0

O texto sobre a reinauguração da loja teria registrado ‘(…) presando os clientes’ (sic) para dizer que seu objetivo é ‘prezar os clientes’

Presando os clientes ou prezando os clientes?

Se quiser distinguir de chofre, sem comentário, basta dizer: A loja não vai desprezar os clientes. Vai prezá-los.

Justo que essa não seria a intenção da mensagem, mas ‘presar os clientes’ é prendê-los, e ‘prezá-los’, admirá-los, gostar muito deles.

O léxico nos ensina que o verbo prezar, muito conhecido e usado, da família de prezado (querido, admirado), vem do verbo latino pretiare, com o elegante significado de estimar muito, ter em alta consideração, reverenciar, respeitar, querer bem, entre outros sinônimos.

Presar, por seu aspecto gráfico, como derivado sufixal, vem do termo presa, que em Latim é praeda (pronúncia ‘prêda’, aproximadamente). Podemos usar ‘presado’: O animal tinha sido presado (apreendido, acorrentado, capturado).

De forma comparativa, podem ser usados os dois verbos neste aspecto ou algo similar: Os amigos, prezo-os muito. Os galináceos (perus, patos, galinhas e outros), preso-os no poleiro (prendo-os).

Presa é a pessoa ou coisa que se prendeu. João é presa fácil da maldade de sua companheira. A capivara é a presa preferida da onça-pintada no Pantanal. (A onça-pintada é o maior predador da capivara.)

Pela relação de palavra primitiva e derivados, ou pela lista de palavras da família etimológica, podemos entender melhor cada caso. Se usamos com abundância ‘Prezado Senhor, Prezada Senhora, Prezados Amigos’, ficaria fácil diferenciar semanticamente uma palavra da outra. Prezar, prezado, prezador (aquele que preza, o admirador); conheça prézea, joia de estimação, palavra em desuso. Se for do seu agrado, tasque lá no bilhete ao amigo: Prezável amigo Amadeu, estou aqui às suas ordens (admirável, estimável).

presa, aceita por filólogos que se origina do Latim prehensa, com o significado de ‘o ato de apresar ou apreender‘. Apresar é o mesmo que presar, ambos de pouco uso no dia a dia.

Uma relação dessas palavras: presa, presar, presado, presador, apresar, apresado, apresador (o animal que captura o outro). A presa é ‘aquilo de que o animal carniceiro se apodera para se alimentar’, numa frase incomum. O animal capturado é o presado; o outro, o presador, ou apresador. Depois desses aspectos gráfico-semânticos, o adjetivo preso se sobressai. O meliante foi preso. A PM tinha prendido o meliante.

Claro que não seria tão fácil guardamos esses termos assim como foram mostrados, mas a partir da comparação de prezar com presar (ou apresar), consultando-se algum compêndio, ainda pelo fato de um professor de Língua Portuguesa estar acostumado com esse estudo, podemos relacionar estas palavras.

Presar e prezar são homônimos homófonos, assim como presado e prezado, preso e prezo, apresador e aprezador.

Essa comparação pode ajudar a quem precisa diferenciar um vocábulo de outro, primeiro pela grafia, segundo pelo significado.

Repetimos que presar e prezar são homônimos homófonos, cujas grafias são diferentes, e a pronúncia, a mesma.

O conceito gramatical preceitua: homônimo homófono, o grupo de dois ou mais vocábulos escritos de forma diferente, mas com a mesma pronúncia.

Exemplos clássicos: seção, sessão, cessão; taxa e tacha; voz e vós; nós e noz: incipiente e insipiente; era e hera.

De bom alvitre, ainda a relação dos seguintes exemplos:

acender (atear fogo) e ascender (elevar-se);

acento (sinal gráfico) e assento (banco);

acerto (precisão) e asserto (afirmação);

apreçar (saber o preço) e apressar (acelerar);

área (superfície) e ária (cantiga);

arrear (selar a cavalgadura, pôr os arreios) e arriar (baixar);

arrochar (apertar) e arroxar (ficar roxo, tornar roxo);

ás (carta do jogo, pessoa notável, perito), az (esquadrão);

caçar (perseguir o animal, abater, apanhar) e cassar (invalidar);

carear (confrontar, acarear, ficar frente a frente) e cariar (criar cárie);

cegar (privar da visão) e segar (ceifar, matar);

cela (cubículo, prisão) e sela (arreio, peça da montaria);

censo (recenseamento) e senso (juízo);

cerrar (fechar) e serrar (cortar, serrear).

A lista é grande. Fiquemos agora com algumas frases (sem explicá-las).

O comércio foi cerrado às 18 horas. O caibro foi serrado ao meio.

O comércio cerra as portas às 18 horas. O homem serra a madeira.

Vou espiar quem passa aqui. Vamos expiar nossa culpa, haja o que houver, se estamos fazendo o mal a alguém.

A sexta é a véspera do sábado, e a cesta está cheia de gatos, sabidos, o que forma um balaio de gatos, todos astutos.

O laço ficou muito apertado. O menino lasso tem medo até de barata.

O passo seguro nos leva ao ponto certo. O Paço Municipal está fechado.

Pedro foi tachado de malandro, e não gostou. O arroz foi taxado em 25 por cento, por isso, caro. O ICMS é que encarece as mercadorias na maioria das vezes. Por que o Estado tem tanta ganância?

E lá se vão outros exemplos. Bom seria que você crie suas próprias frases, e na dúvida consulte a Gramática ou o dicionário, que, na próxima etapa, não vai errar, ou vai errar menos.

Relembre: palavras homônimas homófonas são as que têm pronúncia igual e grafia diferente. A paz deve ser uma meta de governo. As pás são usadas para apanhar lixo. Sua vez é agora. Tu vês o que os olhos não enxergam e os ouvidos não escutam.

Mas… Ruim quando alguém escreve que O redator foi ‘taxado’ de incompetente.

Péssimo quando criticam o analfabeto por usar ‘Dez Real’, mas o letrado escreve que estuda um segundo ‘indioma’, depois do Português. Poético quando a criança diz que está em frente da ‘ingreja’, e que vai ‘na’ missa.

Fiquemos por aqui. Amanhã, vou pôr aqui um texto mais curto. Certo? ‘Bute’ tudo no lugar certinho, meu professor (diria a ex-aluna Maria das Pedras Altas da Cachola Arredondada).

Obrigado.

 

 

 

João Carlos de Oliveira

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *