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A tragédia; a morte trágica; o terremoto devastador; o acidente fatídico

O dia a dia da linguagem adverte que podemos, ou costumamos, confundir o significado de palavras ou lhes damos a dimensão exagerada ou incabível.

Esse hábito altera a semântica de termos que usamos, e muitos passam a ter um sentido ‘novo’, impróprio para alguns casos ou momentos.

O uso de um termo pode gerar dúvidas ou enganos, que vão se repetindo, dando uma falsa imagem ou um falso significado a uma palavra, o que não é bom.

Nem toda morte constitui tragédia. Podemos contestar?

O que é uma tragédia? A História Universal tem muitos relatos dessas ocorrências funestas. A destruição de Sodoma e Gomorra foi uma tragédia. A morte trágica de um rei não teria sido tragédia, mas parece que pode haver essa visão, se o rei é querido do povo.

Na modernidade, acontecem desastres de todos os tipos, mas nem todos seriam tragédias. O avião que caiu em pleno Oceano Atlântico constitui tragédia? Se o número de mortos é elevado, sim, juntadas todas as outras circunstâncias.

A batida frontal entre dois veículos constitui tragédia? Pelo aspecto sinonímico puro e simples, não; mas a depender da carga emocional que atinge pessoas conhecidas, sim, e pela grande comoção causada nos admiradores dos entes falecidos, queridos e famosos. Por não querermos aceitar os fatos, nossos sentimentos extrapolam e comentamos os acontecimentos com pleno calor humano, o que nos abala, e dizemos que houve, realmente, uma tragédia.

O dicionário relata que a tragédia é um acontecimento funesto, como a catástrofe. Esse momento, que nos toca profundamente, faz com que nossos sentimentos se aflorem, e choramos, gritamos de dor, ficamos imersos a um torpor que nãos sabemos definir. Por que isso? Porque o teatro nos pôs essa dor profunda em prática, porque os autores e intérpretes da peça teatral sabem nos comover, sabem dar o recado de que devemos ter compaixão com o que é fatídico.

O que fez, e ainda faz, o teatro ao interpretar as grandes peças de autores consagrados, cujos nomes não precisam ser citados? A função teatral, dissecando a vida de personagens ilustres, mesmo que algo se mantenha no aspecto mitológico, tem o condão de provocar a piedade, a dor, o sentimento, e as lágrimas vêm a lume, derramadas em faces trêmulas, com imagens tristonhas, isso por meio das compaixões humanas, de tudo que traz consequências fatais; é assim que as catástrofes nos atingem. E o terror nos pode abalar.

Esse o gênero dramático, que o transferimos ao nosso cotidiano, já que fatos funestos acontecem. O horroroso incêndio no Edifício Joelma, em SP, há anos, foi uma tragédia, literalmente, inaceitável, que nos comoveu de corpo e alma, dos pés à cabeça, deixando-nos impotentes. E nos resta entregar tudo nas mãos de Deus, e dizer que os desígnios divinos devem ser aceitos como acontecem, sem jogarmos a culpa no Supremo Poder Eterno.

O tsunâmi (grafia possível e aceita, na tentativa de aportuguesamento da palavra) constitui uma tragédia, mas o mar em si não é o culpado, talvez, o efeito-estufa gerado pelas ações humanas. Torçamos que não haja outros.

De quem é a culpa? (Este comentarista não se atreve a dar uma resposta.)

O homem, ao destruir a Natureza, como vem abundantemente acontecendo, coloca-a em alerta, e ela pode reagir, ou reage de fato.

Grandiosa a análise de uma autoridade voltada ao sofrimento do Meio-Ambiente, que deixou registrada alguma coisa similar a este enunciado: “Não se deve tirar da Natureza mais do que ela possa produzir; não se deve jogar na Natureza mais do que ela possa consumir”, cuja dimensão ainda não está sendo levada em conta como deve. O homem continua a destruir os bens renováveis, ou não, a consumir água em excesso, a produzir em excesso o que nem sempre é utilizável, a esbanjar. O ser humano comete excessos. E vêm os danos, as catástrofes, as intempéries, os casos fatídicos, a que se vem dando o nome de tragédia.

Por que tanto lixo nos mares? Por que algum oceano já tem ‘ilha formada de plástico’, um bolsão de lixo boiando em suas águas antes límpidas?

Não tememos a reação da Natureza, e continuamos a degradá-la, jogando a culpa na própria Mãe que nos protege. A culpa não é dela, mas nossa, culpa do ser humano.

Os termos usados no título desta publicação não têm o mesmo aspecto semântico, isso é lógico. Apenas, teriam entre si uma relação sinonímica, mas um acontecimento fatídico, como o encontro em pleno ar de duas aeronaves, pode não ser tragédia, se não envolver um número incompreensível de danos materiais e humanos.

Doloroso perdemos entes queridos nas estradas, mas nem todos nos precavemos, além de sofrermos o inesperado, o infortúnio, o acontecimento funesto, a desgraça. O homem tem culpa? Certo é que não se deve jogar a culpa, sempre, na Natureza. Uma avalanche do gelo no Himalaia é uma tragédia? Havendo mortes inexplicáveis, que chocam todo o Mundo, assim a podemos considerar. A avalanche deve vir acontecendo há séculos, e naqueles tempos pré-históricos não seria tragédia, e sim as reações da Natureza, a que podemos chamar de intempéries, como o frio, o degelo. O rigor da condições climáticas vai ser maior se o ser humano continuar a interferir na Natureza. O desvio de mananciais pode causar tragédias? O tempo nos dará a resposta cabível.

Paremos por aqui, deixando a critério de outrem, de outras pessoas, uma análise mais profunda. O objetivo maior foi chamar a atenção das ações do ser humano na Natureza, atitudes que nos podem trazer a tragédia, termo que está conceituado de forma incompleta no dicionário, e ainda de forma indevida no dia a dia.

A tragédia é um acontecimento funesto de grandes proporções, como uma guerra, mas a culpa não é da Natureza, mas do ser humano. A pintura célebre Guernica, do estrondoso Pablo Picasso, espanhol que merece ovações de todos nós, ainda não serviu de alerta para mandatários do Mundo. Suas cores e imagens são assombrosas, apesar de serem Arte, o que de fato vale mais que palavras, e suas advertências não estão sendo seguidas.

Por que a guerra?

João Carlos de Oliveira

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