Não. O acento agudo pode existir se esse composto é formado por justaposição com hífen (vídeo-chamada). Havendo a justaposição sem hífen (vídeochamada), acentuada graficamente, que vem sendo usada, o acento não pode ser mantido. Nesse caso, destaca-se como sílaba forte a do segundo elemento do substantivo composto, respeitada a pronúncia do primeiro, por isso, o acento agudo é desnecessário. Usam videomonitoramento, que poderia ser vídeo-monitoramento, mas videoplêier, videocassete, videoclipe, este vindo da grafia inglesa video clip. Observemos mais que o Inglês usa video camera, videodisc e videotape, que para nós devem ser: videocâmera ou vídeo-câmera, videodisco ou vídeo-disco, e videoteipe ou vídeo-teipe.
A (nossa) Gramática Normativa tem deixado uma brecha nesse aspecto, por isso, aparecem ‘pérolas’, que podem atrapalhar o cuidado com a Ortografia entre nós. Repitamos, então, que vídeochamada diverge da lógica. Entende-se que, se Gramática não cuida de explicar como deve ser grafada uma palavra, surgem dúvidas. Mas vídeochamada, não. O VOLP deve cuidar desse aspecto, e fica a dica para a pesquisa se o visitante considerá-la oportuna.
Nesse aspecto, já que temos grafias duplas ou variantes gráficas, podemos registrar videochamada ou vídeo-chamada, mas nunca vídeochamada. O composto hifenizado tem sílabas tônicas distintas: ví, da primeira palavra, e ma, da segunda; a forma não-regular, com a primeira palavra acentuada graficamente (acento agudo), não tem a sílaba tônica em ví; mas em ma, do segundo termo. Exatamente, por essa razão, não pode haver o acento agudo no primeiro elemento (o que já foi dito). Seria cabível a escrita pornôchanchada? Não. Escreve-se pornochanchada, como existe, ou pornô-chanchada, uma variante discutível.
Um veículo estampa o logotipo Sóbiscoitos (fictício, pois o nome era outro), que deve ter sido registrado como liberdade de expressão e marca comercial. Na lógica gramatical, essa grafia estaria fora do padrão em virtude do acento agudo. Seria Só-biscoitos ou Sobiscoitos. Quanto à escolha da empresa, percebe-se ter admitido que o elemento ‘so‘, sem acento gráfico, não representaria o aspecto semântico de que ela comercia ‘somente’ biscoitos, razão de ter acentuado o vocábulo, embora a sílaba tônica da expressão não esteja nele (mas em coi). Fora essa liberdade, a linguagem cotidiana escrita não pode inventar. Uma hipótese: Sóembalagens, liberdade de a empresa criar o logotipo, como marca de suas atividades, mas, gramaticalmente, Só-embalagens, que não foi a escolhida. Como vídeochamada não é marca comercial, obriga-se o redator a buscar a forma gramatical: vídeo-chamada, ou, na extremidade, videochamada (sem acento agudo).
Crie seu logotipo: Só-esfirras, Só-guloseimas, Só-tênis, Só-anéis de formatura.
O redator de hebdomadário pode criar ensaio-fotografia, que tem o mesmo valor semântico de ensaio fotográfico, assim como a loja cria moda-inverno, mas alguém prefere ‘summer sale‘, que seria, em aspecto livre, a venda de Verão. E mais: ensaio-reportagem, que não deve ser ensaiorreportagem, embora tenhamos contrarrega (antiga contra-regra). Por que não segurança-fantasma, se temos funcionário-fantasma, emprego-fantasma? Se existe homem-bomba, podemos usar veículo-vulcão, menino-cabeça, senhora-lobisomem.
Pode-se entender que algum redator confunda adjetivo ou substantivo com algum prefixo? Talvez. No caso de contrarregra, temos prefixo contra, como super em superamigo, trans em translúcido. O uso ultramoderno diz que fulana é trans, que é semanticamente correto, mas torna esse prefixo um substantivo ou adjetivo (ele, ela é trans; uma pessoa trans). Esse uso não é comum. Vem-se tornando uma expressão do neologismo. Alguém confundiria o termo vídeo como se fosse prefixo?
O bom-senso é o melhor norteador em momento assim: a ortografia deve ser respeitada, mesmo a persistir dúvida.
O caso em discussão dá a entender que o redator não quis usar o hífen, ou não teria certeza de sua necessidade, e manteve o acento agudo no primeiro termo da palavra composta criada: vídeochamada. Estaria admitindo que seriam usuais vídeomonitoramento e vídeogame? Houve engano.
Se o ‘gramaticalismo’ atrapalha, a brasilidade e a forma de grafia poderiam auxiliar o redator a escolher uma opção mais segura: vídeo-chamada, porque também já deve ter visto vídeo-monitoramento, da mesma forma que podemos usar vídeo-gueime, esta grafia aportuguesada, com base em video game (em que não usam acento agudo e hífen). A forma aportuguesada seria a melhor atitude, já que existem termos ingleses em abundância incorporados ao Português do Brasil, e boa maioria aportuguesada: futebol, voleibol, estresse, góspel, quíper (do Inglês keeper). Faça sua lista.
A grafia videogame, adotada entre nós, não atende à nossa ortoépia em nenhum momento: video é grafia inglesa; a nossa, vídeo (com o agudo); game é deles, cuja pronúncia não é a da fonologia brasileira. Poderia ser gueime? Mas não é charmosa, razão de ter sido desprezada. Ademais, na forma inglesa, os termos são separados: video game.
A forma adotada para nós, videogame, não é inglesa como não é nossa nem está aportuguesada, razão que deixa um espaço vazio na nossa aprendizagem. Fugimos da deles e não temos uma nossa de acordo com nossa Fonética. Isso não é bom.
Discordam? Sabemos disso. Lembre que preferem Nova York a Nova Iorque, e usamos nova-iorquino. Poderíamos usar nova-yorkino? Há um disparate nesse aspecto, razão de uma série de chacotas sobre a nossa conturbada ortografia: chata, difícil etc., e até ‘incorreta’. Chega-se ao ponto de se dizer que o redator faz como quer. Por isso, a miscelânea.
Se quisermos, podemos aportuguesar ‘windows’ para uindous ou uindôs? Uma vez que se usa tuíte, tuitar, suingue, pode-se admitir que seria lógica a grafia bêicon, de bacon, já que temos íon, nêutron, próton, abdômen e mais uma vintena deles. Por que não?
As dúvidas surgem porque é charme usar um termo inglês quando se poderia fazer uso de outro em Português, talvez, até mais bonito e mais claro? Uma dupla artística, em qualquer área, divulgaria que Pedrito e Cachola fizeram um feat para publicar um livro de crônicas sobre o Futurismo no Brasil, que retrata aspectos da Semana de Arte Moderna, acontecida em 1922, quando deveria apenas usar ‘um acordo‘ (bom para ambas as partes).
Por que feat e não acordo? Por que esse hábito de virtuose cultural? Não está havendo um desprezo ao idioma oficial desta Nação?
‘Nóis vai nus vê’ na próxima.