a atenção voltada à filantropia (?). Valor e tamanho são diferentes, mas esse aspecto no momento da fala não é questionado ou justificado.

Um pouco, um pouquinho, um poucochito, e tudo se repete; temos, então, o muito, e não o pouco.

Um punhadinho de farinha hoje, outro amanhã, e a saca de 60 quilos vai-se embora.

Algumas colherinhas, ou colherezinhas, de pó de café podem dar um bule cheio, e aí temos uma quantidade que não seria mais diminuta. Uma florzinha, de fato, é de tamanho menor que uma flor normal, ou de uma florzona, aumentativo pouco usado, com cara de linguagem infantil; uma colher de açúcar, que não precisa ser a de sopa, vale muitas colherzinhas, mas esse não é o plural aceito pela Gramática Normativa. Um flor, uma florzinha, duas florezinhas. Flor, flores, menos s, mais zinho(a), seguido de outro s: florezinhas, assim como barezinhos, botõezinhos, irmãozinhos, barõezinhos, azuizinhos, caracoizinhos, jornaizinhos, quadrizinhos.

Um jornaleco é pequeno, mas deve ser o ruim; um jornalzinho, também o é, mas seria o pequenino simplesmente. Pequenito, pequenininho, porque é desse tamanito, do tamanhozinho de uma pulguinha (pequerrucho, mesmo!).

A casinha pequenina é pura poesia. Se é casinha, por que juntar pequenina? Já se viu uma casinha pequenininha ser um casarão? Que coisa! A casinha pequenina é ‘pequena’ duas vezes, como uma colherzinha pequena. A linguagem é assim, tem vários tons.

O professorzinho não é por ser pequeno, mas por ser outra coisa. O quê? Imprestável? Isso não é ser pequeno, mas ruim, nocivo, vil, sem valor, um verdadeiro simulacro de professor, ‘grande’ quanto sua farsa. Faz tudo ao contrário de sua função, por isso existem o padreco, o jornaleco, o namorico, momento em que o diminutivo passa a ser pejorativo, o que magoa, fere, ofende.

E a ‘mãezona’ não pode ser grande, mas grandiosa, o que é diferente. Ela tinha apenas 1,60 m de estatura, mas era ‘muito alta’, por isso grandona, a mãezona de todos os seus filhotes.

“Ô meu filhinho, você veio!?”, disse a mãe tão ansiosa estava aguardando o rebento que não via há muito tempo. O ‘filhinho’ dela tem 1,80 m de estatura e pesa cerca de 100 quilinhos.

Um lapisinho é menor que um lápis comum, mas um minutinho é igual a um minuto, e pronto.

Vale o efeito da metáfora, da simbologia semântica. De repente, o grande fica pequeno, e o pequeno, grande. Tamanho não importa, vale a intenção, o figurativo, o aspecto conotativo de como o termo é empregado na frase falada ou escrita, desde que esteja de acordo com a coloquialidade. Isso é ótimo.

Os diminutivos têm, no mínimo, três aspectos gramaticais: o tamanho menor, uma igrejinha; o lado afetivo, meu paizinho querido, e o modo pejorativo de ser usado: um safadinho, um molequinho, um professorzinho. Nem sempre, o sufixo é -inho, podendo ser -eco, de jornaleco, de padreco, e -ote, de velhote, molecote, frangote, pixote.

Medicastro, pelo menos no nome, é o mau médico, como gentalha, que nem sempre é a gente grande, mas a de má índole, como livreco, que, além de pequeno, tem conteúdo oco.

O senhor pode-me dar um golinho d’água? E agora, um golinho de café… Obrigado! O senhor é muito bonzinho. Deus o abençoe! (‘Me engana, que eu gosto’, safado! Vá trabalhar, seu pirralhinha.)

Temos o diminutivo duplo: pequeno e afetivo: Pedrinho, Joãozinho, Manuelzinho, Arturzinho, Ruizinho, Dona Belinha, Seu Julinho, Dona Mariquinha.

Estas palavras são diminutivos? A depender da frase, não: folhinha, tipo de calendário; vaquinha, espécie de cotização; boquinha, maneira de ter uma xepa (participar de uma comilança sem ter contribuído para tal). Sabonete não é exatamente um sabão pequeno, mas uma espécie de sabão para uso íntimo ou pessoal.

Isso valeu? Só lhe tomou um tempinho!

João Carlos de Oliveira

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