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O plural dos substantivos compostos guarda-mirim e guarda-sol, comparando-os entre si pela diferença de flexão

Em muitos casos, o elemento gramatical ‘guarda’, ao fazer parte de vocábulos compostos, funciona como verbo, que não flexiona; se for substantivo, flexiona.

A diferença é que causa dúvida.

Em ‘guarda-sol’, é a forma verbal na terceira pessoal do singular, no presente do indicativo, do verbo guardar, que não vai ao plural. A forma verbal em si faz a flexão ‘guardam‘, que, se juntada ao segundo elemento, daria a grafia guardam-sóis, algo improvável para designar os objetos guarda-sóis, que seriam guarda-chuvas amplos e espaçosos. Se usarmos ‘guardas-sóis‘, esse não seria o plural correto, e se pareceria com o substantivo guarda no plural, como em guardas-noturnos.

Nesse caso, melhor deixá-lo invariável, e essa foi a opção da Gramática Normativa.

Seria fácil observar essa função se é verbo ou substantivo, mas alguns ainda têm dificuldade para confirmar essa identificação, por isso, as flexões indevidas em muitos momentos.

Guarda-comida, como o nome já indica, trata-se de um móvel, espécie de armário (com tela frontal ou não) para se guardar comida. Em tempos remotos, foi chique se ter um em casa, mostrando toda a grandeza e a fartura. Seria ainda usado nos dias hodiernos?

Lembrando o passado, que conta nossa história, uma casa bem arrumada e mobiliada teria uma cristaleira, com toda a sua imponência: o sopé de madeira trabalhada e a parte central de vidro transparente, com duas portas e várias prateleiras (de vidro forte) para ostentar talheres de alumínio bem areados, xícaras de porcelana importadas, copos de cristal etc. e até troféus. Um mundo a ser visto, que representaria a opulência de um casal com muitos filhos. Se o padrão econômico seria médio ou alto, indicaria que o casal não seria pão-duro e gastava parte da dinheirama com esses suvenires. Muitas histórias poderiam ser narradas a partir do lugar e do porquê de esses objetos de luxo terem sido adquiridos.

Se o casal seria de pessoas simples, mais ficavam patentes o zelo, a grandeza, o cuidado e o asseio da dona de casa, com todo aquele vasilhame bem limpo, brilhando, para mostrar como ela seria a excelente dona de casa.

São os nossos tempos, os costumes, os regionalismos, que fazem parte de nossa Historiografia.

Voltemos ao vocábulo guarda-comida para mostrar como deve ser flexionado no plural.

O primeiro elemento desse substantivo composto é verbo, e o segundo, substantivo. O primeiro não  flexiona; o segundo, sim. Plural: guarda-comidas. Os guarda-comidas estão vazios, e a família passa necessidade.

Há muitos compostos desse tipo em que o primeiro elemento é verbo, e seguindo a norma gramatical, como se entende, a flexão no plural não viria correta.

Guarda-pó, usado por professores (para se protegerem do pó de giz) e outros profissionais. Tive um muito ‘bacana’, azul-claro, de tricolina pura, quase sedosa, fácil de lavar, que usei por muito tempo dando minhas aulinhas de LP. Hoje, pela modernidade, pelo modo de se ver nova postura profissional e pela facilidade da tecnologia, pouco seria usado; um apetrecho que incomoda?, e não seria um EPI? É uma pena!

Plural: guarda-pós. Todos os professores do Colégio Santo Antônio, em Nanuque, nos idos de 1970, usavam guarda-pós.

Guarda-louça (semelhante à cristaleira). Os guarda-louças. Se quiser uma grafia regional, os guarda-loiças.

Guarda-roupa. Os guarda-roupas, que hoje querem chamar de ‘roupeiros’, mas que não seriam a mesma coisa nem teriam a mesma aparência.

Guarda-chuva (para se proteger da chuva). Os guarda-chuvas. Os guarda-chuvas usados em quase todo o Brasil, hoje, de modo geral, têm origem asiática (chinesa, tailandesa, indiana).

Guarda-sol. Os guarda-sóis. Na praia, pode haver um festival de cores se analisarmos os guarda-sóis coloridos enfileirados. Mas grande parte do povo do Nordeste do Brasil usa guarda-sol, quase sempre de cor preta, é para se proteger do Sol no dia a dia. E por isso não esquenta mais? Por que não usar o modelo com tecido de outra cor?

O guarda-chuva, no entanto, é diversificado pelo formato e pelas cores do tecido. Numa imagem em que havia jogo de futebol europeu, talvez, em Estocolmo, há anos, pelo menos numa grande parte do Estádio (não se percebe que teria cobertura), havia muitos torcedores, homens e mulheres, usando guarda-chuvas de cores diversas. O rosa, o vermelho, o amarelo. A geral estava completamente colorida, e caía uma chuva fina, com névoa. Grande espetáculo.

Para diversificar a explicação, se o primeiro elemento de composto similar mudar o verbo, como em caça-níquel, o critério de flexão é o mesmo: Os caça-níqueis podem estar programados para enganar o apostador.

Os caça-minas não conseguiram destruir todas as minas que estavam sob as águas do Mar Mediterrâneo (frase fictícia).

E esta: Os caga-sebos, lindos como são, de peito amarelo, saltitam e emitem ‘teco’ ao pegar um inseto.

Os caça-submarinos submergiram nas profundezas e jamais foram encontrados no Mar do Norte.

Relação desse tipo de vocábulos em que o primeiro elemento, guarda, é substantivo, não importando a classificação gramatical do segundo.

Guarda-mirim (substantivo e adjetivo). Os guardas-mirins. Nanuque teve uma Associação que preparava menores (meninos e meninas) para o exercício profissional, como office-boys e outras funções. Foi excelente, e teve grande importância na sociedade. A lei fez acabar esse órgão de cunho social-educativo-econômico.

O guarda-noturno. Os guardas-noturnos. O guarda-florestal. Os guardas-florestais. O guarda-mor. Os guardas-mores. O guarda-marinha. Os guardas-marinhas.

Substantivos compostos que podem oferecer alguma dúvida. Mas pelo seu aspecto semântico, o primeiro elemento é forma verbal, razão por que não flexiona.

Guarda-chaves, guarda-joias (similar a porta-joias), guarda-costas. O guarda-arnês: os guarda-arneses. Guarda-espelhos. Guarda-braços. Guarda-móveis. Guarda-raios. Guarda-saias. Guarda-sexos. Guarda-valas. Guarda-volumes. Guarda-vozes.

Fica assim. Basta para que se possa fazer uso correto da regra e a diferença de flexão se torne clara.

Muito bom quando o visitante considera o comentário de nível bom ou excelente, o que nos leva a aprimorar a linguagem, buscando sempre melhorar. Isso é bom para ambas as partes.

Agradecimentos ovacionados ao companheiro Jairo Pereira, que gostou da análise sobre o termo feminicídio.

Outro, entretanto, expôs sua ironia, sem dizer se gostou ou odiou. Trata-se de ‘Joana’, nome fictício, que disse “ent o certo seria de eu para (José) assim né?” (sic).

Refere-se à edição em que foram analisadas construções frasais do nível ‘pediu pra mim falar com você‘, ‘falou para eu levar o dinheiro‘, ‘está na hora de eu ir embora‘ etc.

A primeira descumpre a norma da Gramática, considerada, por isso, incorreta, mas representa e traduz a (nossa) coloquialidade; por outro lado, emite sua mensagem e a interlocução se completa.

A segunda e terceira, corretas, seguem a norma, por isso, ‘para eu levar’ e ‘está na hora de eu ir embora’: havendo sujeito, o verbo é exigido. Na primeira, a explicação bem simplória é a de que ‘mim’ não pode ser sujeito, por isso, a frase é indevida.

A frase da visitante seria de mim para José?; havendo verbo, Fica a obrigação de eu levar o recado para José. (?)

Comparemos ainda: Está na hora da onça beber água, forma popular; Está na hora de a onça beber água, forma correta, conforme a regra, assim como Está na hora de o Presidente falar sobre a pandemia.

Esta é a vez dele. Esta é a vez de ele se pronunciar.

Obrigado.

 

João Carlos de Oliveira

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