O comentário é variado, não busca relacionar todos os verbos que possam oferecer essa dúvida nem os relaciona em ordem alfabética.
Tudo misturado, mas certo que haverá um ordenamento didático-pedagógico que ajudará a tirar dúvidas.
O verbo dar aparece num texto como se fosse o verbo doar (… ela se dou-a).
Sendo o verbo dar: ela dá-a (dá a ajuda); eu dou-a (dou a contribuição). Sendo o verbo doar: ela doa-a (doa a verba); ela se doa a ajudar os necessitados (presta-se a ajudar quem precisa); ela se doa no que faz (ela se empenha).
Ambos os verbos têm seu charme, mas as formas verbais podem deixar dúvida para aquele que não gosta de dar uma mirada na Gramática Normativa. Aliás, nos dias atuais, ‘a gramática virtual’ é boa pedida, está bem recheada, além de trazer excelentes orientações.
Na dúvida, meu caro, vá até o Monte Kilimanjaro e dê uma olhadela no entorno; avistará muita coisa. Ali pode estar o que você procura.
Dar e doar em alguns tempos verbais.
Eu dou, tu dás, ele dá, nós damos, vós dais, eles dão. Eu doo, tu doas, ele doa, nós doamos, vós doais, eles doam. Presente do indicativo.
Que eu dê, que tu dês, que ele dê, que nós demos, que vós deis, que eles deem. Que eu doe, que tu does, que ele doe, que nós doemos, que vós doeis, que eles doem. Presente do subjuntivo.
Dá a tua ajuda, dê a sua ajuda, demos a nossa ajuda, dai a vossa ajuda, deem a sua ajuda (a de vocês). Dar está flexionado no imperativo afirmativo, formando frases: a cada forma foi acrescido o substantivo ajuda, com o respectivo pronome possessivo para esclarecer a pessoa verbal a que corresponde.
Doa sangue, doe sangue, doemos sangue, doai sangue, doem sangue. Doar no imperativo afirmativo com as respectivas pessoas verbais (pela ordem, como a Gramática determina: tu, você, nós, vós, vocês), usando-se um tipo de mensagem comum na Medicina: o pedido para doar sangue.
Se houver dúvida quanto às grafias doa e doe (respectivamente, as formas verbais para as pessoas tu e você, no imperativo afirmativo), devemos explicar isto: doa vem da mesma pessoa no presente do indicativo (com a exclusão da desinência pessoal S, indicativa da pessoa tu: tu doas); e doe, da terceira pessoa do singular (ele, ela, com a mesma flexão para a pessoa você) do presente do subjuntivo, que forma o imperativo afirmativo para o tratamento você).
Note, então, se não sabia disso, que o imperativo afirmativo é tempo derivado (parte do presente do indicativo e parte do presente do subjuntivo, e este, por sua vez, é derivado da primeira pessoa do singular (eu) do presente do indicativo).
Como exemplo, flexione amar, verbo regular, na primeira pessoa do singular: eu amo. Essa primeira pessoa forma o presente do subjuntivo (que eu ame, e daí todas as outras, que tu ames, que ele ame, que nós amemos, que vós ameis, que eles amem). Para formar o imperativo afirmativo, confirme, no presente do indicativo, as flexões das segundas pessoas do singular e plural (tu e vós), mediante a exclusão do S: tu amas, ama tu; vós amais, amai vós; por isso, tu doas, doa tu; vós doais, doai vós.
Todo verbo da primeira conjugação, no presente do subjuntivo, tem a desinência modo-temporal terminada em E, que está comprovada. Reveja as flexões do verbo doar, que é da primeira conjugação: que eu doe sangue, que tu does, que ele doe, que nós doemos, que vós doeis, que eles doem.
Muitas gramáticas explicam esses detalhes muito bem; em outras, a ‘explicação’ é implícita.
Já os verbos da segunda e terceira conjugações, nesse tempo, têm a desinência modo-temporal terminada em A. Comprovemos: ser, ver, ir, fazer, dizer, possuir: que eu seja, que ele veja, que ele vá, que vós façais, que todos digam, que tu possuas.
E o verbo pôr? Trata-se de uma irregularidade da segunda conjugação, pois vem da forma latina poer (por isso, poente), e não seria da quarta conjugação, como já houve essa dúvida. A Gramática não registra 4 conjugações verbais; apenas, 3: ar, da primeira; er, da segunda, e ir, da terceira. Pôr e seus cerca de 28 verbos compostos pertencem a uma irregularidade da segunda conjugação. Estranho? Mas é isso o que diz a norma gramatical.
E como fica? Eu ponho, tu pões, ele põe, nós pomos, vós pondes, eles põem. Presente do indicativo. Que eu ponha (forma derivada de ponho); e daí, que tu ponhas, que ele ponha, que nós ponhamos, que vós ponhais, que eles ponham. Presente do subjuntivo.
Põe tu, ponha você, ponhamos nós, ponde vós, ponham vocês. Imperativo afirmativo.
Qualquer verbo composto de pôr segue o mesmo critério: eu componho; que eu componha. Eles puseram; eles compuseram. Alguém pode-se enganar e dizer ‘eles comporam uma bela canção’. Se eles puseram (contrapuseram, interpuseram, dispuseram), logo ‘eles compuseram uma bela canção’.
Você percebe que alguém teria dificuldade para usar a flexão pondes (vós), e, por isso, opta por ponhais? A última pode ter sido usada no momento inadequado, mas existe. Basta que a coerência verbo-temporal venha no momento certo. Muitos não usam ‘Que nós ponhamos as coisas no lugar’ por acharem esquisito. Pode até aparecer ‘ponhemos’, que não existe.
Lembre que muito se usa ‘Pediu que eu vou com ele’, e por se tratar de hipótese, a coerência frasal pede o tempo do verbo no presente do subjuntivo, e não do indicativo. Por isso, esta: “Mãe, Manuel pediu que eu vá com ele dar água ao gado lá no Bugi. Eu posso ir?”.
Se está tudo misturado pela razão de serem muitos os verbos que oferecem essas dúvidas, vamos mostrar mais alguns casos.
Presentear. Eu presenteio, tu presenteias, ele presenteia, nós presenteamos, vós presenteais, eles presenteiam. Presente do indicativo.
‘Puxe’ a regra da forma primitiva (eu presenteio), que deriva o presente do subjuntivo, e confirme estas flexões: que eu presenteie, que tu presenteies, que ele presenteie, que nós presenteemos, que vós presenteeis, que eles presenteiem.
Percebeu bem a terminação eie? (Menos, para as pessoas nós e vós, exigência da forma arrizotônica). Logo, a forma correta para o comércio usar uma frase apelativa no Natal, com relação ao verbo presentear, tem aparecido incorreta.
‘Presentei’ sua mãe com este lindo aparelho de condicionador de ar. (A forma correta: Presenteie sua mãe.)
Não confunda essa forma verbal com a flexão no pretérito perfeito do indicativo: ‘Eu presenteei minha mãe com uma máquina de lavar no lugar de lhe oferecer um simples buquê de rosas. (Aliás, levei os dois presentes juntos: o buquê estava escondido dentro da máquina’).
Presentei é uma corruptela de presenteie, ou a aférese de ‘apresentei’, do verbo apresentar, por isso, no caso de um texto digitado, o computador não iria sublinhar a grafia ‘presentei’, advertindo o redator. ‘Presentar’ é aceita como variante gráfica de apresentar: eu presentei (eu apresentei). Existe presentação (compare com apresentação) como presentâneo, cuja semântica é diferente.
Vamos fechar o ‘embrulho’ de hoje.
O verbo doar, sendo pronominal (doar-se), com sentido figurado, é muito usado quando falam de filantropia. Isso não implica desviar a flexão verbal. O uso é livre, e seria muita criatividade do redator, mas a flexão é a mesma de doar.
Eu me doo, tu te doas, ele se doa, nós nos doamos, vós vos doais, ele se doam. Presente do indicativo.
Um texto muito bonito, falando da prática da Advocacia, chegou a registrar “Fulana se dou-a” (sic), para dizer que se dedica muito ao que faz. Muito boa a frase quanto a seu aspecto semântico, mas a redação falhou: ela se doa. A pronúncia similar das duas formas verbais provocou o engano (releia o início do comentário).
E ‘dou-a’ é o quê? Simplesmente, a flexão do verbo dar na primeira pessoa do singular (eu) no presente do indicativo, seguida de um objeto direto (a). Dou uma bezerra a meu sobrinho. Dou-a a ele. Dou-lhe uma bezerra. Dou-lha.
Analise estas frases: se vós descêsseis (de descer); se vós dissésseis; vós dizíeis; não digais vós isso que dissestes, nunca mais (de dizer). Compare as grafias: dezesseis, descêsseis e dissésseis.
Um abraço e até a próxima.