Um verbo, ao ser conjugado, ganha terminações próprias para cada pessoa verbal, a começar pelo critério do singular e plural, e ainda para diferenciar as pessoas entre si, que são seis: eu, tu, ele (ela), no singular; nós, vós, eles (elas), no plural.
Eu faço, eu estou, eu sou, eu vou. Respectivamente, essas formas pertencem aos verbos fazer, estar, ser e ir, todos irregulares, na primeira pessoa do singular, no presente do indicativo.
Por que sabemos isso? Porque, conjugados em outros tempos, esses verbos não têm as mesmas flexões; nem outros verbos seriam escritos com essas grafias.
As flexões faço, estou, sou, vou, pelo nosso hábito de falar e escrever, pertencem a esses verbos: o nosso cotidiano, ou o uso consuetudinário, nos indica que faço é a forma do presente porque é diferente de fiz, farei, faria, fizesse etc.
Cada tempo tem a sua respectiva desinência verbal, a sua terminação própria, para indicar a pessoa, o número e o tempo.
Quando se usa ‘Se soubesses‘, do verbo saber, mesmo que o pronome indicativo da pessoa verbal não seja usado, como está, sabemos qual é essa pessoa pela presença da desinência número-pessoal -s, indicativa da pessoa tu (segunda pessoa do singular), respeitada a Gramática Normativa.
A terminação -sse indica o imperfeito do subjuntivo. A grafia ‘soube’, alteração vinda de ‘sabe’ (do verbo saber), simplesmente, mostra que esse verbo é irregular: quando conjugado seu radical passa a ter várias formas, conforme o tempo. Se o radical não se altera, trata-se de verbo regular.
De novo: fazer, eu faço, eu fiz, se eu fizesse (verbo irregular); vender, eu vendo, eu vendi, se eu vendesse (verbo regular).
Se alguém imaginasse que esse critério fosse uma bobagem, não iria entender uma conjugação diferente: vendesse, vendesse, vendesse, vendesse, vendesse, vendesse.
O aluno diria: Professor, você não conjugou o verbo! Apenas, repetiu a mesma forma seis vezes! O professor retrucaria: não, meu caro, o verbo foi conjugado nas 6 pessoas verbais, 3 do singular e 3 do plural. Resta você entender isso.
E o aluno não entenderia pelo fato de não ter havido diferença entre uma pessoa e outra. Por essa razão, é que vêm as terminações, constituindo, de um lado, a desinência número-pessoal (que indica a pessoa verbal) e de outro, a desinência modo-temporal (que indica o tempo).
Viu aí, cara!
Agora, sim: se eu vendesse não tem terminação própria; a ausência de -s ou -mos é que indica que se trata da primeira pessoa do singular ou da terceira; por isso, em algum momento, por questão contextual, para não fazer confusão, é preciso que o pronome correspondente (eu ou ele) seja escrito: se eu vendesse, se ele vendesse (pois, a forma verbal é a mesma para ambas as pessoas). No entanto, quando se usa ‘Eu faço’, o uso do pronome ‘eu’ é opcional, porque a terminação -o, uma desinência número-pessoal, indica a primeira pessoa do singular, no presente do indicativo. Faço, vendo, compro .
Vamos completar a ‘conjugação’ anterior: se eu vendesse, se tu vendesse-s, se ele vendesse, se nós vendêsse-mos, se vós vendêsse-eis, se eles vendesse-m.
Note claramente: vend, o radical do verbo; -e, a vogal temática do verbo, que é da segunda conjugação; -sse, a desinência modo-temporal indicativa do pretérito imperfeito do subjuntivo (todo verbo, regular ou não, nesse tempo tem essa terminação) e as ‘partes separadas’, de propósito, têm a finalidade de indicar a respectiva pessoa: eu (não tem desinência número-pessoal), -s, indica a pessoa tu; ele, ela, você (sabemos que se trata de uma dessas pessoas pela ausência de uma terminação); -mos, indica a pessoa nós; -eis, a pessoa vós, e -m, a terceira-pessoa do plural (eles, elas, vocês).
Após as aulas e no convívio com a regra gramatical, o aluno fixa a terminação do pretérito imperfeito do subjuntivo e jamais escreveria ‘soubece’, nem usaria ‘dissece, começace, arrumace, crescece’ etc., como alguns desatentos podem escrever.
O poeta, adotando a licença poética ou para representar a linguagem coloquial, poderia registrar ‘Se tu soubesse disso, ficaria calado?’, no lugar de soubesses, mas nunca registraria ‘Se tu soubece‘, ‘Se tu soubeces‘; agora, não erro de grafia, mas o assassinato do idioma.
Relativamente ao primeiro exemplo citado (eu faço), bom repetir que a primeira pessoa do singular, no presente do indicativo, termina com a desinência número-pessoal -o, que seja verbo regular ou irregular, exceto verbos que flexionam com a desinência -ou (sou, estou, vou).
Eu ponho, eu cumpro, eu venho, eu construo, eu voo, eu insiro, eu infrinjo, eu vislumbro (opcional o uso do pronome eu na frase, falada ou escrita).
Esse o motivo da pergunta do título: as terminações ‘o‘ e ‘ou‘ tão distintas, indicativas da pessoa e do tempo, têm duplo valor, gráfico e semântico: ao mesmo tempo, indicam a pessoa (desinência número-pessoal), mostram que não se trata de outro tempo, que não seria ‘passado’ ou ‘futuro’, mas o presente do indicativo, por isso, a afirmação de que a mesma terminação, após indicar a pessoa, também prova que estamos usando o verbo no presente do indicativo (em que a terminação tem o valor de uma desinência modo-temporal).
Esta análise pode não ter ficado muito clara, mas assim é que a Gramática Normativa ou Histórica determina: cada tempo tem sua terminação verbal, a desinência modo-temporal; cada pessoa, a desinência número-pessoal, exceto, em alguns casos, para eu e ele; tu -s, nós -mos, vós -ais, -eis, -is; eles -m.
Flexões de alguns verbos em tempos diferentes para facilitar a percepção das desinências pessoais e temporais.
Amo, amas, ama, amamos, amais, amam. Verbo amar no presente do indicativo.
Senti, sentiste, sentiu, sentimos, sentistes, sentiram. Sentir no pretérito perfeito do indicativo.
Vendia, vendias, vendia, vendíamos, vendíeis, vendiam. Vender no pretérito imperfeito do indicativo. Fixe isto: -ia indica o tempo (desinência modo-temporal); as terminações comprovam as pessoas verbais (desinências número-pessoais, podendo haver uma alteração aglutinada: íeis, para a segunda pessoa do plural).
Fizera, fizeras, fizera, fizéramos, fizéreis, fizeram. Verbo fazer no pretérito mais-que-perfeito do indicativo (tempo pouco usado).
Virei, virás, virá, viremos, vireis, virão. Vir no futuro do presente do indicativo. (Não o confunda com flexões do verbo virar.)
Diria, dirias, diria, diríamos, diríeis, diriam. Dizer no futuro do pretérito do indicativo. (Note que o tamanho da forma verbal ficou reduzida; ze, como de fazer, eu farei, foi eliminado.)
Que eu vá, que tu vás, que ele vá, que nós vamos, que vós vades, que eles vão. Ir no presente do subjuntivo.
Se eu puser, se tu puseres, se ele puser, se nós pusermos, se vós puserdes, se eles puserem. Pôr no futuro do subjuntivo. ‘Se’ indica dúvida. Poderia ser quando eu puser; ‘quando’ indica tempo.
Se eu viesse, se tu viesses, se ele viesse, se nós viéssemos, se vós viésseis, se eles viessem. Vir no pretérito imperfeito do subjuntivo. Fique atento: não use ‘vinhesse‘.
Dize tu, diga você, digamos nós, dizei vós, digam vocês. Dizer no imperativo afirmativo.
Não cumpras tu, não cumpra você, não cumpramos nós, não cumprais vós, não cumpram vocês.
Um abraço. Esse comentário pode sanar algumas dúvidas.
Obrigado.