(Parte 1)
O Árabe (com letra maiúscula, embora não seja regra obrigatória, mas como gosto de escrever o nome de idiomas, Português, Inglês, Francês etc., diferenciando-os dos respectivos adjetivos gentílicos tradicionais: português, inglês, francês) é um idioma de priscas eras, precioso e preciso, também rico em seu número de vocábulos, que serviu de relato para fatos bíblicos e outros da História Universal.
Não o sei falar nem escrever, mas o vejo como idioma sólido, e muitos de seus vocábulos se incorporaram ao nosso Português, que ‘gosta’ de tomar emprestadas palavras circulantes em outros rincões. Nosso idioma é ‘pidão’; ficou ‘rico’ nas costas de outras línguas, no piscar de olhos em que o momento seria moda para o notório se expressar usando palavreado outro que não fosse nosso. Esses termos são os empréstimos, atuantes entre nós como se fossem de nossa etimologia, mas são alienígenas, ocorrência linguística que nem todos conhecem.
O Português sozinho não seria o que é, tão múltiplo. No nosso território, já existiam os termos do Tupi-Guarani, palavras autóctones, mesmo que esta não seja uma expressão acertada e aceita. Nosso falar introdutório, o lusitano, que se tornou o que falamos hoje, suplantou o nativo (o indígena), um substrato linguístico, por ter-se mesclado ao idioma a nós imposto. Poderia ser o idioma falado no Brasil atual, mas não o é; foi suplantado pelo dominante impostor.
Mais tarde, o novo Português, idioma-pidão, além de impostor, colocando o Tupi-Guarani submerso no mundo subterrâneo da incultura, pegou emprestados outros termos, e a leva de palavras estrangeiras em nossa casa se tornou impressionante: não só o Latim e o Grego são nossos ancestrais, mas o Africano, o Germânico, o Castelhano, o Nipônico, e outros, além dos nossos coirmãos (Italiano, Francês, Espanhol), idiomas novilatinos. Se achar melhor, idiomas neolatinos.
Neste artigo, por mero acaso, lembrando que meu pai gostava muito da ‘gibeira’ grande (para guardar até o pente, a escova), além do ‘alfroje’ de fundo largo, é que me veio na telha esta escolha testemunhal: citar termos árabes (ou arábicos) nesta coluna, que vem crescendo muito, graças a visitas e mais visitas dos leitores (consulentes, pesquisadores, observadores, críticos, analistas etc.). Possivelmente, aprendam alguns trocados linguísticos, e eu, sempre, um pouco mais, como é de meu próprio estilo, aprender, aprender, até encher o surrão.
A Gramática Histórica nos dá uma boa lista dessas pérolas, que não nos podem mais abandonar. Fica bem lembrar que o ‘artigo’ em Árabe, com a feição ‘al‘, incorporou-se diretamente ao vocábulo aportuguesado, obedecendo ao critério fônico ou onomatopaico. Alfazema, um dos exemplos arábicos, nasceu da grafia ‘al-khuzama‘, como consta de um léxico.
O comentário fica bifurcado: uma parte agora, outra quando a Onipotência permitir.
Açude, construção para represar água, tão conhecida no Nordeste. A represa.
Alcachofra, hortaliça e, ao mesmo tempo, planta medicinal de cor arroxeada.
Alcova, o canto íntimo; estar com alguém que você ama na alcova é um dos mais sensuais momentos de sua vida. Como está sua libido?
Alcunha, o mesmo que apelido, cognome. Qual é a sua? Como você é conhecido em seu grupo?
Aldeia, a maloca; não é palavra de origem indígena, como se pensa. Aldeia poder ser o conjunto de várias tabas,
Alface (feminina), hortaliça-matriarca da salada, a alface é rica em nutrientes.
Alfândega, o mesmo que aduana. Já leu a crônica A velhinha contrabandista, de Stanislaw Ponte Petra? Ela passava todo dia pela alfândega com uma lambreta carregando um baita saco de areia, e o fiscal desconfiado. Descobriu-se que se tratava de ‘contrabando’ sutil desse veículo; cada dia, um novo. O saco de areia é que era o mesmo.
Alferes, cargo militar, aquele exercido por Tiradentes. Seria um oficial militar porta-estandarte, que acabou sendo um milico de alta patente.
Algarismo, sinal gráfico que representa um número. Meu algarismo preferido é o 7, número da cabala, formando a dezena 47, meu ano, certamente, que adoro tanto. Que bobagem! Isso é uma preferência, pois cada um tem a sua. Tenho um amigo que despreza tudo que contenha 8, cuja pronúncia é curiosa. Oiitu, oiteinta, e vai-se uma lista comprida.
Algazarra, alarido, tumulto. Mais parece coisa circense, com a vozearia dos majestosos palhaços, que tornam o mau-humor numa forma adequada de ser ver a vida; entretanto, dizem as más línguas que as crianças, tão doces e dóceis nem tanto, é que fazem algazarra: toda vez que uma criança pratica o que sabe fazer com maestria, comentam que sua diversão é uma intervenção ao recinto ou ao direito adulto, e elas costumam reagir a isso com certo barulho inaceitável pelos maiorezinhos, de idade, mas nem sempre maiores no talento ou na observação. Isso é algazarra. Faça a sua ‘chamada’.
Álgebra, ramo da Matemática que trata dos cálculos, que acaba provocando-nos o medo mórbido de números, verdadeira montagem de regras, ícones e quebra-cabeças. Fui, ou sou, um pobre coitado nessa arte de queimar neurônios.
Algibeira (popularmente, gibeira, espécie de aférese) vem de aljava (bolsa a tiracolo), que forma ainda aljaveira, nome de planta. Nossa pronúncia é que criou essa grafia. No meio simples, é pronunciada à vontade: a gibeira da calça está rasgada; a minha, de tão rasa, é que não cabe o pouco dinheiro, o dinheirim, que temos. Mas vamos lá: a algibeira é o bolso da roupa; pequena bolsa que as mulheres prendem à cintura (que hoje tem outro nome, se é que algumas ainda a usem, por acharem deselegante). Um dicionário diz que algibeira vem de al-jibaira, que deve ter bonita pronúncia em Árabe.
Algodão, fibra têxtil, usada para fabricar vários tipos de tecido. Seu cultivo tem um nome pomposo: a cotonicultura. Na BA, sua grandeza maior fica em Guanambi, Luís Eduardo Magalhães (antigo Mimoso) e Barreiras, grandes produtores dessa matéria-pima.
Alicerce, a base; maciço de alvenaria, ou de pedra, para formar o sopé de uma casa ou prédio. Figuradamente, o alicerce é tudo o que fundamenta e sustenta; apoio, suporte, base.
Alpiste (comida de passarinhos), gramínea cujos grãos são utilizados como alimento para pássaros. Essa planta se parece, na nossa visão semântica regional, com o capim-colonião. Curioso é que um dicionário diz que vem da palavra ‘alpiste’, mesma grafia, do Espanhol. O professor citado, grande filólogo brasileiro do passado, diz que se trata de palavra arábica. E agora?
Alqueire (medida da agrimensura), com área diversa de um Estado para outro. A Bahia tem tamanho de alqueire que difere do mineiro e do sergipano.
Alvíssaras, boas notícias. Não confunda o termo com vísceras, tripas de animais, como do homem. Tudo o que induz a um bom aviso é alvissareiro.
Armazém, o trapiche, local de secos e molhados. No armazém de seu Osório em Cachoeira Grande, podia-se comprar de tudo: carne seca, farinha, arroz, açúcar e mais umas coisitas básicas, até toicinho de porco baé. Açúcar é termo arábico, de as-sukkar, que ‘se derrete como mel’. Seria isso?
Arroba, medida de peso: 15 quilos. A quarta parte. Nem todo mundo sabe usar essa medida. Uma arroba de carne. O porco na roça é vendido na arroba, até a olho nu, e erram pouco; o garrote, a vaca miúda. O padrão nordestino é uma vaca de 10 a 12 arrobas.
Arroz, o mais universal dos grãos, é gramínea de origem asiática. O prato típico japonês com arroz é curioso, cujo sabor não empolga brasileiros, como alguém comentou.
Azeitona (a oliva), produto da oliveira, tão antiga quanto a história cristã. Dizem que a mediterrânea tem valores nutrientes insuperáveis. Seu uso é benéfico. Também são árabes os vocábulos azeite, azêmola (besta de carga, cavalo velho estropiado), azeviche (variedade de linhito usada em bijuteria).
Berinjela, fruto e planta de origem indiana, de coloração arroxeada. Nossa grafia é com jota; a lusa com g, beringela, menos aproximada, ao que parece, do termo de origem, bandijana, como diz o léxico. O ruim é que em supermercados a grafia sofre muito, assim como usam ‘mixirica, mexirica’, e outras, como melância. Que pronúncia, hem! Mas mexerica, simplesmente, por vir de ‘mexer’, daí termos entre nós os famosos mexericos ou mexeriqueiros, que produzem o que se chama hoje de ‘fake news’. Para que servem essas coisas ofensivas?
Algumas palavras (não exatamente nessa ordem) colhidas do livro Gramática História de Alpheu Tersariol, estudioso do passado.