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Estaria correto o uso das expressões ‘mas porém’ e ‘mas no entanto’, que alguns têm usado na linguagem coloquial?

Muita rico o falar espontâneo, simples, com o gosto de cafezinho quente, tão natural quanto tomar água na fonte e se deleitar com as imagens da Natureza ao derredor.

O pássaro que canta, o boi que pasta, o pingo de chuva que cai e molha nossa testa lisa, e depois passamos a mão para enxugar. Ainda bem que, nesse momento, não estamos ali para reclamar de um Sol tórrido, do vento que sopra na folhagem, de uma árvore nua que não tem um galho frondoso para nos dar uma sombra benfazeja.

Se algum fato nos chama a atenção, pela falta disso ou daquilo, a culpa é humana, e não da campina que tem uma linda imagem, e nunca essa reclamação iria recair na ladeira íngreme que vemos em nossa frente ou num capão de mata virgem com muitos espinhos, quase impenetrável.

A Natureza tem suas funções primordiais, e todas têm os porquês dos quais não devemos reclamar.

Melhor que o ser humano saiba avaliar que ‘Quem prejudica a Natureza pratica crime que causa danos ao bem coletivo, ao direito de todos e, ainda, por prejudicar os futuros habitantes do Planeta, qualquer que seja a região do Orbe’.

Haveria, por incrível que pareça, quem possa contestar essa argumentação ou tese, uma vez que cada cabeçorra tem suas peculiaridades.

Agora, para não delongar o comentário, vamos ao título.

Mas, conjunção coordenativa adversativa, tão popular, que não pode ser confundida com o advérbio mais, tem suas parceiras: todavia, contudo, entretanto, no entanto, porém.

Porém é sinonímica de mas, e vice-versa. Certo é que elas se intercalam da melhor maneira possível e vão sendo usadas no dia a dia, tanto no contexto culto e erudito quanto no popular, falado e escrito,

O nível do falante ou escrevente não importa, bom é que sejam usadas com classe, elegância, em frase curta ou longa, mas segura, sem deixar margem de dúvida, sem dubiedade ou frescura.

Manuel, fui à sua casa, mas não o encontrei. Onde você andava?

Manuel, fui à sua casa, porém, não o encontrei. Onde você andava?

Manuel, fui à sua casa, entretanto, não o encontrei. Onde você andava?

Manuel, fui à sua casa, no entanto, não o encontrei. Onde você andava?

Manuel, fui à sua casa, todavia, não o encontrei. Onde você andava?

Manuel, fui à sua casa, contudo, não o encontrei. Onde você andava?

Estão aí no seu devido lugar e momento certo de uso, como se fossem ‘modelos’ de como deveriam aparecer na linguagem, falada ou escrita. Não exatamente nessa ordem.

Cada usuário tem suas frases, e agora você pode criar as suas. O que não vale é repeti-las no mesmo momento, seguidamente, como se uma fosse o contrário da outra. O ‘mas porém’ é desnecessário; do mesmo modo, o ‘mas no entanto’, assim como: mas todavia, mas contudo, mas entretanto etc.

Para que essa repetição, que tem o mesmo sentido? Parece que alguns acham essa construção charmosa.

Esse uso seria comum por que denota um linguajar chique? Por que a pessoa não tem dimensão de que cada uma trata da mesma coisa? Mais resposta: uma conjunção é sinônima da outra, motivo por que não se deve usar a expressão mas porém.

Aliás, seria por esse motivo que alguns as colocam juntinhas na mesma frase, em expressões curtas? Seria um reforço para realçar a fala?

Esse uso cria um pleonasmo barato, ou vicioso, do tipo sair para fora, entrar para dentro, descer para baixo, subir para cima, ou dizer ‘outra alternativa’, se a palavra alternativa já contém o sentido de outra (alter é o mesmo que outro, a).

O que pode chamar a atenção é a virgulação nessas frases.

Note, claramente, que somente ‘mas’ não foi usada com duas vírgulas, uma antes e outra depois. Assim, vemos nas grandes obras, com uma pausa mais dilatada: Fui… mas não o encontrei. (A reticência substitui a vírgula.)

E as cinco seguintes, suas parceiras, sinônimas e substitutas, são intercaladas, na maioria das vezes, com duas vírgulas (antes e depois), cujo uso não estaria explicitado exatamente assim nas normas gramaticais.

A praxe, ao que nos parece, é que determina o critério pessoal.

Mas podemos, sim, por outro lado, ou para contrariar o uso de apenas uma vírgula, fincar a linguagem com o uso de duas: João, fui lá, mas, você, meu caro, não estava em casa. Por quê? O que houve?

Isso indica que o estilo é que é o determinante do uso das conjunções coordenativas adversativas com uma ou duas vírgulas. Bom assim, vez que a frase fique supimpa, clara, objetiva, bonita e poética.

O que não deve, mesmo, na opiniãozinha deste escrevinhador, é que sejam usadas seguidas: uma após outra, na mesma horinha, na mesma frase.

O modelo mas porém, mas no entanto é perda de tempo, o que empobreceria a linguagem.

Tasque lá: mas não foi dessa vez; porém, não deu certo; todavia, o homem fugiu; no entanto, ‘tava’ tudo fechado; contudo, houve um bom momento para conversarmos; entretanto, a ideia foi boa.

As seis foram usadas? Conte e veja. Seria ideal as memorizarmos, e assim ficaria mais bonita nossa expressão, se não estou exigindo demais.

Isso ajudaria a evitar a repetição.

Bom que não se confunda alguma dessas seis com ‘portanto, logo, pois, pois que, porque’, de caráter conclusivo ou explicativo. Uma boa consulta à Gramática Normativa auxilia em muitos esclarecimentos.

Para fechar hoje,

Como você diz garrucha ou garruncha? (Exclua a última grafia.)

Desjejum ou dejejum? (Use os dois como quiser.)

Chinelo ou chinela? (O Regionalismo é que determina a escolha.)

Porrete ou porreta? (O primeiro é diminutivo de ‘porra’, com o sentido de pau, cacete; porreta, algo bacana.)

Manoel ou Manuel? (A escolha é sua; a primeira grafia seria anterior, e assim alguém foi registrado, o que devemos respeitar; Manuel estaria de acordo com a Gramática vigente.)

Estrambótico ou estrambólico? (O primeiro é do Português culto; o segundo, da fala popular.)

Chamego ou xamego? (Com ch, como determina o léxico; com x seria falsa grafia, ou pseudografia.)

Tá bom assim? Abraços.

 

 

João Carlos de Oliveira

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