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Marca de carro japonesa. Marca de carro japonês. Ambas as expressões estão corretas, mas qual seria melhor?

A primeira expressão foi transcrita de uma revista de palavras cruzadas. Está correta.

Como interpretá-la? A marca é que é ‘japonesa’, e o carro? Ou isso não importa? Um país poderia fabricar um tipo de carro que não seria especificamente de sua tecnologia, sob a licença da indústria automobilística de outra nação, usando a ‘ciência’ do país de origem, como mão de obra, produção de peças e acessórios etc.? Sim, por isso, tanto uma como a outra está correta. A segunda seria a melhor?

Fica claro que o adjetivo ‘japonesa’ concorda com ‘marca’, ambos os termos no feminino singular. Na segunda expressão, ‘japonês’, como adjetivo no masculino singular, concorda com ‘carro’, mais próximo.

A escolha é de quem escreve ou fala.

Ao pé da letra, se a marca é nipônica, o carro também o é. Mas poderia haver outros critérios.

Não seria melhor dizer de outra maneira? Marca de carro ‘japonês’, a que apontei como alternativa, para que ficasse mais clara: todo carro tem uma marca, e este é japonês. A mudança pode não ser convincente, mas uma se torna um pouco diferente da outra.

Podemos compará-las com outras expressões, como as que se referem a festival de música.

Digamos estas:

Festival da Canção Portuguesa, que seria um festival realizado por uma entidade de forma extensiva a todo o mundo, mas que a canção seja ‘portuguesa’, não podendo participar canção de outro tipo de música.

Mudado o título dado ao festival, a visão semântica será outra:

Festival Português da Canção, e este quer dizer que participam canções de estilos diversos, não sendo, obrigatoriamente, a música de cunho português.

Festival de Portugal da Canção. (Um pouco estranho?)

Festival da Canção de Portugal. (Este abrangente, sem oferecer nenhuma dúvida.)

Vá pensando num título como se você fosse organizar o festival da canção de sua cidade. E agora? Houve dúvidas?

Pense em quatro possibilidades:

Festival da Canção Piritibana. Festival Piritibano da Canção. Festival da Canção de Piritiba. Festival de Piritiba da Canção.

Festival de Machado da Canção. Festival da Canção de Machado. Festival Machadiano da Canção. Festival da Canção Machadiana.

Festival Brasileiro da Canção. Festival da Canção Brasileira. Festival da Canção do Brasil. Festival do Brasil da Canção.

Há anos, fui jurado num festival de música em Nanuque, e questionei com os organizadores qual deveria ser a melhor expressão: Festival Nanuquense da Canção (que abrangeria várias regiões, municipais, estaduais e federais) ou Festival da Canção Nanuquense (abrangendo tão-somente o Município de Nanuque ou que tratasse de temas sobre a Cidade). Fui vencido, e alguém teria dito que uma coisa é igual à outra, e que se tratava apenas de uma terminologia, ou seria ideologia do analista (disse-o em outras palavras).

E que tal Festival da Canção Brasileiro?

Todas as opções são corretas, resta saber o que pensou o criador da frase, e a limitação de cada expressão.

Um homem de pensamento positivo. O pensamento positivo de um homem. Um homem positivo de pensamento também positivo.

Fica assim, repetindo que as expressões oferecem divergência de interpretação, embora os detalhes possam não ser levados em conta, e a música seja tanto regional, nacional ou universal.

Para conclusão, a pergunta: o que é ‘reta final’? Muitos a usam quando se referem ao final de uma competição, de um evento etc. E existe a ‘reta inicial’? Isso por que, por uma questão gramatical e semântica, praticamente, toda expressão teria um sinônimo ou significado e, por oposição, seu oposto (o antônimo).

Se alguns usam tanto ‘reta final’, por que não usariam ‘reta inicial’? Parece que, pelo fato de alguém tê-la usado um dia, agora é que muitos a usam. Seria modismo? Nem sempre a expressão fica bem. Há o uso habitual sem a segurança ou clareza de sua aplicabilidade.

A frase ‘Eu amo amar a vida’, pleonástica que é, mas ligeiramente poética, contém objeto direto pleonástico; nesse caso, é o chamado objeto direto cognato: por haver o verbo e o seu complemento com o mesmo sentido, usadas palavras da mesma família etimológica (amo, amar, amor etc.).

Tentemos dizê-la em Inglês: I love to love the life (numa versão livre). Ou: I love the loving of the life. Essa serve?

Usam-na como charme. O usuário precisa saber dessas facetas gramaticais e usar outras similares de maneira segura: Costuro a costura da vida. Costuro a vida de costura moderna.

Eles gostam do gosto doce do biscoito de polvilho, como a brevidade.

Fora isso, estaria, apenas, plagiando a criatividade poética alheia, a liberdade de expressão de outra pessoa, o que não seria ideal.

Buscando outro ponto do uso de palavras ou expressões, pode-se dizer: a vida com regras impostas por um grupo social ou profissional tem nuances curiosas. Assim, analise dois vocábulos: parteira e obstetriz.

A Medicina diz que a obstetriz é a parteira; o primeiro termo é pouco conhecido no popular e até pouco usado pela própria ciência médica. O obstetra, este sim, muito conhecido pela expansão dos termos médicos e popularização do atendimento médico. Se repensarmos, vamos dizer: o médico que faz parto é o obstetra, e a médica, a obstetra. A obstetrícia moderna tornou-se mais conhecida. Há sinônimos para esse caso: obstétrica e tocologia. O obstetra é um tocólogo. Para ficar bem claro: a tocologia é um tratado sobre a obstetrícia, como diz um dicionário. O tocólogo é o especialista em partos; por extensão, o parteiro, ou obstetra.

O nome tocologia, à primeira vista, insinua a ‘ciência do toque, do ato de tocar’, no caso, a área que envolve os órgãos sexuais para facilitar ou induzir o nascimento do bebê.

E a parteira, mulher tão especialista em ajudar as crianças a nascerem, existe, ainda, pelo Brasil afora? Pois é, por um termo técnico, é chamada obstetriz. Parece charmoso, mas tem seu uso limitado pela grafia e pronúncia, que não fincaram pé no nosso vocabulário espontâneo e cotidiano.

Basta por hoje. Obrigado pela análise aos comentários deste sítio.

João Carlos de Oliveira

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