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Em que momento, ‘hoje em dia (locução adjetiva), cotidiano e diário’ (adjetivos) podem ser sinônimos?

Leio, pelo menos um pouco, todo dia. Faço palavras cruzadas diariamente. No decorrer do dia, rabisco uma poesia aqui e ali. Vivo a Língua Pátria noite e dia, dia e noite, mesmo que extrapole o consenso.

E aprendo, aprendo ainda mais a cada dia, quase sempre, sob o olhar da consulta ao dicionário, ou a eles, cujas páginas estão marcadas com anotações, algumas manchadas de algum detrito grudado na mão buliçosa.

Nesses últimos dias, a contragosto, fiz uma correção (indireta, e indiscreta?) num comentário sobre artigo que falava de violência nesta Nação, em que um visitante grafou, em letras claras, ‘nesse país’ (sic). Se estamos no Brasil, estamos nesta Pátria, nesta Nação, neste País, razão por que deve ser grafado o substantivo, que é próprio, com letra maiúscula, e este(a) pelo fato de a referência ser direta, isto é, fala de nós mesmos no momento em que nos expressamos.

Se estamos no Brasil, somos este País, e não ‘esse’. Assim também, devemos usar ‘esta semana, este mês, este ano’, se falamos do período em que estamos, em que ‘acontecemos’, do mês em que estamos e/ou do ano no qual estamos (2018).

Vou rumando, seguindo o que a norma gramatical me impõe, e considero que devemos respeitar regras sob pena de o idioma se perder por não ter critérios de redação. Deixemos a não-regra para o informal, para a linguagem que nos leva ao humor, para a coloquialidade que nos rodeia em casa, nos barezinhos da vida, na esquina conversando com o amigo, na calçada do rasga-verbo sobre a Política que nos ofende, assim por diante.

Neste sítio (‘site’, aportuguesado), optei pelo adjetivo ‘cotidiano’ (O Português cotidiano por dentro e por fora) para dizer que se refere ao formal e ao informal, a depender da necessidade e do momento, no dia a dia. Neste instante, preciso substituir cotidiano por ‘hoje em dia’ (locução adjetiva), ou pela sua similar ‘de hoje’. As pessoas hoje em dia fazem bem o que entendem (e às vezes nem entendem). O mundo de hoje está envaidecido e de cabeça para baixo. (?)

Se tenho dúvida, o que me obriga a buscar uma saída, embasado no que já sei e no que preciso deduzir, folheio e folheio.

Vou ‘indo’ (eis um pleonasmo: vou é de ir, como ‘indo’), e por isso devo cortá-lo. O uso popular faria essa distinção? Vou seguindo, vou andando (para amenizar a redundância), e dentro em pouco acharei a resposta condizente.

Uma pessoa chegada pode ser a querida, ou a recém-vinda de viagem, e chegada (substantivo), o fim da jornada. Ao final, palavra polissêmica: tem vários significados, a depender do contexto.

Parada, o leve descanso para recobrar as energias gastas; parada, desfile cívico, como o deste 7 de Setembro (nome de mês é com letra minúscula; maiúscula, se for data cívica, nome de obra, logradouro público ou nome de empresa etc.). Parada, pessoa inerte, que não gosta de se mover. E mais: Teve uma parada cardíaca. Encontrou pela frente uma parada para resolver, cujas decisões o afligem.

Viajada (coletivo), o tempo de viagem, o número de idas e vindas a esses ou àqueles lugares. Viajada, pessoa experiente, com quilômetros de estrada, cuja estada (e não estadia) lhe rendeu dividendos culturais diversos. E mais: nova visão de vida.

Se o ouvinte, em diálogo, balança a cabeça e diz ‘pois, sim’, dirigindo-se ao falante, é que não está concordando com ele, o que este diz não é ou não parece ser verdade; o sim tem o sentido de não. Ao contrário, se diz ‘pois, não’, é que concorda com ele, que o avalia com crédito, que o dignifica.

“Pois, sim! Isso é verdade?”

“Pois, não! Em que posso servi-lo?”

Que legal, o sim é não; o não é sim, mostrando que somos diferentes!

Em texto, nunca encontrei ‘ror‘ (aférese de horror), indicativo de multidão. A revista de cruzadas é que diz ser ‘ajuntamento de pessoas ou coisas’. Não conheço na prática esse uso. E você? Imagine dizer ‘No centro da Cidade, havia uma ror’, para dizer uma concentração de pessoas. Aliás, já ouvi e li ‘uma multidão de pessoas’. Existe multidão de animais? Uma multidão enfurecida, sim.

O inválido nem sempre é o que eu invalido, pois este é pessoal, e aquele, o que obedece ao que determina a lei.

Epizootia, palavra difícil que designa doença contagiosa que atinge grande número de animais. Fucícola, animal que vive sobre ou entre as algas; no popular, que vive na lama do mangue.

Sem graça a expressão “Crack, só Cristo”. Cristo pode ser o Craque, o Mestre dinâmico. Claque, grupo de espectadores ou ouvintes, contratados ou não, para aplaudir ou vaiar alguém, levando-o ao sucesso ou ao fracasso. E crack, como se sabe, produto alucinógeno que muitos adoram. Quem comercia e/ou usa esses ‘deleites’ pesados não estaria fomentando a violência?

Sem graça, ainda, o trocadilho de ‘sem’ com ‘cem’, em diversas situações. O leitor sabe disso e tem vários exemplos.

Caravela, além de tipo de embarcação, animal flutuante da orla marítima, e um peixe, ou, na gíria vulgar (?), mulher esquelética. Isso pode? Como as palavras mudam num piscar de olhos!

Claridade, o mesmo que clarão, o claror, com alguma exceção. Para o poeta, inspiração.

Se alguém afana (algo ou alguém), furta. Rouba implica violência ou valor alto; o furtar subtende coisa simples, na surdina, às escondidas. Surrupia.

Um texto dá como sinônimo de ‘eram’ a forma verbal ‘haviam’. Haver, sendo impessoal, não vai ao plural. Portanto, houve um lapso crasso. Eram, forma verbal de ser, verbo não-significativo, que gera predicativo do sujeito, teria como sinônimo ‘estiveram, existiram’? Resumindo o dito: Eram pessoas na rua. Estiveram (existiriam) pessoas na rua. Havia pessoas na rua. Elas haviam chegado cedo (verbo auxiliar).

Este resumo se refere a dia de hoje, do convívio com nosso sofrido idioma. A língua ágrafa não nos daria esses recursos, já que trata, apenas, da falada, fato comum ao cidadão não-alfabetizado, e temos muito que respeitá-lo, já que não conhece, sequer, uma vogal. Pergunte-lhe o que seria ‘grupo consonantal’. Pilhéria: não faça esse teste, pois você tem delicadeza com comentário inadequado sobre pessoas que não foram à escola.

Diário é do dia, cotidiano, mas este seria mais abrangente, o que acontece todos os dias.

De hoje, hodierno, que pode ser moderno. Hodie, termo do Latim, a raiz que nos dá essas palavras. Mas nem tudo que é diário é moderno, nem tudo hodierno é, exatamente, o cotidiano.

Cotidiano ou quotidiano, do Latim quotidianus, é de cada dia; diário, que se faz ou que acontece (sucede) todos os dias, e nem tudo que acontece diariamente é moderno. Por extensão, ‘hodierno’ poderia ser ‘usual’, mas nem tudo que é usual é moderno. Podem-se usar ceroulas, mas se trata de costume em desuso. Há o chamado demodê, o antigo que envenena a cabeça de quem considera trivial a moda extravagante.

Faltou atual, mas nem tudo usado hoje o é. Certo boné está fora de moda, mas se usa.

O artigo? Uma brincadeira, mas serve de alerta para a escolha de palavras de nosso dia a dia. Pelo sim, pelo não, usamos hoje em dia, cotidiano e diário como sinônimos.

 

João Carlos de Oliveira

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