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Mussarela ou muçarela? Maizena ou maisena? Cardial ou cardeal? Quem é quem? O que a GN nos diz?

Num momento, podemos ter dúvida de grafar uma palavra.

O registro de patente, ou de direito autoral, pode permitir a grafia especial, uma inovação ou neologismo, o que leva tempo a se explicar ou diferenciar da ‘normalidade’.

O logotipo, ou marca comercial, tem trazido novidades, o que vemos em siglas e nomes de produtos no dia a dia. Não vale registrar esses exemplos aqui, pelo direito autoral de quem o criou e/ou da empresa, respeitado o anonimato. Isso não vem ao caso de hoje, nem essas formas inovadoras de grafias seriam consideradas como errôneas.

O momento é de buscar o que está registrado nos dicionários, e ver se combina com a propaganda cotidiana de produtos. Algum caso pode ser a marca registrada, e o outro, a grafia etimológica, conforme está em livros.

Muito salutar dizer que o professor Antônio Houaiss, grande etimólogo, tem trabalhos notórios nesse campo, comparando, inclusive, o que se diz na linguagem coloquial e o que seria a gramatical, inclusive comentando possíveis variantes gráficas. Muito interessantes os registros desse mestre.

Maisena, a grafia registrada em nossas gramáticas e dicionários, vem de ‘maís’, que nasceu do Taino ‘mahisí’ (língua indígena antilhana), via Castelhano, com o significado de milho. Maisal é o mesmo que milharal.

Maizena, marca comercial, de origem americana (?), é nascida de maize. Eles usam, também, corn, palavra paralela, para milho. O amido de milho, ou maisena (para nós), e maizena (para eles). Maisena, hoje, seria normal entre nós, devido a várias empresas que produzem esse produto, mas o chamam simplesmente de amido de milho, o mesmo da marca tradicional maizena, grafia conhecida da maioria.

Nossa visão é a de que se pedirmos ao alunado que escreva a palavra, depois de pronunciá-la, certamente, escreveriam maizena, porque a viram na caixa do produto, e não porque a pesquisaram no dicionário, onde está maisena, e muitos não conheceriam esta. Houve um caso comigo, dando aulas no Ensino Médio, há anos, em que certo aluno disse não acreditar na minha explicação, porque, se estava na caixa, era assim o modo correto de escrever no Português (brasileiro).

Nossa grafia é maisena.

Podemos dar uma pincelada rápida em alguns casos.

Berinjela, para nós; no Português de Portugal, beringela, como dizem alguns compêndios. E não se discute isso com eles, que não aceitariam nossa explicação. Berinjela é palavra de origem árabe, que tem grafia similar em idiomas de vasto uso.

Em Inglês, aubergine (possível pronúncia ‘ôbergaine’); em Francês, aubergine (possível pronúncia ‘ôbergíne’); em Alemão, Aubergine (com maiúscula para eles, porque seria nome próprio, e de pronúncia difícil para aqueles que não falam nem escrevem o idioma germânico); em Italiano, melanzana (grafia que nada tem a ver com a raiz árabe), e em Espanhol, berenjena (possível pronúncia ‘berenrena’), grafia muito próxima da nossa, mas a castelhana tem bonita aparência.

Cabível dizer que a grafia portuguesa, beringela, teria a influência de três idiomas próximos: o g das grafias inglesa, francesa e alemã.

Nossos léxicos registram que berinjela vem do Árabe badinjana, planta de origem da Índia, de flores roxas, cujos frutos são bagas carnudas com forma oval e cilíndrica, utilizados na alimentação. O fruto dessa planta.

Há pratos deliciosos com berinjela, mas não seria fácil serem encontrados em restaurante popular. Ops! Por favor, não pronuncie ‘restorante’. Se for aceita essa pronúncia como ‘correta’, ou normal, preferiria este comentarista as pronúncias ‘largata’ e ‘largatixa’ do Português coloquial, ainda em uso em muitos lugarejos. Alguns dizem ‘melencia’, mas não seria tão bonito a linguagem culta oral dizer ‘mixirica’. De mexer, que gera mexerico, temos mexerica. Note ainda que um tipo de laranja parecida, que não é mexerica, é a poncã, e não ‘pokan’, como grafam alguns.

Jiló ou giló, excessão ou exceção? Jiló e exceção.

Notamos que muitos escrevem ‘benção’ no lugar de ‘bênção’. Por que alguns escrevem ‘kilômetro’ e ‘kilo’ no lugar de ‘quilômetro’ e ‘quilo’? Não se justifica essa grafia em virtude da abreviatura km e kg (respectivamente). É preciso dizer que a grafia da forma extensa não toma por base a da abreviatura.

Importante dizer que existem as variantes gráficas mobiliar, mobilar e mobilhar; descarrilhar e descarrilar; relampejar e relampear; trovejar e trovoar; endoidar e endoudar; pernoitar e pernoutar; como temos zângão e zangão; acróbata e acrobata; amnésia (muito usado) e amnesia (am-ne-si-a, menos usado); sóror e soror; réptil (plural: répteis) e reptil (plural: rep-tis); projétil (plural: projéteis) e projetil (plural: projetis).

Vamos fechar o cerco de hoje.

Cardeal é adjetivo com o significado de importante, principal, fundamental, por isso, é usada a expressão pontos cardeais (Norte, Sul, Leste, Oeste). Como substantivo masculino, Cardeal é o Membro do Sacro Colégio, que elege o Papa, e seu mais próximo colaborador. Cardeal é, ainda, a linda ave, endêmica no Nordeste, e que existe em outras partes do Brasil. Seu topete vermelho é lindo e chamativo. Essa ave tem outros nomes Brasil afora, como na Argentina e Paraguai.

Cardial (adjetivo) é cárdico, relativo à cárdia, com o sentido de cardíaco. (Isso basta.)

Mussarela aparece em abundância como nome de queijo, mas a grafia, como determina a Gramática Normativa, é muçarela, que se origina do vocábulo ‘mozzarella’, do Italiano, razão por que se pode usar mozarela, que não é popular.

Bom repetir a grafia comercial (mussarela), a gramatical (muçarela) e uma variante pouco usual (mozarela). Bom se grafar ‘Muçarela de búfala’, como fez o comercial de loja de laticínios, mas o preço amargo. Alguns querem dizer que preços altos ‘são os olhos da cara’ para dizerem que são exorbitantes.

E por que a grafia muçarela é melhor? Porque esse tipo de queijo é exatamente de origem italiana, para eles, mozzarella, que nos deu mozarela, que não pegou, e agora, muçarela, pelo fato de que o z italiano, com base na pronúncia deles, se tornou ç para nós. Essa justificativa também se fundamenta nas grafias mozárabe e moçárabe, usadas no Português do Brasil.

O agradecimento deste poeta-advogado. Já leu Crônicas do vovô? Pergunte à Editora Scortecci quanto custa esse livrinho de crônicas. Uma reportagem feita pelo poeta Zarfeg, da Academia Teixeirense de Letras, sobre essa produção de João Carlos de Oliveira, é verdadeira obra de arte (literária). João Carlos escreve mais poesias: O dia que nunca acaba, Colóquio com o silêncio (as mais recentes).

Obrigado pela leitura.

João Carlos de Oliveira

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