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Certas palavras parecidas não seriam parônimos nem homônimos, e precisam de muita atenção para o uso adequado

São muitas palavras e nem todas seriam conhecidas. Confrontadas, precisa-se de boa definição e de bom conhecimento linguístico. Quanto ao uso individual, vez por outra, entretanto, o risco de erro seria menor, embora se possa confundir uma com outra.

Aréola pode ser confundida com auréola (tetrassílabos proparoxítonos).

São muito próximas pela grafia, o primeiro impacto, e pela pronúncia, que precisa ser si-la-ba-da, a fim de que se busque diferença entre elas.

Não seria comum a Gramática Normativa (a escrita ou física) fazer a devida comparação entre ambas. O dicionário, sim, define-as adequadamente.

Aréola é uma pequena área, de um terreno, de um objeto, e comumente, como a palavra pode ser aplicada em outra significação, vem a ideia de uma pequena imagem, de um objeto, até de uma ‘mancha’.

No aspecto da evolução semântica (quando a palavra passa a ser aplicada com outro ou novo significado), aréola é a mancha escura envolta no mamilo do seio de uma mulher. Mamilo, saliência arredondada que lembre o bico da mama.

Encontram-se em dicionários duas definições basilares nesse último aspecto: ‘Círculo de cor mais escura que rodeia o mamilo do seio’; ‘Círculo, geralmente rosa, que contorna um ponto inflamatório’ (em qualquer parte do corpo humano).

Seria comum pessoas falarem que uma parte do corpo (tórax, barriga, coxa) tem uma ‘roda’ ou ‘rodela’ avermelhada que dói um pouco (uma senhora teve gripe forte, fez tratamento, mas ficou com ‘rodas manchadas’ em todo o corpo, e doíam muito, mostrando-as).

Roda ou rodela, mancha etc., sim, o mesmo que ‘aréola’, termo pouco usado no cotidiano. Seria isso.

E como vamos entender a palavra auréola? Se nos atentarmos, notamos no seu radical esta parte: ‘aureo‘, que teria relação com ‘áureo’, do ouro, da cor do ouro (dourado), que brilha, por isso, chamada auréola: ‘halo luminoso com que os pintores frequentemente circundam a cabeça de Deus, da Virgem e dos santos’, extraída de um dicionário; halo é o mesmo que ‘círculo’, um de seus sinônimos.

Figuradamente, halo, ou auréola, significa ‘glória, suntuosidade, prestígio, brilho forte’, ‘espécie de coroa’, que aparece em muitas imagens de santos e santas.

No dia a dia, podem surgir à nossa frente basilar e basear; enformar e informar; alternado e altercado; paisinho e paizinho; legado e ligado; comecinho e comercinho; fralda e frauda. Cupido e cúpido.

A relação é grandinha, e cada leitor pode fazer a sua.

Paisinho é o diminutivo pejorativo de país, muito usado entre nós quando dizem: Eta! Paisinho desgraçado, falando mal desta Nação. Um norte-americano, chamado por alguns gringo, que roda por parte do Brasil, elogia muito o País, mas diz que o brasileiro fala mal de sua terra, e que esse mesmo falante não gosta de que falem mal do Brasil.

O gringo achou isso meio estranho.

Certo em parte, e ‘desconhecedor’ de costumes em outra plaga. Da mesma forma, se o brasileiro estiver nos ‘States’ e falar mal do povo de lá, pode ser repreendido. O visitante deve ficar calado por questão de Ética, de respeito ou de precaução. Quem pode falar mal ‘é o dono da terra’; o forasteiro, não.

O membro de uma família pode falar mal de alguém de seu clã (‘porque é justo, porque fala a verdade’), mas não gostaria de que alguém falasse mal, nem um tiquinho, de algum parente dele. Vemos que filhos falam mal dos pais, mas não gostam de que falem mal dessas mesmas pessoas (seus pais).

Já ouvimos esta frase: ‘Brasileiro é uma b., só fecha a porta depois de roubado’, que não pode ser generalizada, e nem sempre, ao sermos roubados, é porque as portas estariam abertas; furtam e/ou roubam-nos mesmo com as portas fechadas. Arrombam-nas ou entram pelo telhado (furam até lajes). ‘Adepois’, o descuido de uma porta aberta acontece no dia a dia, e não seria hábito, em muitos países do Mundo. O fato triste de criança cair em cisterna e buraco profundo não seria um descuido? Por que esses locais não são cobertos, tapados ou tampados? Tapado o buraco é porque se jogou algo nele que o entupisse; tampado o local é porque tinha a própria ‘tampa’ (como a da panela) para ser fechado; coberto é porque se arranja certo material que sirva de ‘fecho’ ou ‘fechamento’, embora não muito adequado, ou feito provisoriamente (coberto com uma lona, por enquanto).

Paizinho é o diminutivo afetivo de pai, assim como se usa papai, painho, papaizinho, da mesma forma do uso de mãezinha, mamãezinha, mainha etc. Se esse tratamento é familiar, e muito pessoal, falar mal de seus parentes também, e nunca seria ‘direito’ do outro, porque estaria incorrendo em erro, discriminação ou antiética, por isso, falar mal de um país, por um estrangeiro, na casa de seu povo, ‘na cara’ das pessoas, não é boa atitude (alguém teria que ensinar esse bom comportamento ao gringo ianque que ora nos visita). Essa explicação estaria pronta na ponta da língua de um sociólogo, antropólogo ou psicólogo especialista em relações inter-humanas e internacionais, para explicar o mau comportamento de um visitante a uma Nação.

“Não é isso, Terta?”, teria dito uma personagem da Dramaturgia brasileira.

A relação de palavras escolhidas por este debatedor é um pouco extensa, e podem aparecer em algum momento nesta coluna.

Hoje, apenas, o chamamento para o devido cuidado com palavras assim, algo útil, que serve de aprendizagem. (?) Compare ceroso com seroso, cauda com calda (homônimos homófonos) e muitas variantes gráficas: imbu e umbu; e Embu-Guaçu (cidade paulista); embuia e imbuia, embuí e embuim (árvores), assim como embaúba (grafia do dicionário) e imbaúba, pronúncia popular (comumente). O funil com que se envasilha o vinho é chamado embude ou embudo.

Fica assim.

Divulgando um pouco de Colóquio com o silêncio, minha décima obra de poesia, este poemeto (página 38):

 

Oportunidade

 

Acordei hoje tardio tão apressado,

que não vislumbrei o Sol a nascer.

Meu olhar anda um tanto nublado

mesmo sob a luz clara a florescer.

A pressa me rouba a vez de pensar,

tira-me toda a capacidade de refletir,

batente morto na enxurrada amorosa

pela angústia nata de o não-perquirir.

 

Obrigado se ‘guentou’ até aqui.

 

 

 

 

 

João Carlos de Oliveira

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